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Xi Jinping e Putin confirmam expectativas do “Debate Civilizatório pós Covid: Redenção ou Bárbarie?”

Por Hélio Silveira, Gustavo Galvão e Rogerio Lessa

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Helio Silveira
Helio Silveira
Helio Pires da Silveira - Nascido em 1952 (mesmo ano da criação do BNDES)-Economista aposentado do BNDES: de 1977 a 2012, dos quais nos últimos 6 anos participou da Diretoria da AFBNDES: de 2006 a 2010 como Vice-presidente e 2010 a 2012 como Diretor Institucional e de Comunicação.

99% Uni-vos!

Durante o ano de 2020, preocupados com a Peste Assassina (Covid-19) que atingiu o mundo, expusemos preocupações e sugerimos ações dentro de nosso conhecimento de Finanças Funcionais-FF’s. A utilização e consagração das FF’s (ou MMT) se espalharam por quase todo o planeta, tanto em função da criação de numerários (emissão de moeda) para atender às necessidades do combate ao Covid, como para evitar o enorme choque econômico, que poderia ser até comparável à grande recessão de 1929,  não fosse o uso dos numerários criados para amainá-la.

A crise não está solucionada, as mortes, infelizmente continuam, principalmente com um segundo choque da variante do vírus. Mas assistimos também a relevante atuação da comunidade científica, apresentando em tempo recorde vacinas com resultados que, acreditamos, serão bem-sucedidos.

Nesse período apresentamos três artigos:

– Em 30-05-2020 – Pandemia: teremos uma nova chance pós 2008?” 
Advertimos que um Estado Funcional – EF pode não descobrir a cura da Peste, mas não pode procrastinar numerários para amenizá-la e para compensar o descalabro econômico. Sugerimos ações coordenadas entre as três esferas político-administrativas e todo apoio ao pessoal envolvido no combate à pandemia.

– Em 16-08-2020 – “Pandemia, lições aos 99%”

Diante da desproporção da tsunami de liquidez criada para os 1% versus a economicidade e precariedade do numerário reservado para os 99%,  explicamos a funcionalidade das finanças públicas e como é possível estabelecer a urgência da Renda Vitalícia Universal (evolução da luta de 30 anos do vereador paulista Eduardo Suplicy pela implantação da Renda Básica Universal – RBU) e do Empregador de Última Instância – EUI.

– Em 08-10-2020 – “Cenário Civilizatório pós-Covid: redenção ou barbárie?” 

Apreensivos com os rumos dos acontecimentos e o que poderia ocorrer no pós-Covid, especulamos sobre dois cenários:

  1. a) Positivo: possível hoje, com o domínio das finanças públicas e do nível alcançado na produtividade econômica-tecnológica mundial, fazendo-se urgente a aplicação da RVU e do programa EUI;
  2. b) Negativo: devido ao acúmulo e aumento da riqueza concentrada com o 1% (mesmo na pandemia) na banda ocidental do mundo econômico, o monopólio e a concentração econômica nos países desenvolvidos ocidentais se chocam com o dinamismo e desenvolvimento inclusivo dos países do bloco oriental. E isso pode fazer soar tambores de guerra!

De fato, assistimos na história contemporânea acontecimentos relevantes. No final dos anos 1980, acontecem a queda do Muro de Berlim e o fim da Guerra Fria. O mundo geopolítico, até então dividido em dois blocos, liderados no Ocidente pelos EUA, e no Oriente pela União Soviética, se transforma em unipolar, com hegemonia dos Estados Unidos.

Infelizmente, as regras econômicas são inflexíveis e ao concentrar a hegemonia em um único agente econômico e eliminar a competição político-econômica (entre os dois polos) a economia mundial mostrou disfuncionalidade, em vez de promover uma paz política. A concentração econômica sempre provoca (e provocou) o aparecimento de mega oligopólios econômico-financeiros, concentração de renda, formação de seguidas “bolhas” especulativas e seus “estouros”, redução do crescimento econômico mundial, além de conflitos bélicos localizados, forçando processos migratórios indesejados e a reação dos originários frente ao aumento da competição pelo trabalho, tornado escasso pelas novas tecnologias.

A competição pelos bens tornados escassos provoca fricções sociais. A história revela que nesses momentos, como sub-produto social, aparecem líderes bélicos indesejáveis. A unipolaridade se mostrou um rotundo fracasso na esfera ocidental. Este estado de coisas provocou a grande crise de 2008. A resposta econômica a esta crise foi a enorme  liberação da liquidez pelos Estados Nacionais para os grupos financeiros que a provocaram e pouca ajuda aos trabalhadores precarizados. O resultado da disfuncionalidade econômica é a colossal concentração da renda, ao ponto da consagração de apenas duas classes sociais: o 1% privilegiado e os  99% restantes!

A fria economia pode ser salva pela política

Então, ainda com o aparecimento da Covid, a “Peste Assassina”, caminhamos para um sofrimento sem fim?

Possivelmente, não! Estamos num ponto de inflexão. Corremos riscos, sim, mas acreditamos na divindade e na racionalidade do ser humano. Estamos, sim, num conflito civilizatório entre barbárie e redenção provocado pela unipolaridade. Mas a solução já aparece. Quanto à Peste, o trabalho incansável dos cientistas nos trouxe a vacina. E quanto à economia destroçada? Para o 1%, os dados econômicos demonstram que ganharam. Mas e quanto aos 99%? A esperança também aparece no horizonte; a fria economia pode ser salva pelo seu lado político! Sim a verdadeira Economia é a Economia Política! E o lado político apresenta as possibilidades da saída!

Relatamos que o mundo pós-1980 se tornara unipolar. Só que não! Simultaneamente à hegemonia de uma nação e à falta de competição econômica, duas outras emergiram: a milenar civilização chinesa e a reorganização da nação russa! Aleluia, retornamos à multipolaridade!

Então está tudo resolvido? Não. A competição geopolítica gera fricções e o sucesso econômico dependerá da eficácia do jogo político. Os EUA hegemônico convivem com rachaduras socioeconômicas internas, com sequelas expostas pela forma com a qual combateu a Covid, pela queda do PIB e por uma eleição presidencial que dividiu politicamente o país. China e Rússia, ao contrário, com sucesso, pela eficácia do combate à Peste, com baixa perda econômica, com inclusão social interna e com planos estratégicos funcionais de desenvolvimento externo e inclusão social/econômica pela Eurásia e pelo Mundo.

São três potências nucleares em ação. Uma dividida com a lógica da unipolaridade concentradora, nos 1%. E as outras duas multipolares/multilaterais desejando o desenvolvimento compartilhado com os 99%. É claro que ainda há riscos de tambores de guerra! Oxalá que a lógica da diplomacia prevaleça!

O Fórum Econômico Mundial – “Agenda 21(realizada de forma virtual -“ lives”)” apresentou os discursos de Xi Jinping, no dia 25-01-2021, e de Putin no dia 28-01-2021. Confirmamos junto às falas dos dois líderes, também, o mesmo nível de preocupação com o ambiente de choque político (almejando que seja só político, passível de negociação civilizada) entre os dois blocos, mas entremeados com expectativas positivas. Parece que os dois montaram uma estratégia compartilhada, já que ambos os líderes têm atuado em parceria no âmbito asiático.

Xi Jinping  foi mais assertivo na certeza da promoção e recuperação do desenvolvimento mundial e aponta os caminhos para a integração. Já Putin fez um discurso geopolítico mostrando as ameaças da política unipolar da ainda potência hegemônica e a necessidade da mudança da agenda do conflito para a integração mundial.

Resumindo os dois discursos:

Xi Jinping (https://paraiso-brasil.org/2021/01/31/presidente-xi-jinping-fala-ao-forum-economico-mundial-davos-que-a-tocha-do-multilateralismo-ilumine-sempre-o-caminho-da-humanidade/)

Como grande comandante do processo do forte desenvolvimento chinês, que se espalha pelo globo, fez um discurso preponderantemente positivo de integração mundial.

Baixo risco de barbárie e Redenção dos 99%

– Xi Jinping reafirma aposta nas relações internacionais do ganha-ganha, propõe toda a humanidade de mãos dadas e que a política de converter vizinhos em mendigos sempre falhará!

– Defende o Multilateralismo, uma aliança positiva para o comércio mundial e a integração para todos, com inclusão através das rotas que estão sendo construídas pelo Globo através do Plano “Belt and Road Initiative” em outras palavras “Nova Rota da Seda”!

– Tem certeza da vitória da humanidade contra a Peste.

– Quer o avanço da governança global com regras claras e definidas.

– Quer a reforma da Organização Mundial da Saúde-OMS para promover saúde para todos

– Afirma que é importante ampliar a cooperação em Pesquisa&Desenvolvimento com compartilhamento das informações para fins de produção e distribuição massiva de vacinas acessíveis para todos, dando uma resposta forte e definitiva contra a Covid.

– Diz que a China prestou assistência a mais de 150 países, colaboração com 13 organizações, enviou 36 equipes médicas aos países necessitados.

– Quer a reforma da Organização Mundial do Comércio (OMC) e do sistema financeiro para impulsionar o crescimento dos países em desenvolvimento.

– Defende a reformulação de regras para a Governança Digital Global.

– Avaliza o Acordo de Paris para o desenvolvimento verde.

Putin (https://paraiso-brasil.org/2021/01/30/presidente-vladimir-putin-da-russia-fala-a-reuniao-agenda-2021-do-forum-economico-mundial/)

Como especialista em relações (e reações) internacionais e geopolítica, Putin faz uma análise bem consistente e alerta para os riscos da ordem mundial da, ainda, potência econômica, mas também das possibilidades da situação mundial.

Riscos de Barbárie

– Para Putin,  a polarização política dada pela estratificação social perversa provoca o populismo e radicalização da direita e da esquerda, contaminando os processos políticos de países líderes.

– A Pandemia exacerbou problemas e desequilíbrios previamente acumulados. A situação atual é comparável à dos anos de 1930. As instituições internacionais estão fragilizadas. No século 20 a incapacidade para encontrar soluções levou à II Guerra Mundial. Hoje, um conflito global seria, em princípio, improvável, porque senão aniquilaria a Humanidade.

É preciso ter responsabilidade para evitar este cenário e, ao contrário, assegurar um desenvolvimento positivo, harmonioso e criativo.

Putin expos desafios para a Humanidade:

1º Desafio – Socioeconômico: apesar do progresso material que a globalização proporcionou a países em desenvolvimento, a renda pessoal tem se deteriorado. Mas o lucro corporativo das multinacionais tem se concentrado em 1% da população.

– Na Pandemia, a “flexibilização quantitativa” aumentou a bolha do valor dos ativos e ampliou a divisão social.

– A separação da economia real e virtual representa uma séria ameaça e está plena de choques imprevisíveis.

– A chamada 4ª Revolução Industrial, baseada na Informática, tem destruído empregos, principalmente da classe média. É necessário a atuação do Estado.

2° Desafio – Sociopolítico: As “big techs (as gigantes das redes sociais)” oligopolizadas interferem na vida das pessoas e competem contra o Estado. Seu público (alvo) consiste em bilhões de pessoas que ficam “mergulhadas” neste ecossistema. Tais empresas influenciam pessoas a seguirem modas e comportamentos. Ele cita, como exemplo, o que aconteceu no recente processo eleitoral estadunidense.

3° Desafio – A questão Internacional: os descontentamentos com questões internas são extrapolados para o exterior, atacando países que não concordam com regras impostas, com riscos de imposição de força militar.

Redenção dos 99%, por Putin:

– Diante dos desafios, diz que é importante ter uma Agenda Construtiva.

– Necessário ter a atuação do Estado e interação de Estados para discussão da Agenda Construtiva a nível Global.

– Não será uma economia para benefício de um milhão ou mesmo um bilhão de pessoas. Este modelo é desequilibrado por padrão. Os desenvolvimentos recentes incluindo crises migratórias reafirmaram isto. Então dos fatos às ações redentoras:

– É necessário, reduzir a desigualdade social. Assim se poria fim as crises das grandes migrações e

-É necessário, o desenvolvimento sustentável, o que implica criar novas oportunidades para todos.

As quatro prioridades redentoras, na visão de Putin:

1- Todos devem ter condições de vida confortáveis e o bem estar ambiental;

2- Todos deverão ter certeza de um EMPREGO. Devem ter acesso à EDUCAÇÃO VITALÍCIA, fazer CARREIRA e ter uma PENSÃO DECENTE quando se aposentarem;

3- Todos terão direito a tratamento médico de alta qualidade e eficaz e o SISTEMA NACIONAL DE SAÚDE garantirá o acesso a serviços médicos modernos e

4- Todas as crianças receberão EDUCAÇÃO DECENTE e realizar seu POTENCIAL. Toda criança tem POTENCIAL.

Na visão de Putin está encerrada a era da tentativa da ordem mundial centralizada e unipolar. Ele afirma que a essência daquele monopólio contrariou as forças naturais da diversidade cultural e histórica. A tentativa virou história!

Ele reforça a ideia da consolidação das INSTITUIÇÕES UNIVERSAIS FORTES para garantir a ESTABILIDADE E SEGURANÇA!

CONCLUSÃO: As falas dos dois importantes líderes que juntos comandam uma aliança poderosa e eficaz de desenvolvimento econômico inclusivo (querem a integração da Eurásia, da Ásia, e do Sul/Sul) e de segurança confortam os 99%. A importância e relevância das questões tratadas estão diretamente ligadas ao fato que não foram divulgadas pela mídia ocidental, isto confirma que se trata de verdades inconvenientes para o “status” ocidental. Diante do quadro de descalabro econômico exposto pela Pandemia, em 2020, esta aliança de sucesso e suas afirmações garantem que temos estabelecido o contraponto político institucional. Eles afirmam que querem a integração mundial contra a ordem política do 1%!

As afirmações induzem à esperança e uma garantia que a REDENÇÃO tem uma chance contra a barbárie! Os tambores de guerra ainda soam, mas agora temos aliados para o bom combate.

Então, 99% uni-vos, agora pela REDENÇÃO DA HUMANIDADE!

 

Gustavo GalvãoDoutor em Economia, autor do livro Finanças Funcionais e a Teoria da Moeda Moderna

Helio Silveira – Economista. Funcionário aposentado do BNDES

Rogerio LessaJornalista econômico

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