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Eu poderia…

Por Andrei Martyanov

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Eu poderia…
… discutir o jeito como a Fox limou Lou Dobbs,[1] ou poderia dar minha opinião sobre o Reino Unido ter virado casa de doidos totais, que agora querem proibir bebidas alcoólicas em pubs. Poderia claro, mas não vou, porque todos esses são sinais de completo colapso na saúde mental do ‘ocidente’, de todos e todas, e, o pior de tudo, são sinais de que não há como escapar desse fato lamentável. Há mais loucura à vista, e a coisa não melhorará.

Não melhorará, mesmo. Punxsutawney, aquela marmota feladaputa, viu uma sombra há quatro dias, e assim sendo, vocês que se virem. Então, ok, estou-me virando. Já reiterei várias vezes, e re-reitero aqui, que não sou especialista em China – tampouco tenho intuições revolucionárias sobre a cozinha política chinesa. Assim sendo, dependo completamente e confio plenamente em opiniões de profissionais em matéria de China. OK. Mas mesmo sem eles e elas, eu nunca deixaria passar a conversa telefônica entre Sergei Lavrov e Wang Yi, ministro de Relações Exteriores da China, há dois dias. O Ministério de Relações Exteriores da Rússia, como era de esperar, postou um resumo da conversa (tradução ao português, do Ministério de Relações Exteriores da Rússia).

Compreensivelmente, os dois ministros falaram da atual situação e de marcar, por implicação, a prorrogação do Tratado Russo-Chinês de Boa Vizinhança, Amizade e Cooperação [ing. Russian-Chinese Treaty on Good Neighborliness, Friendship and  Cooperation]. Sim, sim, sim, falaram desse Tratado.

Nikolai Vavilov (aqui em russo, com legendas geradas automaticamente ao português) diz que dessa vez a China está oferecendo à Rússia aliança militar plena.

Soa plausível? Pois digo que sim, soa. A China tem tudo a ganhar dessa aliança, especialmente se se considera o que parece ser os EUA em rápido deslizamento ladeira abaixo rumo ao estado estereótipo (“de repetição incontrolável, que estudos têm associado a desordens do espectro autista e a alguns tipos de esquizofrenia (estatal)” [NT]), e a China tendo já planejados alguns procedimentos relacionados à presença dos EUA no Mar do Sul da China.

Além de Taiwan e além de um contêiner de outras questões dentre as quais a tentativa desesperada, de última trincheira, pelos EUA, de preservar o que os EUA deliram que seria seu direito de defender o que supõem que seja alguma hegemonia deles – e que pode envolver engajamento militar direto e até escalada para ataque nuclear.

O fato de a Rússia ajudar a China com seu Sistema de Alerta Precoce de Ataque por Mísseis (ru. SPRN) é forte evidência de que a Rússia vê a segurança da China como, no mínimo, parte da segurança da própria Federação Russa. De fato, quando se lê coisa como:

“O alto comando do Comando Estratégico dos EUA (ing US Strategic Command, STRATCOM) está alertando que guerra nuclear com Rússia ou China é “possibilidade real”, apontando para comportamentos “de desestabilização”, obra dos rivais dos EUA. Garante também que o Pentágono não estaria “paralisado na Guerra Fria”. “Há real possibilidade de que uma crise regional com Rússia ou China possa escalar rapidamente para conflito que envolva armas nucleares, se se perceber que revés em guerra convencional ameace o regime ou o estado” – escreveu o comandante do STRATCOM e vice-almirante Charles Richard na edição de fevereiro da revista mensal do Instituto Naval dos EUA.

O STRATCOM, que supervisiona o arsenal nuclear dos EUA considera baixa a possibilidade de guerra nuclear, mas com Rússia e China ampliando suas capacidades e insistindo “em se distenderem globalmente” – Richard disse que seu STRATCOM deve compreender o que “está enfrentando” (RT, 6/2/2021).

É preciso fazer uma pausa rápida (aqui todos podem ler o original) e nos deslumbrar com a evidência de que o STRATCOM precisou de sete anos para ler a Doutrina Militar da Rússia, especificamente o Artigo 28. OK.

  1. A Federação Russa reserva-se o direito de usar armas nucleares em resposta ao uso de armas nucleares e de outros tipos de arma de destruição em massa contra ela ou seus aliados, bem como no caso de agressão contra a Federação Russa com uso de armas convencionais, quando a própria existência do Estado seja ameaçada. A decisão de usar armas nucleares será tomada pelo Presidente da Federação Russa (aqui).

Mas, por implicação, aquela declaração assume que seria a Rússia a ser forçada a usar armas atômica num primeiro ataque, quando a realidade é o exato oposto disso. A razão disso é que é no mínimo muito duvidoso que, em guerra contra a Rússia, os EUA venham a conseguir qualquer tipo de “vitória” por meios convencionais. Como repito há muitos anos: quem padece de grave viés nuclear são os EUA, sobretudo dadas as perdas que os norte-americanos sofrerão em conflito convencional de larga escala. Coincidência engraçada!

Ontem, Sergei Shoigu, em reunião numa das unidades da fábrica da Tactical Missile Corporation em Reutov, anunciou financiamento adicional e expansão das instalações da fábrica, para produção de mais armas de precisão de reserva (aqui, em russo). Coincidência? Acho que não.

Os EUA não têm nem recursos nem ferramentas para sustentar conflito convencional de grandes proporções, sem sofrer uma escala de perdas que jamais antes conheceu. Como Elmo Zumwalt perguntava-se nos anos 1970s, – o que acontece se um dos porta-aviões da Marinha dos EUA for destruído?

Posso dizer o que acontece na sequência – os EUA enlouquecem completamente e escalam rumo a um ataque nuclear, porque o país não tem flexibilidade nem operacional nem estratégica para realmente encarar a guerra do século 21. Scott Ritter pensa o mesmo:

As declarações belicosas sobre guerra nuclear são mais perigosas do que talvez pareçam, disse a RT Scott Ritter, ex-inspetor de armamentos da ONU. Os EUA não construíram forças militares convencionais na proporção necessária para poderem ter certeza de derrotar Rússia ou China. Por isso, o mais provável é que Washington use armas nucleares em guerra contra qualquer desses países” – disse Ritter. A Rússia não teria escolha, a não ser resposta correspondente. “Eis o que torna tão perigosas as declarações do general sobre preparação para ataque nuclear: porque não há como contê-lo” – Ritter completou.

Assim, em linguagem para leigos, a declaração de Richard é admissão oculta de fraqueza militar e, como reza a ‘lógica’ do STRATCOM, é declaração de que os EUA já estão premeditando usar bombas atômicas em qualquer caso em que decidam aproximar-se de qualquer conflito.

A pornografia que é a propaganda militar belicista feita por palhaços ignorantes como David Axe ou Michael Peck é boa para consumo de adolescentes intoxicados de hormônios por excesso de contato com seus Game Stations. Mas volto a perguntar: o que acontece quando os EUA perdem uma formação equivalente a uma divisão militar, ou um Grupo de Combate (um porta-aviões e respectiva ‘escolta’), num período de 3-4 dias, sem usar bombas nucleares? OK, é pergunta retórica. A China com certeza sabe disso, mas quer que a tecnologia e a enorme experiência operacional da Rússia estejam ao lado dos chineses, no caso de se fechar a janela de oportunidade. E ela está-se fechando entre EUA e China e está já fechada contra a Rússia.

Claro, sempre a o Irã, para que os EUA provem que ainda são muito-machos. Mas o Irã não é o Iraque, sem falar que os movimentos do Comitê Nacional Democrata (ing. DNC) até aqui indicam nenhum interesse a favor de guerra ao Irã. Considerando que Obama é o mestre que movimenta as cordas de Biden, fantoche senil, e que Obama também tem contas a acertar com Israel e especialmente a humilhação que BiBi impôs a Obama, quando falou ao Knesset (Congresso, heb.) dos EUA, digo, à sessão conjunta do Congresso dos EUA (foi aplaudido de pé 26 vezes, há 5 anos), e BiBi ignorou o presidente dos EUA, como se não existisse. Foi humilhação de proporções históricas imposta por BiBi a Obama e, especialmente se se considera a natureza supersensível de Obama, dessas coisas que jamais se esquece em política.

Assim sendo, para o lobby israelense nos EUA, não será tarefa fácil arrastar os EUA para guerra contra o Irã. No final, todas as bases dos EUA na região estão dentro do raio de alcance dos mísseis iranianos, e Israel também é alvo fácil, caso a merda alcance o ventilador. Vê-se assim que ainda que eu discutisse todos os tipos de eventos em andamento relacionados a o quanto vai aumentando a amplitude do pêndulo das repressões políticas nos EUA, mesmo assim a realidade política global é muito mais complexa que qualquer chilique interno nos EUA.

É quando se vê que, se, Deus nos livre, os EUA resolverem mandar bala contra a China, para nem falar da Rússia – podemos apostar até nossa derradeira ficha que o fim do álcool em pubs britânicos será o menor de nossos problemas.*******

[1] “Fontes informaram que Fox News Media cancelou “Lou Dobbs Tonight,” programa apresentado pelo mais empenhado apoiador de Donald Trump na TV norte-americana e denunciador insistente de fraude na eleição de 2020.

O programa de Dobbs, ia ao ar todas as noites às 17 e 19h, horário do Leste, pela rede Fox Business, será apresentado pela última vez na 6ª-feira, segundo representante da Fox News, que confirmou o cancelamento. A há partir da próxima semana o programa passa a se chamar “Fox Business Tonight,” e será apresentado por Jackie DeAngelis e David Asman, que substituíram Dobbs na última 6ª-feira” (Stephen Battagliostaff Writer, 5/2/2021, 3:10 PM PT, Los Angeles Times) (NTs).

 

Esse artigo foi retirado da publicação feita no site “Reminiscence of the Future”, do dia 13 de fevereiro de 2021.

Tradução: Coletivo Vila Mandinga 

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