Com a idade de apenas 32 anos em 1945, Wernher von Braun era um dos mais brilhantes engenheiros aeroespaciais da época, em todo o planeta. Desde os anos 1930, trabalhava sob a supervisão de Hermann Oberth, pai do foguete alemão.
Entretanto, após a ascensão ao poder do Nazismo em 1933, juntou-se ao Partido comandado por Hitler. Sua promoção a Comandante se deu quando se subordinou ao mando pessoal do chefe da organização das SS, Heinrich Himmler, o segundo homem mais poderoso da Alemanha Nazista.
Durante a guerra, von Braun trabalhou no centro de Peenemünde, no projeto dos foguetes denominados V2, que ele próprio batizou como de “guerra nas estrelas”. Os foguetes aí projetados, eram construídos na fábrica Mittelwerk por pessoal escravo, vindo do campo de concentração de Dachau e Dara, escolhidos a dedo pelo comandante. Sob as ordens diretas de von Braun, pelo menos 30.000 judeus e russos foram mortos na fábrica de Mittlewerk.
A ação dos foguetes V2, foram responsáveis pela destruição de boa parte da cidade de Londres.
Com a derrota próxima da Alemanha, em março de 1945, von Braun decidiu entregar-se voluntariamente, juntamente com seus principais auxiliares, aos americanos. Um mês após, com a vitória dos Aliados, todo o grupo ficou sob a responsabilidade do coronel do Estado-Maior Americano, Holger Toftoy. Este “convenceu” von Braun e seus subordinados a desenvolver pesquisas de lançamentos de mísseis de guerra nos EUA. Ora, a maior parte dos cientistas alemães nazistas corria o risco, se permanecessem na Europa, de serem levados perante um tribunal por participação e cumplicidade em crimes de guerra.
Paralelamente, um dos diretores da JIOA, futura CIA, E. W. Gruhn se encarregou de estabelecer uma lista dos cientistas alemães e austríacos mais qualificados para serem recrutados e enviados para os USA. Apoiou-se para isso no criminoso nazista Werner Osenberg, comandante da secção científica da Gestapo, encarregada de exterminar cientistas que haviam perdido a confiança do Reich.
Pois Osenberg estabeleceu uma lista de quinze mil nomes de cientistas, nazistas convictos, e, encabeçando-os, estava Wernher von Braun.
Walter Jessel, Tenente do Exército Americano, foi encarregado em 1945 de avaliar possível lealdade dos cientistas para com os USA, antes que deixassem a Alemanha. O seu relatório, baseado em interrogatórios, concluiu que von Braun e os seus homens procuravam esconder informações. De acordo com o militar, confiar nos nazistas seria «um absurdo evidente».
O relatório de Jessel foi simplesmente ignorado e, posteriormente, classificado como ultrassecreto.
O comandante James Hamill, diretamente responsável pelo grupo de cientistas da “Operação Paperclip”, afirmou orientado pelo criminoso nazista Werner Osenberg, que «os membros da Paperclip eram autorizados a ter largamente acesso às informações secretas”. Os USA confiavam totalmente nos cientistas nazistas!
Desta forma, Wernher von Braun embarcou para os EUA através do então secreto programa “Operação Paperclip”.
Von Braun estava entre os cientistas para os quais a CIA criou históricos falsos e excluiu qualquer registro de envolvimento com o Partido Nazista, concedendo a eles total liberdade para trabalhar nos Estados Unidos. Obteve a cidadania americana em 1955, sempre com a ajuda da CIA.
O primeiro programa confiado a von Braun não obteve, entretanto, os resultados esperados. Em Junho de 1947, o primeiro míssil americano V2 foi lançado d e uma rampa de lançamento no Novo México. O foguete afastou-se da sua trajetória inicial para se espatifar do outro lado da fronteira mexicana.
Depois disso, von Braun e sua equipe passaram a realizar treinamento para o pessoal militar, universitário e da indústria privada, das complexidades relativas aos foguetes e mísseis guiados. Também deram continuidade aos estudos do potencial dos foguetes para aplicações militares e de pesquisa.
Entre 1950 e 1956, von Braun liderou a equipe de desenvolvimento de foguetes do Exército no Redstone Arsenal, resultando no foguete denominado Redstone, que foi utilizado no primeiro teste real de míssil balístico nuclear conduzido pelos Estados Unidos!
Como diretor da divisão de operação e desenvolvimento da Army Ballistic Missile Agency (ABMA), von Braun, liderou sua equipe no desenvolvimento do foguete Jupiter-C, um Redstone modificado. O Jupiter-C foi o foguete utilizado no lançamento do primeiro satélite Norte americano, o Explorer I, em 31 de janeiro de 1958, evento que pode ser considerado como o nascimento do programa espacial dos Estados Unidos.
Em 1958, Wernher von Braun foi capa da Revista Time como “O Homem Míssel”.
Na esperança de que o seu envolvimento pudesse trazer mais interesse do público para o futuro do programa espacial, von Braun começou a trabalhar com Walt Disney e os seus estúdios, na função de diretor técnico em filmes sobre exploração espacial. A primeira transmissão dedicada a esse tema, foi “Man in Space” que foi ao ar pela primeira vez em 9 de março de 1955, atingindo 42 milhões de pessoas!
A NASA foi criada em julho de 1958. Von Braun, logo a seguir, foi convidado a assumir a posição de diretor do Centro Espacial de Voo Marshall, onde permaneceu até 1970. Em todo este período, referiam-se ao alemão como ao “Dono da NASA”.
O primeiro grande programa do centro Marshall foi o desenvolvimento dos foguetes Saturno para transportar cargas úteis maiores para além da órbita da Terra. A partir deste, o Programa Apollo para voos tripulados à Lua foi gerado.
O sonho do cientista alemão de conduzir a espécie humana a pousar na Lua se tornou realidade em 16 de julho de 1969, quando um foguete Saturno desenvolvido no centro Marshall, lançou a tripulação da Apollo 11 na sua missão histórica de oito dias. Ao longo do programa Apollo, os foguetes Saturno V permitiram que tripulações de astronautas atingissem a superfície da Lua.
Von Braun foi também o pai do foguete Saturno V, que levou os astronautas dos EUA à Lua.
Em 1972, devido à redução orçamentária, Wernher von Braun deixou a NASA para se tornar diretor adjunto da empresa Fairchild Industries, fornecedora da NASA, com um dos mais milionários salários da época, acima de 1 milhão de dólares anuais! Lá desenvolveu a concepção daquele que seria o primeiro laboratório espacial.
Em 1976, foi tornou consultor científico de Lutz Kayser, e membro do quadro diretor da empresa alemã Daimler-Benz.
Em 16 de junho de 1977, Wernher von Braun morreu de câncer pancreático na Virgínia, aos 65 anos de idade, tendo recebido honras similares a de um chefe de Estado!
Seu passado de genocida nazista foi, até a abertura dos arquivos secretos americanos, mantido a sete chaves, em busca do esquecimento!
Fontes:
Business Insider, May 7, 2018, “The most impactful event in every state that shaped US history”
Vulture, June 24, 2019, “The Full-Circle Journey of ‘Homer Simpson Backs Into the Bushes’”
PBS NewsHour on YouTube, March 31, 2014, “When the U.S. recruited Nazis for ‘Operation Paperclip'”
The Mimi Geerges Show on YouTube, March 19, 2014, “Bringing Nazi Scientists to America – Annie Jacobsen”
Smithsonian Magazine, Nov. 16, 2016, “Why the U.S. Government Brought Nazi Scientists to America After World War II.”
NPR, Feb. 15, 2014, “The Secret Operation To Bring Nazi Scientists To America.”
Central Intelligence Agency Library, Oct. 6, 2014, “Operation Paperclip: The Secret Intelligence Program to Bring Nazi Scientists to America”
National Archives, Oct. 11, 2016, “Records of the Secretary of Defense (RG 330)”
Esquire, Feb. 23, “Hunters’ Nazi NASA Scientists Are Based on the True Story of Operation Paperclip”
Time, July 18, 2019, “How Historians Are Reckoning With the Former Nazi Who Launched America’s Space Program”
The Associated Press, Oct. 26, 1993, “Portrait of Nazi Prompts Protest”
The Virginian-Pilot, Jul. 20, 2014, “How the U.S. secretly scooped Hitler’s top scientists”
Esse artigo foi retirado do site “Espaço Literário Marcel Proust”, do dia 10 de março de 2021.