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anna thereza c r
anna thereza c r
arquiteta | urbanista | yogi • amante das artes | saberes | jornada • entusiasta por desenvolvimento humano

– urbe + humanidade –

 

Revezando entre bancos do motorista, passageiro ou coletivo, enquanto me movo, contemplo através das janelas que sempre me transportam, da alma e dos autos, as distintas perspectivas das cidades.

Vou pensando em Lefebvre e Corbusier, e triste, constato que tanto a apropriação da terra por todos, ingrediente da positividade intelectual do francês, e as ambiências e conexões entre homem|natureza, conceito das unités do franco-suíço, foram se diluindo há exato século.

Penso em Kowarick e Lessa (futuro artigo), com seus vínculos íntimos na agenda desenvolvimentista de direitos, entre cidade, economia e política, em Lerner, na vanguarda da mobilidade, e Bonduki, brilhante professor, hoje vereador em moderníssimo modelo coletivo|SP.

E sem esquecer, com coração aquecido, sorrio ao ver o mais tocante, Lancellotti – o padre, com suas colheradas e palavras, seus tricôs e marreta, nosso inspirador e incansável ‘formigo’.

Todos pensadores urbanos contemporâneos, entre outros tão incríveis quanto, que estiveram, e estão sempre a colocar (ao menos, a tentar) o homem no seu real e jus lugar, o da igualdade democrática.

O direito às ci – dade, dadania, vilidade, não acabou na mesa de todos e o ‘para si’ dominou a narrativa.

A modernização urbana com sua acumulação econômica arrastou, na mesma potência, precariedade de condições, segregação, pobreza e acredito que Juruna tinha razão, quando da falta de reconhecimento histórico, disse que o brasileiro não existe, portanto o que não cabe de consolo, ao menos nos sirva de exemplo.

Acredito também, em Helio Silveira, nosso parceiro movimentista, que diante do cognitivismo do processo de direito por herança, cerne absoluto da desigualdade, nos resta repetir a urgência de seu lema sobre a conscientização dos 99% – Uni-vos!

Meu olhar é dual, um deleite e uma agrura. Por ele, detecto as multi feições e crio íntimos contos humanos, que têm como cenário a inóspita e esgarçada malha urbana, como sujeitos principais, os agoniados puro sangue e antes de fechar a contracapa, um melhor sobreviver que não seja o de puxar carroças.

Somos um enorme desperdício verde/amarelo com uma subcidadania em risco de vida permanente.

Montemos Urbanidade!

Inversão de papéis. Os sempre figurantes serão já, os principais.

Então apartados e jogados no limítrofe do espraiado, do subúrbio, na superlotação dos cômodos encavalados, abandonados em meio ao fio d’água sujo escorrido a céu aberto ou nas poeirentas ruelas.

Os que sob o manto da invisibilidade, na calada da noite, roubam as proteções das marquises alheias, e no cotidiano da violência, desprovidos de liberdade por não possuírem autonomia, só tem isso pra entender.

Aqueles tais que, num eterno ciclo hamsteriano à custa de seus suores e sangues, vivem tão somente para resolver a vida dos que, com claro descaso, decidem suas sortes.

Temos os coadjuvantes, conhecidos no papel da vilania, os gestores públicos famintos dum – espero por ora – capitalismo de alto conflito distributivo, que não pretendendo estar conscientes das agruras cotidianas, desefetivam as políticas assistenciais e, portanto, não viabilizam de fato, por direito e com empatia, o verdadeiro desenvolvimento.

E nós; observadores e sabedores das imperfeições de todos, como bem descreveu Sérgio Buarque de Holanda, em seu de certa medida incompreendido, porém imprescindível, Raízes do Brasil; figurando e quebrando a quarta parede do nosso processo social.

 

– Você mora no centro, certo?

Os dois pés no esterno, que um dia me jogou nas cordas do famigerado lugar de fala, em reuniões acadêmicas que insistia frequentar, também me impulsionou de volta a não revidar no queixo, e entregando os pontos da minha falta de substância, passei a visitar outros horizontes e paisagens urbanas. Como disse no início, o caleidoscópio das perspectivas urbanas, muda de cor, luz, forma, de cheiro, de barulho, altura, velocidade |…| e aquele que não ultrapassar a muralha, não tem como prosseguir DE e NESSA verdade.

Tom Jobim acerta quando do Brasil não é para principiantes. De escala continental, com infindáveis especificidades nas diversas regiões metropolitanas e suas periféricas, nos adensamento|migração populacionais mutantes, nunca foi padrão, e cada simples traço sempre se transformou em objeto complexo.

A peça vai ganhando contorno!

Brainstormemos o argumento e ousemos no efeito Rashomon, como Kurosawa, e venham todos com suas verdades ideais para daí sim, construirmos consenso. Os que escutam, tem maior capacidade de orientar um planejamento com excelência coletiva.

Tenho ideias, nada novas e nem um pouco fáceis, é verdade!

Em urbanismos e arquiteturas, por essas bandas tropicais, comumente se observa uma não relação entre realidade social com economia e estudo|prática de políticas públicas regionais e sim padrões repetitivos sem crítica ou base metodológica apropriada.

A ruptura desses ciclos predatórios, fundamentada na absorção profunda do conhecimento de cada espaço, recuperaria de fato a identidade e estética no sentido pertencente, a capacidade de desempenho de cada urbano e barraria o avanço desordenado das degradações ambientais e dos edificados.

Batendo à mesa o tratado de um novo capitalismo sustentável, horizontal e inclusivo que possa impactar positivamente, tanto às condições urbanas e prioridade da dignidade, quanto seus consequentes ganhos equitativos por todos (sim, até aqueles que vocês, como eu, imaginamos não merecerem).

É mais que sabido, que a essência da urbanidade depende, por um lado, do acesso aos serviços como, educação|saúde|transporte e ao bem viver, com os instrumentos de esporte, lazer e cultura. Por outro, mais ainda na celeridade dos hojes, há que se priorizar, o incentivo de subsistência, através dos permissionários que giram a economia na ponta, como feiras, mercadinhos, depósitos de gás, ambulantes, pequenos prestadores.

 

– Diálogos –

No macro, mesmo possuindo as melhores cabeças e a mais incrível das geografias, de acordo com Milton Santos, por que é tão complicado capacitar e envolver a sociedade no diálogo definitivo do próprio destino, balanceando as abundantes visões e neutralizando essas autocracias?

Como apropriadores que somos das cidades, por qual razão temos tanta dificuldade em perceber a exigência das participações populares – dos protagonistas diretos – na salvaguarda e blindagem das soluções positivas?

Ao mesmo tempo, como reforjar o hercúleo elo entre professores e alunos, esses em maioria tão desconectados do real, para então voltar a encorpar e humanizar a corrente universidades|movimentos populares? Eu acredito nas pontes sustentadas pelo grilhão entre estudiosos dos livros com os da vida.

São desafiadoras as novas pautas em meio a incertezas tão grandes. Mas objetivo posto, como conscientizar os 99%, segundo Helio, para num futuro próximo desenraizar do poder aqueles que, sendo seu poder tão somente o de manter o plano geral em curso, operam ideologicamente para os interesses de poucos, e vive de apagar garantias, direitos e memórias de quem já fomos?

Não sou a ‘Virgem Puríssima’ e utópica (talvez um pouco vá lá, mas quem não O é?) e sei da dificuldade que se avoluma dia após dia. É que pra velha versão boêmica do eu bebo demais só quando eu bebo, eu, urbanizotimista que sou, tenho a, quero soluções urgentes quando eu penso.

Há que se debruçar em torno dos Planos Diretores somados aos Estatutos das Cidades, em três frentes principais e depois, como os hipnotizantes fogos de artifícios, espalhar as fagulhas de acordo com nossas particularidades.

A primeira que, constatando nos PDs (maior elemento de sabotagem contemporânea), o cumprimento do objeto social, o mais precioso entre as demais diretrizes, manter a pressão pelos órgãos e grupos vigilantes.

Minha sugestão passa pela formação de um grupo independente do poder público, formado por uma variedade de cidadãos, com forte engajamento de estudantes ou recém-urbanistas, ainda movidos pelas paixões e que serão os futuros interventores das urbes.

A segunda frente vai ao encontro do caso de não haver o mote social fundamental no ordenamento territorial daquela cidade pela via dos PDs, organizar-se para incorporá-lo com diretrizes de curto, médio e longo prazo, como determinadas na constituição que eles há tanto querem subverter.

Feito isso, incorpora-se a primeira iniciativa fiscalizatória.

Por fim, não sendo obrigatórias as diretrizes; entendam neste lugar, as cidades com menos de 20.000hab; elaborar, baseando-se em casos de sucesso, com equipes éticas|técnicas em conjunto a representantes da população, seus PDs futuros.

– e –

Não consigo distinguir se as cidades são mais belas durante o dia ou à noite, no entanto tenho certeza que elas devem ser cheias de dignidade e sentidos de paz|pertencimento.

Como trabalho com trilhas sonoras ao fundo, termino este, com o volume esperançoso da provocação de Cartola, que cantou sobre sair pelas ruas da cidade, peito aberto, cara ao sol da felicidade, que sabia não é vã, a cor da esperança do amanhã.

Sigo sem perder de vista, o tom moderado e provocativo do poetinha (aquele lá, que quem me acompanha já percebe ser eternão), pra que somar se a gente pode dividir, onde não há mal pior que a descrença e vamos agir com paixão.

E na canção dos créditos, o satisfeito sussurro do Bituca (maior paixão mineira), que disse que o amor, é estrada de fazer o sonho acontecer.

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