Estávamos em meados da década de 1930, o titular do então denominado Ministério da Guerra é informado que o combustível existente no Brasil não daria para deslocar as tropas terrestres sequer por uma semana. Toda atividade do petróleo estava à época sob a gestão de empresas estrangeiras.
Houve a reação imediata e dela surgiu, por Decreto-Lei, em 29 de abril de 1938, o Conselho Nacional de Petróleo (CNP), órgão colegiado composto pelos ministros da “Guerra, Marinha, Fazenda, Agricultura, Viação e Obras Públicas, Trabalho, Indústria e Comércio, assim como as organizações de classe da Indústria e do Comércio” (Dec-Lei nº 395). Seu primeiro presidente foi o General Horta Barbosa (1938-1943).
Muito mudou desde os idos de 1938 até 2018. Nestes 80 anos o Brasil se tornou autossuficiente em petróleo e derivados e teve a empresa mais premiada pelos avanços tecnológicos na produção de petróleo no mar e pela capacitação em todos os segmentos da indústria do petróleo.
No entanto, os permanentes interesses estrangeiros no Brasil, cuja invasão ideológica e corruptora se intensifica a partir de 1990, conseguem, principalmente no governo de Fernando Henrique Cardoso, aprovar medidas prejudiciais à Petrobrás, mas especialmente nefastas ao próprio País.
Com as decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) e as ações executadas pela Direção da Petrobrás, estaremos em breve na mesma situação que alarmou o Ministro da Guerra.
Para que forças armadas se o diesel, a gasolina, o querosene, o combustível para os navios, as aeronaves, para os tanques e deslocamento de tropas dependerá do estrangeiro, do sistema financeiro internacional – a banca, sempre interessado em colonizar o Brasil?
Nos início dos anos 1960, os talentos de Carlos Lyra e de Chico de Assis compuseram a “Canção do Subdesenvolvido”, onde era cantada uma das características daquela situação:
“Começaram a nos vender e nos comprar,
Comprar borracha – vender pneu
Comprar madeira – vender navio
Pra nossa vela – vender pavio”.
Não serão os moradores das condições miseráveis das periferias, favelas, mocambos, palafitas, dos lixões, que tanto assombraram o presidente da Caixa Econômica Federal, aqueles que não podem nem sonhar com um botijão de gás quem sofrerá. Para estes, sejam presidente Dilma, Temer, Bolsonaro, ou o CEO da BlackRock, Laurence D. Fink, ou do Vanguard, William McNabb III, ou Jamie Dimon, do J.P.Morgan Chase, todos são rigorosamente iguais. Suas vidas não poderão ser pior, apenas mais ou menos breve.
E estes representam cerca de metade da população brasileira. Os mais atingidos serão os da outra metade, aqueles cuja vida em muito se assemelha à da família militar, do cabo ao general. Dos que tem a proteção do Estado, efetiva ou possível, dos que tem esperança de que seus filhos vivam ainda melhor do que eles.
Pois para 1%, ou ainda menos, tanto faz, eles tem seus rendimentos no exterior, aqui apenas exercem o poder do seu dinheiro, mandando nestes que se humilham, que os invejam, mas que executam suas ordens para acabar com o Brasil.
Todos futuros desempregados a se somar com os três mil que hoje ainda trabalham para Refinaria Landulfo Alves, em Mataripe (RLAM). Ou será que alguém imagina que o fundo financeiro do Emirado Árabe de Abu Dhabi, Mubadala Investment Company, que comprou a refinaria, que opera no município de São Francisco do Conde, onde a renda per capita é das maiores do Brasil, manterá o quase bilhão de reais por ano em impostos?
Rápida recapitulação. A RLAM foi construída pelo CNP entre 1949 e 1950. Possui a segunda maior capacidade instalada entre as refinarias brasileiras – 323 mil barris por dia (bdp). No pacote da RLAM estão quatro terminais, entre eles o de Madre de Deus (TEMADRE) e 669 quilômetros de dutos. A refinaria dispõe de 26 unidades de processamento, 201 tanques e 18 esferas de armazenamento e produz 31 tipos de produtos, entre eles estão: propano, propeno, iso-butano, gás liquefeito de petróleo (GLP), diesel, gasolina, nafta petroquímica, querosene, querosene de aviação, parafinas e n-parafinas, lubrificantes, óleos combustíveis e asfaltos.
Sem o acesso aos produtos derivados do petróleo, para que forças armadas inertes, operacionalmente inoperantes? Por que o Brasil continuará gastando com quem não tem a menor possibilidade de cumprir sua missão?
A venda da RLAM e das outras sete refinarias prometidas pelo presidente da Petrobrás, Roberto Castello Branco, para muito breve, tornarão dispensáveis as forças armadas e outras atividades cuja mobilidade, o deslocamento seja parte relevante de seus trabalhos. E um diretor, não sei se por ignorância ou submissão a interesses alienígenas, ainda enche a boca e diz: vamos exportar o dobro do petróleo bruto (Click Petróleo e Gás, 02/12/2020). Parece cantar o trecho transcrito da Canção do Subdesenvolvido.
Os mais prejudicados serão os de sempre, além da classe média, com sua ignorância, seus preconceitos e o desconhecimento monumental da realidade brasileira e da nossa própria história.
Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado.
Esse artigo foi retirado da publicação feita no site “AEPET”, no dia 08 de dezembro de 2020.