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Putin e Rússia enfrentam crise muito grave na Bielorrússia

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Gustavo Galvão
Gustavo Galvão
Gustavo Galvão. Economista e Doutor em Economia pela UFRJ. Autor do livro "Finanças Funcionais e a Teoria da Moeda Moderna" (clique aqui para ver ou comprar https://www.amazon.com.br/Finanças-Funcionais-Teoria-Moeda-Moderna-ebook/dp/B08BKTNFDJ) e do livro que será publicado no primeiro trimestre de 2021: "Problemas, Limites e Oportunidades das Finanças Funcionais e da Teoria da Moeda Moderna – MMT: Inflação, Câmbio e Restrição Externa"

Alguns dos meus leitores de longa data terão talvez percebido que raramente – ou nunca! – escrevo sobre a Bielorrússia ou o Presidente Lukashenko. Como sempre nesse blog, sempre há motivo pelo qual menciono, como também sempre há motivo pelo qual não menciono, algum tema.

No caso da Bielorrússia[1] ou de Lukashenko, o motivo pelo qual não escrevi foi exatamente o mesmo pelo qual nunca escrevi sobre a Ucrânia antes de 2013: não me inspiravam a escrever e, sobretudo, me desgostava tudo que via acontecer ali. E nada me preocupava o suficiente para me mobilizar a escrever. No caso da Ucrânia, tudo mudou com os eventos de Euromaidan.

Nesse momento, os acontecimentos na Bielorrússia obrigam-me a abordar esse assunto muito desagradável: a Bielorrússia enfrenta crise complexa e perigosa que pode muito bem levar a crise muito maior, até mesmo ao fim da soberania nacional. Mas antes de analisar o que houve, permitam-me uma breve introdução sobre a Bielorrússia.

Eis o que penso e todos deveriam saber sobre esse país:

A Bielorrússia é criação totalmente artificial, ainda mais artificial que a Ucrânia. Pelo menos na Ucrânia havia “ocidentais” – os galicianos – que na verdade não eram russos. Podem pensar neles como “os ucranianos autênticos” se quiserem – e daí o ódio por tudo que seja russo, tão furioso quanto o dos Interahamwe de Ruanda. Na Bielorrússia, por sua vez, não há equivalente significativo aos Banderitas.

Lukashenko não era mais pró-russos que Yanukovych. Esse fator é crucial. Lukashenko sempre foi pró-Lukashenko, não pró-Rússia. Lukashenko e o Ocidente gostam de dizer que a Bielorrússia seria o único verdadeiro aliado da Rússia. Errado. Tecnicamente, Rússia e Bielorrússia são Estados da mesma união supranacional. Mas, sim, é verdade que várias vezes Lukashenko tentou usar a identidade histórica entre os povos russo e bielorrusso para exigir que a Rússia o ajudasse. E até recentemente, a Rússia, sim, o ajudou.

Como país, a Bielorrússia é estado policial quase perfeito, com sua KGB – sim, na Bielorrússia mantiveram o nome – extremamente capaz e temida que controla tudo e todos. Esse também é fator crucialmente importante, pelas razões que explicarei a seguir.

Quanto ao Kremlin, sempre quis promover a reunificação com a Bielorrússia, mas o processo nunca foi totalmente concluído devido a problemas continuados, crises, entre Moscou e Minsk. A Rússia despejou enormes somas de dinheiro para evitar o colapso da sociedade bielorrussa.

Por fim, a Bielorrússia é país realmente pobre, com recursos muito limitados. Mas para a Rússia a Bielorrússia é aliado militar crucial, com papel protagonista nos planos russos de defesa. Se EUA e OTAN conseguirem obter o controle do país, estaremos diante de grave ameaça estratégica à segurança russa.

Deixo aí essas poucas diretrizes, que permitem comparar e contrastar Bielorrússia e Ucrânia.

Agora, deixem-me resumir o que aconteceu.

Autoridades bielorrussas disseram que “centenas” de homens – supostos russos – foram enviados à Bielorrússia com intenções nefastas. Lukashenko confirmou oficialmente que obteve essa informação da SBU ucraniana. Os tais homens foram descritos como terroristas, insurgentes, membros do grupo “Wagner” – exército de mercenários russos – subversivos, etc., cujo objetivo seria assassinar Lukashenko, fazer eclodir um novo “Maidan” na Bielorrússia, produzir o caos e tudo mais.

Francamente, as autoridades bielorrussas nunca entenderam bem essa história e, também francamente, isso não faz qualquer diferença.

Eis dois argumentos que considero incontestáveis:

1.      A Rússia nunca consideraria recorrer à força ou a operações secretas ilegais contra Lukashenko e/ou a Bielorrússia; e

2.     A KGB da Bielorrússia sabe TUDO sobre tudo que é importante na Bielorrússia.


Diria até que o argumento # 2 serve como prova suficientemente confiável para o argumento # 1.

Enfim, seja como for, o que se diz que teria acontecido é que um grupo de agentes de segurança russos teria sido recrutado por empresa bielorrussa para fazer serviços de segurança em vários países – Sudão e Venezuela são frequentemente mencionados. Esses agentes teriam chegado Minsk, Bielorrússia, e planejaram deixar a cidade rumo ao destino final de sua viagem. Mas atrasaram-se e perderam o avião. Foram instruídos a descansar em um hotel que não ficava longe da residência de Lukashenko. No meio da noite, uma equipe de invasão da KGB bielorrussa entrou com granadas flashbang e rifles e prendeu com brutalidade os tais agentes russos ‘em trânsito’, apesar de nenhum dos russos que dormiam ter oferecido qualquer resistência. Nenhuma arma de qualquer tipo foi encontrada, nem qualquer sinal de planos secretos, mas as autoridades declararam que, dado que os tais ‘agentes’ não estavam bêbados nem haviam assediado as garçonetes do local, e mantiveram atitude perfeitamente civilizada… ficaria assim provado que estariam, com certeza, em missão secreta. Não riam. É sério.

Tudo o que acima se lê é total absurdo, e não vamos nos deixar desencaminhar pela minúcia de tantos detalhes inventados.

Eis os fatos já apurados

O serviço secreto ucraniano SBU – que não dá um suspiro, que seja, sem a aprovação do Tio Sam – montou complexa operação secreta para tentar pôr Bielorrússia e Rússia em rota de colisão. Toda a operação, incluindo recrutamento, compra de passagens aéreas, etc., foi gerida da Ucrânia. E esse foi o mais grave erro dos Ukies: encobriram tão mal os próprios passos, que em menos de 24 horas o serviço secreto russo já descobrira e divulgava todo o plano para a mídia – em russo.

Ainda estão sendo verificados alguns pequenos detalhes, mas o resultado final é o seguinte: alguns ucranianos apresentaram-se como empresa de segurança à procura de homens com experiência em combate, com preferência para quem tenha lutado no Donbass contra as forças ukronazistas. Uma vez recrutados para funções de guarda bastante típicas, os escolhidos foram transportados de avião para Minsk, onde perderam o voo para seu destino final e tiveram de esperar a próxima oportunidade de deixar a Bielorrússia. Nesse ponto, a SBU parece ter contatado a KGB bielorrussa e “avisado” sobre a presença de “mercenários” russos enviados pela Rússia para matar Lukashenko ou, pelo menos, derrubá-lo.

É também evidente agora que a SBU procurava principalmente russos que tivessem experiência de combate no Donbass, para em seguida requerer que a Bielorrússia os entregasse a Kiev. Esse tipo de requerimento é feito quase imediatamente, para a maioria dos homens que se incluam nessa qualificação.

Até aí, ‘tudo bem’ – não realmente bem, vocês me entendem. Mas foi quando os bielorussos e o próprio Lukashenko puseram-se a agir de modo realmente estranhíssimo.

O primeiro movimento lógico para as autoridades bielorrussas seria Lukashenko telefonar a Putin e pedir-lhe uma explicação. Ou o chefe da KGB bielorrussa telefonaria ao chefe do FSB russo pedindo esclarecimentos. Nada disso.

Em vez de fazer o óbvio para aquelas circunstâncias, a KGB bielorussa organizou uma ridícula “captura” dos “mercenários” russos que dormiam tranquilos em seu hotel sem nem ideia do que se passava.

Depois, em vez de começar a negociar com os russos, Lukashenko sentou para longa entrevista a um dos jornalistas mais talentosos e mais moralmente repugnantes da Ucrânia, Dmitrii Gordon – que confiantemente proclama que trabalha como agente da SBU.

Mas ainda piora.

Lukashenko agarrou com unhas e dentes a ocasião para mergulhar em mais um de seus intermináveis discursos contra a Rússia. Até sugeriu que a Bielorrússia extraditasse alguns daqueles russos para a Ucrânia – a qual, como agora se sabe, fornecera à KGB bielorrusso uma lista de homens procurados. A partir desses movimentos e discursos, tornou-se imediatamente claro para os russos que Lukashenko jogava alguma espécie de jogo sujo, a poucos dias das eleições presidenciais de domingo, 16/8 (Atualização, BBC, 17/8: “Alexander Lukashenko foi reeleito para o 6º mandato”).

Assim sendo… como explicar o comportamento bizarro dos bielorussos?

Primeira razão: em termos simples, a popularidade de Lukashenko diminui tão rapidamente quanto a renda dos bielorussos.

Segunda razão: os Estados Unidos estão claramente engajados em uma ‘Operação Psicológica’ (PSYOP) importante e estratégica, com vistas a assumir o controle da Bielorrússia .

Terceira razão: o estado bielorrusso atual simplesmente não é, como nunca foi, viável.

Examinemos uma a uma as razões acima.

Embora ninguém duvide de resultado de eleição, seja qual for, na Bielorrússia, é indiscutível que a maioria dos bielorrussos apoia Lukashenko. A questão não é se ele venceria, mas… por qual margem? As eleições de ontem deram o resultado mais baixo possível, mas ainda crível, pró Lukashenko: 80%. O número realmente não faz qualquer sentido, só mostra o quanto esse regime sabe ganhar eleições.

Problema é que, dessa vez, parece haver mais protestos do que no passado; e, diferente do que aconteceu antes, os protestos não se limitaram a Minsk; agora se espalharam para outras cidades. Assim, embora Lukashenko nunca tenha sequer se aproximado de perder as eleições, uma demonstração de tipo Maidan ainda o preocupa, e muito.

FOTO: Pompeo na Bielorrússia. Coincidência, claro.

Mas há muito mais nesta história.

Após encontro de Lukashenko e Pompeo, os Estados Unidos abrirão agora uma embaixada muito grande em Minsk.

O Ocidente passou anos chamando Lukashenko de todos os nomes do mais baixo calão. Agora, repentinamente, ele “é todo sorrisos”

Será mesmo coincidência?

Duvido muito.

E continua piorando: EUA enviam um de seus funcionários mais capazes e perigosos para subverter a Bielorrússia. Falo de Jeffrey Giauque, oficial de inteligência do Departamento de Estado, com longa série de missões de desestabilização no currículo.

Assistam vocês mesmos ao vídeo em que Giauque apresenta-se (ing.) ao povo bielorrusso.

Na verdade, agora é bastante óbvio que toda essa provocação com “terroristas” russos foi cuidadosamente planejada e implementada por um esforço conjunto EUA-Ucrânia. Se a SBU Ukie não tivesse sido tão incompetente na sua parte da operação – em menos de 24 horas os russos já tinham imagem completa e precisa do que havia acontecido –, o plano poderia ter sido bem-sucedido. Na verdade, ainda pode.

Mas culpar EUA, SBU e Lukashenko ainda não é toda a história.

A verdade é que a Bielorrússia é estado completamente artificial, muito mais artificial até do que a Ucrânia, e simplesmente não consegue sobreviver por conta própria. Tampouco pode esperar sobreviver para sempre com a ajuda russa.

Por mais que seja importante e interessante examinar as raízes do nacionalismo ucraniano, tal exercício é inútil no caso da Bielorrússia, porque o nacionalismo bielorrusso é realmente a-histórico e artificial, absolutamente sem qualquer base além dos dogmas ideológicos ocidentais.

Se a ideologia marxista da União Soviética e de modo geral russófoba sempre favoreceu o surgimento de nacionalismos locais – e até mesmo criou as “nacionalidades” até então inexistentes –, o nacionalismo bielorrusso nunca teve muito sucesso. Isso nem chega a surpreender, pois a diferença entre um russo e um bielorrusso é muito menor do que entre os próprios russos, que vivem hoje num país muito diverso e genuinamente multiétnico.

Mas do ponto de vista do Partido da Nomenklatura e seus apoiadores ocidentais, era impensável não separar Bielorrússia e Rússia, dado que países como a Ucrânia ou o Cazaquistão declararam-se independentes. Foi preciso então encontrar algum tipo de acomodação, por estranha que fosse, que tranquilizasse os dois lados, o povo russo e o povo da Bielorrússia. E alguns acordos foram celebrados, outros foram negociados ad infinitum – em particular acordos de energia! – O que resultou desse processo foi um miniestado estranho, feito pelo homem, de apenas 10 milhões de pessoas.

Quanto ao líder, o próprio estado declarou que a Bielorrússia seguiria política externa “multivetorial”, que eu resumiria nos seguintes termos: arrancar o máximo de dinheiro possível da Rússia, sem parar de buscar o apoio do Império Anglo-sionista.

BARRA LATERAL : Sim, sei, Lukachenko é chamado de “último ditador da Europa”, e não é popular no ocidente. O que quero dizer é que essa baixa popularidade deve ser creditada ao ocidente, não ao homem. Muitas e muitas vezes Lukachenko tentou obter o apoio – leia-se “dinheiro” – do ocidente. Agora, parece que Pompeo & Co. resolveram fazer do filho-da-puta-russo o “nosso” (dos EUA) filho da puta. O que quero dizer é que Lukachenko já era o caso clássico do fenômeno “nosso filho da puta”, mas não para o ocidente: para a Rússia. Acredito assim que, como todos os “filhos da puta” – incluindo os “deles” e os “nossos” – Lukachenko passou a ser grave risco para a Rússia.


Há outro acontecimento muito perturbador em curso: em toda essa questão, ou a KGB bielorrussa tornou-se irremediavelmente incompetente – o que nunca foi –, ou foi penetrada por agentes ocidentais. A segunda explicação parece-me muito mais provável.

Se assumirmos agora que a KGB bielorrussa foi invadida e comprometida, essa é péssima notícia para Lukashenko, que pode estar na mesma situação de, por exemplo, Nicolae Ceaușescu, que foi traído por seus próprios serviços secretos. Também podemos lembrar os muitos agentes dos EUA/Israel em altas posições em torno de Bashar al-Assad, até que a guerra na Síria os forçou a escolher um dos lados.

Francamente, embora a CIA e o resto não sejam muito bons em algumas áreas, realmente são talentos insuperáveis, mestres de classe mundial, no que tenha a ver com subornar funcionários. E pode já ter acontecido na Bielorrússia.

No momento, há tumultos em Minsk e outras cidades e, embora a polícia de choque esteja no controle na maior parte dos casos, já houve casos de policiais antitumultos que desertaram para salvar a pele e fugir do linchamento.

No momento em que eu escrevo (segunda-feira, 10/8, 21:50 UTC), a KGB bielorrussa diz que está rastreando os agitadores e desordeiros mais perigosos. Mas, considerando a facilidade com que a SBU ucraniana enganou a – ou, pior, infiltrou-se – na KGB bielorrussa, não me sinto muito tranquilo com esse palavreado: serviços especiais existem para lidar com questões perigosas, não para fazer ‘declarações’ altissonantes.

Nesse momento, as mais recentes notícias que vêm da KGB da Bielorrússia dizem que teria impedido o assassinato da principal figura da oposição, Svetlana Tikhanovskaya. Que droga! Pode bem ser verdade. Afinal, a inocente Tikhanovskaya daria perfeito “cordeiro sacrificial” – e é figura política assustadora, se chegar a ser eleita. Mas também parece que alguns grupos dentro da KGB bielorrussa cortejam Tikhanovskaya. As duas versões parecem-me igualmente ruins.

Isso tudo é sério? Sim, muito sério!

Já há – falsos – rumores espalhados pela mídia polonesa de que Lukashenko teria fugido da Bielorrússia, em seu avião. Esse boato visa claramente a criar a – falsa – impressão de Lukashenko seria o próximo Yanukovych.

Embora não goste de nenhum desses dois homens, Lukashenko é muito mais duro do que Ianukovich jamais foi.

Além disso, o tipo de campanha midiática que está sendo conduzida na mídia-empresa ocidental, polonesa e ucraniana tem dimensões jamais vistas e será muito difícil para o regime retomar o controle do país.

Quanto a Lukashenko, parece ter mudado seu discurso: depois de acusar a Rússia de tratar a Bielorrússia não como irmã, mas como parceira, agora diz que falou com Putin e recebeu um documento de cinco páginas que explicaria tudo. E agora diz que Rússia e Bielorrússia serão, afinal, irmãs.

Não muito convincente, para dizer o mínimo.

Imagem: O asno flutuante, cujo traseiro paira entre duas cadeiras: eis a política “multivetorial” de Lukashenko …

Logicamente, a popularidade de Lukashenko na Rússia, que nunca foi tão alta, deteriora-se rapidamente; muitos analistas que no passado elogiaram sua política supostamente “firme” em relação ao Ocidente, agora expressam abertamente sua repulsa. Número crescente de russos questiona abertamente esse conceito de “estado união supranacional”. Quanto às tão alardeadas “políticas multivetoriais” de Lukashenko, parecem cada vez mais um banal caso de chantagem.

Já se vê bem claramente que os governantes do Império só deixaram de odiar Lukashenko para garantir alguma aparência fugaz e semicrível de benevolência. Agora já falam de reintroduzir sanções contra a Bielorrússia e contra Lukashenko pessoalmente.

Tudo isso é extremamente perigoso para a Rússia pelos seguintes motivos:

1.      Lukashenko é o “nosso filho da puta”, mas dos que absolutamente não podem ser apoiados – e as últimas palhaçadas mostraram ao Kremlin que Lukashenko é realmente parte do problema, não da solução.

2.     Se ele permanecer no poder, será apenas graças ao seu aparato repressivo muito eficaz, que pode ser suficiente para silenciar a oposição, mas não o suficiente para torná-lo realmente popular.

3.     O próprio Lukashenko é claramente desonesto e sem princípios. Não se importa nem um pouco com a Rússia, ou com a Bielorrússia: só se preocupa consigo mesmo. Em outras palavras, enquanto permanecer no poder, a Bielorrússia será grave preocupação para a Rússia.

4.     Se Lukashenko for derrubado, seja por complô da KGB ou por violenta insurgência do tipo Maidan, podemos ter certeza de que quem chegar ao poder já chegará com o selo de aprovação dos EUA; e será ferozmente anti-russo.

5.     A Bielorrússia não tem muita importância econômica para a Rússia; mas por razões de segurança e, mais importante, por razões militares, é absolutamente vital para a segurança russa.


Esse último ponto precisa ser mais bem esclarecido. A Bielorrússia não só tem localização central, estrategicamente crucial, como, além disso, as forças armadas bielorrussas são muito bem treinadas e equipadas. – Nem se comparam às forças ucranianas. – E são importante recurso militar para o Kremlin. Também há forças russas posicionadas na Bielorrússia. Por último, os contatos entre os militares bielorrussos e russos são muito amigáveis e profundos.

Entregar a Bielorrússia à OTAN criaria grande problema para a Rússia. É problema que ela pode enfrentar, mas, nesse caso, seria necessário repensar totalmente o modo de enfrentar a ameaça que vem do Ocidente.

Assim sendo, daqui para onde vamos?

Parece-me que, se Putin fizer “mais do mesmo”, a Rússia corre o sério risco de perder a Bielorrússia, o que, numa altura em que o Banderastão ucraniano está desabando, seria uma verdadeira vergonha. No momento, a Rússia tem de conter a “infecção ucraniana”, enquanto se prepara para um pós-Lukashenko, antes que seja tarde demais.

Obviamente, Lukashenko não renunciará sozinho. A Rússia portanto deve encontrar uma ferramenta em sua caixa para forçá-lo a renunciar.

Pessoalmente, sempre pensei que a plena reintegração da Bielorrússia à Rússia resolveria não só o “problema Bielorrússia”, mas também o “problema Lukashenko”. Estou convencido de que a Rússia tem influência e recursos mais do que suficientes para forçar uma mudança na Bielorrússia. Sim, seria difícil e perigoso, mas nada fazer pode levar a resultado muito pior. A Rússia tem de agir. Rápida e com determinação.

The Saker


[1] O Ministério de Relações Exteriores de Portugal oficializou a grafia “Bielorrússia”. Preferimos essa, à grafia escolhida pelo MRE de Olavo de Carvalho [NTs]. 

Esse artigo foi retirado da publicação feita no site Unz Review,  do dia 10 de agosto de 2020.

Tradução: Coletivo Vila Mandinga 

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