Duas histórias após a privatização de uma geradora de eletricidade.
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– Aqui é da Polícia Militar. Se você deseja relatar uma agressão, se você foi assaltado, se sua casa foi vandalizada, e se alguém ficou ferido, deixe seu contato que iremos procurá-lo. Contudo, pedimos que avalie a intensidade do ocorrido, porque, com o apagão, estamos com todo o nosso pessoal na rua.
– Bira, vamos lá. Deve ter só um policia tomando conta das armas. Vai ser moleza. Tem umas máquinas lá, verdadeiras minas. Esse apagão, por um lado, fez sumir os clientes, mas, por outro, caiu do céu.
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– Vamos turbinar toda agua que puder ser captada.
– Mas, Senhor, tem a captação de água de muitas cidades pequenas da região.
– E daí? Eles que contratem carros pipa.
– A Agência nos mandou deixar um mínimo de água para a Fazenda Paraiso. Eles têm gado e irrigação lá.
– Deixe alguma água para eles, mas não o que foi mandado. Água não se dá, vale dinheiro. Nós pagamos pela privatização. Temos que recuperar o investimento.
– Vai ficar muito pouca agua na passagem estreita. Há assoreamento, lá. Vai dificultar a navegabilidade.
– Só quem passa por ali são pescadores com barquinhos rasos. Traz outro problema. Esse foi fraco.
– E a nossa concorrente, mais a jusante? Vai ficar com menos vazão.
– Quem manda ela ser nossa concorrente?
– Mas assinamos carta compromisso com a intermediação da Operadora.
Neste ponto, o Chefe fica calado.
– Tem também …
– Chega. Você só vê problemas!
Paulo Metri é conselheiro do Clube de Engenharia.
Esse artigo foi retirado da publicação feita no site “Monitor Mercantil”, do dia 24 de fevereiro de 2021.