Guerra quente e sangrenta em que morreram mais seres humanos do que em 10 anos de conflito da URSS no Afeganistão. A ideia não é ser relator de desgraças, mas fazer uma análise das mudanças no sistema internacional, que podem ser vistas a partir deste conflito.
Os dois grandes jogadores no tabuleiro foram Russia e Turquia. EUA e Otan assistiram de longe. Só isso já é (mais) um sinal inequívoco de que um mundo multipolar emerge, com contornos cada vez mais claros. O que denota a multipolaridade? Em primeiro lugar a capacidade de potências regionais atuarem em conflitos em suas regiões (e a incapacidade do antigo hegemon em fazê-lo).
Armênia, a grande perdedora na guerra, tem uma embaixada dos EUA, vejam vocês, com 2mil membros. Sim, uma embaixada com 2mil pessoas, na potência econômica que é a Armênia(sic). Imagino que tinham 1.900 adidos culturais, e 80 garçons bem treinados na embaixada. O país havia entrado na onda russofóbica e de alinhamento com Washington. Inclusive, quando iniciou o conflito pediu ajuda à Otan e aos EUA, no que foi ignorado.
A Turquia também saiu com derrota, especialmente em relação às pretenções Neo Otomanas do Erdogan. Sobre estas, o que se pode dizer é que também são um sinal de fragilidade de Otan e EUA, aliados de Erdogan, com seus ímpetos napoleônicos. Dado o governo turco assumir atitudes independentes e inclusive de conflito com países Otan, como no caso da disputa territorial com a Grécia por gás natural no mar mediterrâneo.
A Rússia sai como grande vencedora, em mais uma demonstração de seu poder regional e de defesa. A estratégia de defesa russa tem como base alta capacidade operacional em teatros distantes até mil kilômetros de suas fronteiras. Numa mistura de grupos de elite de contenção, altamente capacitados para ganhar tempo, combinados com extrema mobilidade de tropas e armamentos dentro do perímetro de defesa.
Outro fato relevante é a capacidade da Rússia transformar revoluções coloridas insufladas pela Otan (guerras híbridas) em sua zona de influência, fortalecendo seu poder regional. Ocorreu com Ucrânia, Geórgia e agora Armênia.
O conflito Azerbaijão-Armênia serviu para consolidar o poder russo no Cáucaso, com o custo de 2 soldados russos mortos no conflito. Em troca, contará com forças militares permanentes nos dois países, ampliando a pegada sobre o mar Negro e o Cáspio.
A Armênia termina os lamentáveis eventos em convulsão, com o líder Pashinyan, preposto de Washington, escondido. Não significa que a paz está dada desde já, mas tudo indica que a Rússia ampliou influência sobre a região. Sinais de multipolaridade no sistema internacional.
Conclusões sobre a guerra Azerbaijão-Armênia
Por Thiago Varanda
Artigo bastante esclarecedor sobre uma região pouco abordada pa mídia.
.jDentro da mídia tradicional, pouco se falou deste conflito e o Thiago pinsou muito bem este conflito regional, da área de influência do Putin (um estrategista?)
Muito bem pinsado e escrito. Ótimo