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“Rússia é o inimigo”: eis o filão-fake que está salvando do colapso a indústria da ‘Publicidade & Marketing’ e garantindo nossos (dos jornalistas) empregos

John Helmer, Dances with bears

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— “Como aqui a morte é tanta,
só é possível trabalhar
nessas profissões que fazem
da morte ofício ou bazar.”

João Cabral de MELO NETO. Morte e vida Severina (1955)
e outros poemas para vozes, 1994, Rio de Janeiro: Nova Fronteira.*

A craca é animal sem ambições. Depois que se agarra ao casco, nenhuma craca passa a achar que poderia influenciar a velocidade ou a direção do barco. A craca só cuida de comer e reproduzir-se. A craca é boa nisso, porque pênis e boca desse ser são próximos, muito mais próximos do que se verifica na maioria dos/das jornalistas. Quanto a isso, o/a artrópode é um/uma cabeça-de-caralho.

Jornalistas anglo-norte-americanos reportando sobre outros jornalistas que reportam sobre a Rússia são seres aos quais falta a modéstia tipo genital-enfiado-na-boca, das cracas. Mas, seja na mídia dominante seja na dita ‘alternativa’, vivem paradaços, ali, grudados onde se tenham grudado; e têm de se alimentar uns dos outros. Problema é que, diferentes das cracas, jornalistas acham que mandam no navio, na luta contra a Rússia; assim se convencem de que vale(ria) a pena todos pensarem como pensam, esses cabeças-de-caralho.

Os mercados de publicidade são igualmente ambiciosos, parasitários e cabeça-de-caralho. Mas não o são do mesmo modo, nos EUA e na Rússia. Os mais recentes balanços de o quanto esses mercados ganham com publicidade revelam que, não fossem as campanhas eleitorais em 2020, o volume do dinheiro gasto para tentar persuadir o povo norte-americano teria caído 17%. Aí se computa só o dinheiro gasto em spots de publicidade para dizer ao povo em quem votar; aí não está computado o dinheiro gasto para dizer ao povo o quê/como pensar. São dinheiros correlacionados, porque se o dinheiro gasto na publicidade tradicional cai, também somem empregos para jornalistas.

O outro motor dos ganhos da indústria da publicidade nos EUA ano passado foi relacionado à pandemia: a Amazon, de propriedade de Jeff Bezos. E quanto mais dinheiro Bezos ganha com publicidade, mais dinheiro pode perder para promover guerra contra a Rússia no Washington Post.

De modo geral, a pandemia de Covid-19 ajudou a aumentar a leitura de jornais da mídia comercial – sem por isso aumentar os ganhos das empresas. Mas no mercado dos EUA não há competição de quem ganha mais com a guerra contra a Rússia entre o Washington Post e o New York Times –, não, pelo menos, do modo como a guerra contra a Espanha serviu, noutros tempos, à concorrência entre o New York Journal de William Randolph Hearst, e o New York World de Joseph Pulitzer.

Contudo, a combinação, ano passado, de Covid-19 e guerra contra a Rússia fez crescer a confiança do leitor na marca New York Times, comparada à confiança do mesmo leitor na marca Bezos, no Post, considerada mais confiável que o Times, em 2019. O Times, comparado ao Post, também ampliou sua liderança nos números de leitores/leituras online.

Na Rússia, segundo matéria da Associação de Agências de Comunicação da Rússia (ing. Association of Communications Agencies of Rússia, AKAR) divulgada semana passada, o total gasto em publicidade em todas as mídias para 2020 chegou a 473 bilhões de rublos ($6,5 bilhões); 4% menos que em 2019. O jornalismo russo tradicional em jornais impressos sofreu mais – os gastos nesse segmento de mercado caíram 50%; publicidade por rádio caiu 30%; publicidade em trens e ônibus, caiu 38%; publicidade em outdoors, caíram 27%. E ganhos em publicidade para internet cresceram 4%; em vídeos, 5%.

Aconteceu também que a pressão sobre os russos para impor as restrições devidas à pandemia de Covid-19 disparou o maior aumento em gastos estatais, pelos quais responde o Sberbank,[1] banco estatal de investimentos. Em segundo lugar, em ganho percentual no mercado russo, aparece Leomax, varejista de vendas por televisão, e Miratorg, produtor e distribuidor de produtos de carne. A publicidade política era insignificante no mercado russo; e não se esperam eleições parlamentares antes de setembro de 2021; e eleições presidenciais só virão em março de 2024.

Relatórios da Associação de Agências de Comunicação da Rússia (ing. Association of Communications Agencies of Russia, ru. AKAR) mostram que os resultados do mercado publicitário russo “foram bastante satisfatórios, dada a queda média no mercado publicitário global, de 7,5%; e dado que muitos mercados estrangeiros líderes caíram de 10% a 15%, e até 20%.”

Os totais do país para gastos em publicidade diferem significativamente entre as fontes principais de dados, mas as posições relativas dos países e comparadas ao agregado global não variam entre as fontes. (Fonte: https://www.campaignasia.com/)

Segundo Sergei Veselov, vice-presidente da AKAR e diretor da comissão de pesquisa e auditagem, “a crise do Covid foi em enorme medida criada pelo homem e, por natureza, é crise de má administração. Começou a se manifestar por efeito de proibições do próprio governo – sentar-se em casa, não dirigir, não entrar em restaurantes, não participar de nenhum entretenimento, restringir as operações comerciais, trabalho exclusivamente remoto, etc. Tudo isso teve impacto direto no estado da economia e na renda da população, o que reduziu significativamente a atividade das empresas de publicidade e marketing. Ao mesmo tempo, o fim das restrições supostamente motivadas pela pandemia, no verão, não fez reviver automaticamente a economia; e foi preciso empreender esforços sérios para fazê-la reviver.”

“O mercado publicitário russo passou por um difícil ano de Covid com resultados muito melhores que a vasta maioria dos mercados estrangeiros de publicidade: o mercado publicitário global caiu, segundo Zenith, 7,5%; o mercado russo só caiu 4%. E ao mesmo tempo, os mercados da Europa Ocidental perderam em média cerca de 12% dos orçamentos de publicidade; Índia, Brasil e México, 10%-17%; Japão, 8%.”

 Para ver o relatório Zenith, clique aqui.

“As várias categorias de bens e serviços anunciados” – explicou Veselov, “ambos sob influência de restrições industriais específicas e devido ao declínio na atividade de consumo da população, sofreram em diferentes graus durante essa crise. Mais que outras, empresas que operam nas indústrias do entretenimento e do turismo, nos mercados de carros de passeio, celulares, cosméticos e perfumes e comércio varejista tradicional reduziram sua atividade no mercado de publicidade e marketing. Ao mesmo tempo, por outro lado, alguns segmentos na crise aumentaram os orçamentos para publicidade e marketing – dentre esses, destacam-se o comércio primariamente online, vários serviços de internet, produtos de higiene, medicamentos e alimentos.”

“Em todas as crises anteriores, não se observaram mudanças radicais nas preferências dos públicos em relação aos veículos. Mas dessa vez, em plena crise, houve séria redistribuição dos públicos e, resultado disso, dos orçamentos de publicidade entre segmentos de mídia. Muito compreensivelmente, subiram os números dos públicos para TV e internet, com as pessoas forçadas a ficar em casa. Mas houve queda em todos os demais segmentos.

A imprensa sofreu muito, porque houve queda significativa no número de bancas em que se vendiam jornais e revistas, dadas as restrições de circulação motivadas pela pandemia. Na verdade, 2/3 da audiência de rádio acontecia ‘em trânsito’, com as pessoas deslocando-se (ou engarrafadas) em carros. Com a restrição à circulação de carros, a audiências também caiu significativamente. O tráfego, no mercado de painéis externos (publicidade em outdoors) chegou, em alguns meses, a cair 3-4 vezes.”

“Durante a pandemia, todos os segmentos do mercado de publicidade foram afetados, mas em diferentes graus. A internet, no mercado russo reduziu orçamentos de publicidade; no segundo trimestre, caiu 11%. Mas no final do ano, o gasto em publicidade pela internet voltou ao patamar positivo. A TV conseguiu relativo sucesso ao longo do ano de crise e, pela primeira vez desde 2009, aumentou sua fatia no mercado publicitário, com crescimento de 5% no último trimestre de 2020.”

“Houve meses em que o orçamento para publicidade por outdoors, rádio e imprensa foi reduzido em 2-3 vezes, mas ao final do ano a situação começou a melhorar gradualmente. Ao mesmo tempo, a participação da publicidade por rádio, imprensa e outdoors no total do mercado publicitário na Rússia caiu quase 1,5 vezes – de 15,2% para 10,8%.”

“A dinâmica do trimestre no mercado russo de publicidade deu alguma esperança de que a situação melhoraria. No segundo trimestre de 2020, esse mercado caíra 23%; no terceiro trimestre, chegou a crescimento negativo de -4%; e no último trimestre do ano, graças a TV e internet, o mercado publicitário doméstico mostrou crescimento positivo, de 4%.”

– Principais 10 anunciantes, Rússia, em 2020
(% do gasto publicitário total, excluída a internet)

Anunciantes que subiram no ano para os top-10 aparecem em negrito. (Fonte: AKAR)     

AQUI, quadro mais amplo de como a publicidade em jornais dos EUA mudou ao longo dos últimos 20 anos.

Para conhecer o fracasso do Post de Bezos, que não conseguiu avançar sobre o New York Times nem tampouco contra o Wall Street Journal e a Fox News online de Rupert Murdoch, consulte relatórios do Reuters Institute for the Study of Journalism – 20192020. São relatório pagos também por George Soros, Google e o Commissariaat voor de media, do governo da Holanda.

Por falar nisso, não há qualquer sinal de que a mídia dita ‘alternativa’, que não depende de anunciantes, plataformas como Substack e medium.com, e agregadores especiais por tópicos, tenham conseguido sequer arranhar, levemente, que fosse, o número de leitores ou a confiança que têm no Times e no Post.

Em vez disso, a mídia dita ‘alternativa’ está consolidando, como público pagante, um público minoritário de tradicionais não pagantes, e multiplicando os ganhos para um punhado de repórteres; para esses, a guerra contra a Rússia não difere(m) de outros meios para remunerar jornalistas. Mas, como sempre acontece, a guerra contra a Rússia paga salários ainda melhores a jornalistas, se se empregam como agentes de unidades de infoguerra, tipo think-tanks, universidades, agências de inteligência, exércitos [igrejas, ministérios, Supremo Tribunais…]. *******

* Epígrafe acrescentada pelos tradutores.

[1] O Sberbank é o maior banco russo de investimentos e Banco de Compensações Internacionais. Em abril de 2020, o fundador e principal acionista do Sberbank, o Banco Central da Federação Russa, vendeu sua maioria acionária de 50% +1 dos votos ao governo da Federação Russa, representada pelo Ministério das Finanças. (De Sberbank, tradução automática ru-ing.) [NTs]

Esse artigo foi retirado do site “Dances with bears”, do dia 21 de março de 2021.

Tradução: Coletivo Vila Mandinga 

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