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A Baixa Participação Governamental Paga pela Vale

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Paulo César Ribeiro Lima
Paulo César Ribeiro Lima
Foi funcionário do Banco do Brasil e servidor do Banco Central. Depois de se formar em engenharia, na Universidade Federal de Minas Gerais, foi aprovado em concurso da Petrobrás, onde trabalhou por cerca de 16 anos. Por ter sido o primeiro colocado, escolheu o Centro de Pesquisas da Petrobrás (Cenpes), onde trabalhou no desenvolvimento de tecnologias para exploração e produção de petróleo em águas profundas. Fez mestrado em engenharia na Universidade Federal do Rio de Janeiro e doutorado na Universidade de Cranfield na Inglaterra. Sua tese de doutorado foi premiada como a melhor tese da Escola de Engenharia. Também foi professor da Universidade Estadual do Norte Fluminense, do Programa de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro – COPPE e do Instituto de Ensino Superior Planalto. Em 2002, fez concurso para Consultor Legislativo do Senado e da Câmara dos Deputados para a Área de Economia-Minas e Energia; foi aprovado em ambos. Ao longo dos seus 15 anos de trabalho como Consultor Legislativo, participou ativamente do processo legislativo no Congresso Nacional, com destaque para os novos marcos legais do Pré-Sal, dos royalties para a educação e saúde, dos biocombustíveis, do setor elétrico e do setor mineral. Depois de 38 anos de trabalho formal, aposentou-se em 2018. Atualmente, é consultor da Advocacia Garcez em Brasília.

No cenário mundial, o Brasil caracteriza-se por um baixo pagamento de participação governamental tanto pelas empresas petrolíferas quanto pelas empresas mineradoras. Este artigo analisa a participação governamental paga pela Vale S.A. (Vale).

A Vale é uma das mineradoras líderes no mercado global de minério de ferro, pelotas de minério de ferro e níquel. As rochas encontradas em Carajás são formadas por 67% de teor de minério de ferro, o teor mais alto do planeta[1].

A empresa é a maior produtora mundial de minério de ferro e pelotas, matérias-primas essenciais para a fabricação de aço. As minas da Vale estão concentradas no Brasil, onde a empresa também opera plantas de pelotização. A Vale também tem duas usinas pelotizadoras em Omã e participação em joint ventures na China para a produção de pelotas, que são pequenos aglomerados de partículas de ferro[2].

As Demonstrações Financeiras da Vale, de 31 de dezembro de 2020, mostram que a empresa é extremamente rentável[3]. A Figura 1 apresenta a Demonstração do Resultado Consolidado e da Controladora nos anos de 2018, 2019 e 2020.

Nesses três anos, a Receita de vendas, líquida, da Vale foi de R$ 491,7 bilhões; o lucro bruto foi de R$ 228,1 bilhões. Nesse período, a margem bruta média foi de 45,3%.

Em 2020, o lucro bruto da Vale foi de R$ 110 bilhões, mas o lucro operacional foi de apenas R$ 57,5 bilhões. A grande diferença entre o lucro bruto e o lucro operacional decorreu, principalmente, do “Evento Brumadinho” e da “Redução ao valor recuperável e baixas de ativos não circulantes”, que totalizaram, respectivamente, R$ 27,0 bilhões e R$ 11,8 bilhões.

Nesses três anos, a receita operacional da Vale foi de R$ 106,3 bilhões. Excluídos o “Evento Brumadinho” e a “Redução ao valor recuperável e baixas de ativos não circulantes, que totalizaram R$ 91,9 bilhões, a “receita operacional líquida” da Vale foi de R$ 198,2 bilhões.

Figura 1: Demonstração dos Resultados da Vale

Depois das “deduções financeiras”, o lucro antes dos tributos de 2020 foi de R$ 27,9 bilhões, mas o tributo sobre o lucro foi de apenas R$ 3 bilhões. No entanto, nos anos de 2019 e 2018, a Vale “recebeu”, respectivamente, tributos de R$ 2,5 bilhões e R$ 966 milhões. Desse modo, em 2020, 2019 e 2018, a Vale não pagou tributos sobre o lucro, mas “recebeu” R$ 450 milhões.

Nesses três anos, a Vale pagou royalties de R$ 10,32 bilhões. Assim, a Vale pagou uma participação governamental referente a tributos sobre o lucro e royalties de R$ 9,87 bilhões.

Em termos percentuais, esse valor de R$ 9,87 bilhões representa apenas 4,98% da “receita operacional líquida” de R$ 198,2 bilhões. Os pagamentos de Imposto sobre a Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ), de Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) e de Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM) representam apenas 2,01% da Receita de vendas, líquida, de R$ 491,6 bilhões.

A Vale é grande exportadora de minério de ferro produzido nas melhores jazidas do mundo. Entretanto, de acordo com a Constituição Federal, art. 155, § 2º, X, os produtos exportados estão imunes ao ICMS. Também a contribuição para o PIS/Pasep não incide sobre as receitas decorrentes das operações de exportação de mercadorias, de acordo com o art. 5º da Lei 10.637/2002. Além disso, a COFINS não incide sobre as receitas decorrentes das operações de exportação de mercadorias para o exterior.

Quanto ao IRPJ e CSLL, as empresas do setor mineral e petrolífero, mesmo sendo extremamente lucrativas, têm à disposição uma série de instrumentos legais que permitem baixos lucros e, até mesmo, prejuízos contábeis.

Nesse contexto de a Vale não pagar tributos sobre a renda e de baixa participação governamental, seria fundamental rediscutir a tributação da exportação de produtos como o minério de ferro, extraído de estratégicas jazidas pertencentes à União. A tributação da exportação de minério de ferro e de outros bens minerais poderia, ainda, ser um importante instrumento de industrialização no Brasil.

Autor: Paulo César Ribeiro Lima, PhD

 

[1] Disponível em http://www.vale.com/brasil/PT/business/mining/Paginas/default.aspx. Acesso em 17 de março de 2021.

[2] Disponível em http://www.vale.com/brasil/PT/business/mining/iron-ore-pellets/Paginas/default.aspx. Acesso em 17 de março de 2021.

[3] Disponível em http://www.vale.com/PT/investors/information-market/financial-statements/FinancialStatementsDocs/BRGAAP%204T20_Final_p.pdf. Acesso em 17 de março de 2021.

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