No Brasil, a primeira vacina para a Covid-19 foi aplicada em 17/01/2021. Hoje, 27 de abril, estamos completando 100 dias da 1ª vacinação.
As estatísticas oficiais do Ministério da Saúde registram que 38,7 milhões de brasileiros tomaram a primeira dose e que 11,6 milhões receberam as duas doses. Então a média diária de vacinação é de 387 mil para a primeira dose.
A segunda dose deve ser aplicada após intervalo de 14 a 28 dias para a Coronavac e de 90 dias para a AstraZeneca. Para simplificar, vamos supor um intervalo médio de 30 dias, já que a maioria tomou Coronavac. Neste caso teremos a média diária de 166 mil pessoas duplamente vacinadas em 70 dias.
A população atualizada do Brasil, segundo projeção do IBGE, é de 214 milhões. Em média, 85% da população dos países opta pela vacina. Então podemos dizer que, no Brasil, o público alvo é de 182 milhões de pessoas. O governo federal precisou de 100 dias para vacinar 21% da população-alvo com a primeira dose e 6% com as duas doses.
O ritmo de vacinação do governo Bolsonaro é bom, mediano ou péssimo?
Deixemos que os próprios números respondam. Dividindo a população alvo pelo ritmo médio de aplicação da primeira dose — 387 mil vacinas/dia — obtemos 469 dias. A ser mantido tal ritmo, toda a população-alvo teria recebido a primeira dose em 01/05/2022.
Ocorre, no entanto, que a plena imunização da população exige duas doses. Para fazer tal projeção, dividimos a média de 166 mil imunizados por dia pela população-alvo. Obtivemos 1.098 dias. Isto empurraria a data de término da vacinação para 19/01/2024, ou seja, dois anos após o término do governo Bolsonaro.
A vacinação está atrasada porque Bolsonaro passou o ano de 2020 inteiro boicotando a vacinação e hostilizando o país que exporta os imunizantes usados na fabricação da vacina. Tudo o que o governo federal poderia fazer para sabotar o combate à pandemia ele fez. No futuro, historiadores vão ler sobre os atos do governo Bolsonaro e duvidar de sua veracidade. Muitos irão considerar o personagem absurdo demais para ser real. Jair Bolsonaro vai se tornar, literalmente, um mito.
A situação do Brasil poderia ser muito pior. O que nos salvou de uma crise sanitária maior foi o SUS, além de duas estatais que Dória e Bolsonaro ainda não conseguiram privatizar, o instituto Butantan e a Fiocruz. Mas, para sermos justos, temos que tapar o nariz e fazer um elogio ao Dória.
Não tenho simpatia pela criatura. A principal diferença entre Dória e um bolsonarista típico é que o governador sabe comer de talher. Mas não há como negar que ele lutou pela vacina do Butantan desde o início. Sete em cada 10 brasileiros tomaram a vacina fabricada em São Paulo.
Um país onde a Covid-19 matou 392 mil deveria ter pressa, muita pressa, em vacinar sua população. Se, decorridos 100 dias do início da vacinação, apenas 6% da população-alvo está imunizada — o país está descumprindo sua obrigação de zelar pela saúde da população.
Petronio Portella Filho