Na época que cursei a disciplina Geografia da Energia e Indústria na graduação da UFMG, buscava informações cartográficas na mapoteca ou em publicações específicas. De lá pra cá cresceu muito a disponibilidade de dados disponíveis na internet. O mais interessante nesse processo foi a ampliação da participação do público na produção da informação. O Open Street Map é o melhor exemplo de mapeamento colaborativo do mundo.
Fundado em 2004, o OpenStreetMap tem licença aberta, é editado e revisado por milhares de usuários-colaboradores, tornando o mapa do mundo cada dia melhor, tanto na geometria cartográfica como na precisão dos atributos das feições espaciais.
Não há como fazer planejamento regional e desenvolvimento econômico sem olhar pro mapa e conhecer bem os fatores que o transformam. Por isso mostro aqui a rede de linhas de transmissão de energia em cada continente, tudo disponível no https://openinframap.org com dados extraídos do OpenStreetMap.
Os mapas apresentados abaixo estão todos na mesma escala cartográfica para uma adequada comparação entre os continentes. A legenda está no mapa on-line, as cores azul e roxo são as linhas com maiores cargas (acima de 500kV), normalmente em corrente contínua (HVDC – High-voltage direct current) e em vermelho e laranja as linhas de tensões abaixo de 230kV.
Não há indústria sem energia
Observando o mapa:
• A densidade da malha de transmissão de energia elétrica é o primeiro fator de
comparação. Regiões mais populosas costumam ter maior extensão da rede.
• Sistema neural mais denso é fator de economia mais complexas.
• Os sistemas quase sempre são pensados a partir da reprodução do capital,
implementados e gerenciados pela administração central dos países. A
colaboração entre países é mais nítida na Europa, que tem países pequenos.
• Cada país ou região industrial tem expandido pra mais distante suas fontes de
energia para garantir fornecimento constante e seguro dos parques industriais.
• O modelo colonial deixou sua marca no sul global. A rede de energia se desenvolve
do litoral para o interior, acompanhando o adensamento populacional.
É preciso enxergar não só a distribuição espacial ao redor do mundo, mas como os sistemas de energia se desenvolvem:
1) A China tem buscado energia nos rincões oeste, quase na fronteira do Cazaquistão, visando suprir a crescente demanda da região sudeste do país, onde está a população e a indústria.
2) A Índia é um caso de desenvolvimento endógeno. É uma ilha. Sem conexões externas.
3) América do Sul, África e Austrália se assemelham no modelo colonial, as cidades maiores e mais antigas estão nos litorais e a busca de energia se interioriza. Exerção para Pretória/Joanesburgo que estão no interior e polarizam a demanda no continente, já buscam hidrelétrica no norte de Moçambique. Já no Egito e Etiópia a briga fica por conta do rio Nilo Azul e a Renaissance Dam que ficou pronta e vai garantir muita energia para a Etiópia.
4) Europa e América do Norte tem uma rede densa e bem distribuída. Avançando respectivamente para a Rússia e Canadá.
5) Japão, Coreia, Filipinas, Indonésia tem na energia nuclear e termoelétricas com únicas opções de grande porte.
6) O Brasil tem grande oportunidade de liderar um integração da rede sul americana, o ONS já tem experiência na gestão nacional. Por enquanto a América lusitana está de costas para a América hispânica e vice versa. Não sem conflitos.
Enfim, os polos capitais mostram muito bem como desenvolvem suas redes olhando somente para si mesmos. Sabemos que uma rede neural complexa garante conexões e mantém o sistema nervoso em funcionamento. O modelo do SIN – sistema interligado nacional – é um ótimo mecanismo nacional, agora imaginem esse modelo em níveis continentais!