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O que aconteceu na Ucrânia?

Por The Saker

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Antes de examinarmos o que acabou de acontecer na Ucrânia precisamos recapitular a sequência dos acontecimentos que levaram à presente situação. Tentarei fazer um breve resumo (saltando muitos pormenores) em estilo de pontos:

1. Não sabemos se Ze inicialmente pretendia parar a guerra no leste da Ucrânia, mas o que sabemos é que ele não só não conseguiu pará-la como em muitos aspectos as suas políticas foram ainda piores do que as de Poroshenko. Isto pode ser o conhecido fenómeno de um político supostamente “favorável à paz e à felicidade” ser acusado de ser “fraco” e portanto não “presidencial”. Este político tem assim de mostrar que a sua “força” é o “patriotismo”, ou seja, tem de atuar de forma precipitada na frente externa. Vemos isso em políticos putativamente “liberais”, como os Democratas nos EUA e os Trabalhistas em Israel. Historicamente, os “liberais” são os iniciadores de guerra mais comuns. Ze mostrou a sua fraqueza quase desde o primeiro dia e os Ukronazis aproveitaram imediatamente esta oportunidade para se envolverem numa campanha maciça de guerra a vários níveis contra a Rússia. Isto resultou em:

2. Um repúdio quase oficial dos Acordos de Minsk e da Fórmula Steinmeier por parte de Kiev, seguido por um aumento drástico de declarações belicosas e, mais crucialmente, num movimento de forças em grande escala (incluindo tanques, artilharia pesada, MLRS e mesmo mísseis balísticos!) em direção à linha de contato. Ao mesmo tempo, políticos ukronazis começaram a fazer declarações dizendo que a) o exército ucraniano era capaz e desejava “libertar” toda a terra ucraniana da “ocupação russa”, incluindo tanto o Donbass como a Crimeia; b) que a Rússia ia atacar a Ucrânia de qualquer modo e c) que o ocidente unificado tinha de ajudar a Ucrânia porque só forças ucranianas estavam a manter as hordas russas de bêbados asiáticos de conquistarem não só a Ucrânia mas mesmo o resto da Europa. Uma vez que a Ucrânia simplesmente não tem meios de ação, isto levanta a questão da lógica dos EUA (e, num menor grau, do Reino Unido) para estes movimentos. É bastante simples:

3. Força a Rússia a intervir abertamente para proteger a população do Donbass do genocídio inevitável que os ukronazis cometeriam na população das Repúblicas Populares de Lugansk e Donetsk (LDNR).

Em que medida era bom este plano? Eu argumentaria que era um plano muito sólido pois, para os EUA, significava uma situação vence-vence. Aqui está como isto seria feito:

Primeiro, as forças ucranianas atacariam as LDNR, provavelmente ao longo de três eixos: um entre a cidade de Gorlovka e Donetsk, um frontalmente atacando a própria [cidade de] Donetsk e um no sul com o objectivo de alcançar a fronteira russa. Deste modo, os defensores das LDNR teriam de defender sua capitais enquanto, ao mesmo tempo, arriscavam-se a deixar-se envolver nos dois eixos. Recordar que as LDNR não têm profundidade estratégica (Donetsk está praticamente na linha de frente) e que os defensores da LDNR não poderiam intercambiar espaço por tempo.

[Em paralelo: tenho visto alguns “peritos” a dizerem que uma vez que os ucranianos haviam colocado um grande número de minas eles claramente não estão em vias de atacar pois perderiam tempo – e possivelmente homens – para cruzar estes campos minados. Primeiro, não há meio de saber se estas minas são reais ou falsas (muitas minas também têm um temporizador, de qualquer modo) mas, segundo, mais crucialmente: uma força atacante sempre quer concentrar numa localização específica da linha de contato, o que significa que as forças atacantes não têm apenas de atacar, mas também protegerem-se de contra-ataques inimigos: campos de minas são muito eficazes e proporcionam esta espécie de proteção. Os movimentos “defensivos” podem, na realidade, formar uma parte integral de quaisquer planos ofensivos]

Naturalmente, a Grande Questão era esta:   poderiam as forças LDNR travar os ukronazis? Há aqueles que dizem que sim e aqueles que dizem não. Ao invés de sugerir uma resposta, vamos examinar ambos os resultados disto:

Opção 1: as forças LDNR detêm com êxito a invasão ucraniana:

Este seria, de longe, o melhor resultado para a Rússia, mas para a LDNR este resultado, se bem que melhor do que uma derrota, provavelmente resultaria num bocado de mortes e destruição. Sabemos que tanto os militares ucranianos como as forças LDNR foram profundamente reformados e reestruturados desde 2014. Crucialmente, as forças LDNR passaram de auto organizadas e milícias díspares para uma forças militar convencional capaz de operações combinadas de armas a nível operacional. Seria isto suficiente para travar uma força ucraniana maior? Possivelmente. Mas isto de modo algum é certo, não só porque guerra é uma coisa imprevisível mas também porque realmente não há meio de saber quão bem os militares ucranianos foram reformados. Se eles obtiveram o mesmo tipo de “treino” dos georgianos nos anos levaram ao 8/Agosto/2008 então há uma boa razão para duvidar disto. Os líderes da LDNR, contudo, não se envolvem em bravatas e agitações imbecis de bandeira, eles levam a ameaça muito a sério, o que nos diz que não estavam de modo algum certos do que aconteceria a seguir. Agora vamos examinar a opção 2:

Optção 2: as defesas LDNR finalmente colapsam em uma ou mesmo várias localizações:

O que aconteceria se as forças LDNR falhassem em travar os ucranianos? Nesta altura, a Rússia não teria absolutamente nenhuma escolha senão intervir para salvar o povo do Donbass (mas de meio milhão do qual já têm passaportes russos!). Não discutirei aqui as opções que haveria para um contra-ataque LDNR+Rússia ou quanta terra ocupada pelos ukronazis a Rússia poderia ou deveria libertar (este não é o tópico aqui). Neste caso, duas coisas são absolutamente certas:

1. A Rússia derrotaria totalmente qualquer combinação de forças ucranianas.

2. Os EUA/NATO declarariam um estado de quase guerra com a Rússia e criariam algo semelhante ao Muro de Berlim ao longo de qualquer linha de contato que resultasse do contra-ataque russo.

Neste cenário, o maior perdedor seria, naturalmente, a Ucrânia. Mas o perdedor a seguir seria a Rússia, porque ao invés de “apenas” tratar com um regime nazi lunático junto à sua porta, a Rússia agora enfrentaria um ocidente consolidado histericamente paranoico e russofóbico. No fim de uma guerra assim, a Rússia enfrentaria algo semelhante ao que acontecer no fim da guerra da Coreia: um cessar-fogo seguido por décadas de tensões.

O grande vencedor seria os EUA: seu principal instrumento para a colonização da Europa (NATO) finalmente encontraria um propósito na vida (travar os russos, naturalmente), o Nord Stream 2 e outras cooperações entre a UE e a Rússia seriam todas congeladas totalmente, tornando a economia europeia não competitiva contra os EUA e o complexo militar-industrial estado-unidense teria uma grande oportunidade para vender hardware militar muito caro, ainda que não muito eficaz, a todos os países europeus. E essa vitória estratégica dos EUA não custaria aos Estados Unidos nem um único soldado! Como é que se pode não gostar disto?

Bem, para a Rússia isto seria um resultado muito mau. Sim, a Rússia tem os meios para se impor militarmente tanto aos EUA como à NATO, mas politicamente e economicamente isto feriria interesses russos, não criticamente mas substancialmente.

Depois, há o seguinte: a Ucrânia é um Estado completamente desindustrializado e fracassado, pior do que muitos países africanos. Embora houvesse muita coisa de cosmética tanto dentro da Ucrânia como nos media do Ocidente, a pandemia da COVID e as suas horríveis consequências no interior da Ucrânia tornou-se impossível de esconder ou negar, especialmente para o próprio povo ucraniano. Neste momento, toda a Ucrânia é como um vaso numa loja: se o partirmos, somos donos dele e temos de o consertar. Mesmo que excluamos um resultado em que os tanques russos parem nas fronteiras ocidentais da Ucrânia e tomemos uma opção a meio caminho em que os russos parem no rio Dnieper, isto teria consequências enormes para os russos, incluindo:

1. A linha de fronteira entre os ukronazis e as forças LDNR+russas seriam estendidas maciçamente tornando-se muito mais longas, mas cada quilómetro daquela linha de contato teria de ser protegido. Isto põe a questão: protegido por quem?

2. O lado russo subitamete herdaria várias grandes cidades (Chernigov, Kharkov, Poltava, Dnepropetrovsk, Zaporozhia, Mariupol, Berdiansk, etc). Não só os russos teriam de limpar estas cidades de insurgentes ucranianos e forças que ficassem para trás (stay-behind), como a Rússia teria de reconstruí-las e alimentar uma população muito maior do que a atual população das LDNR.

3. A economia russa simplesmente não poder arcar com o fardo do que é atualmente uma Ucrânia dirigida por nazis, a qual transformou-se num buraco negro maciço que suga recursos enormes e nunca deixa sair nada (exceto emigrantes ucranianos). Na melhor das hipóteses, a Rússia está atualmente a investir milhares de milhões de rublos para reconstruir a Crimeia (que os nazis sempre odiaram e desprezaram – exceto para construírem eles próprios mansões no Mar Negro) enquanto mal mantêm a LDNR a flutuar.

Foi o ocidente unificado (EUA+Reino Unido+UE) que destruiu a Ucrânia e os russos capitalizarão sobre isto tornando o ocidente responsável pelo conserto do que ele quebrou. Este conserto não irá acontecer uma vez que a UE não tem meios para o fazer neste momento ao passo que os EUA não estão diretamente ameaçados por esta situação e portanto não têm razões para intervir – para além de assegurarem que o regime de Kiev permanece a) raivosamente anti-russo e b) totalmente sob o controlo dos EUA.

Portanto, nem a opção 1 nem a opção 2 eram desejáveis para a Rússia. Assim, Putin criou a opção três.

A opção 3 de Putin:

A resposta à escalada aparentemente imparável rumo à guerra não era esperada por ninguém no Ocidente: Putin utilizou o pretexto de exercícios militares regulares programados para rápida e dramaticamente aumentar as capacidades russas próximas à Ucrânia: A Rússia deslocou dois exércitos ( 58º e 41º ) e três divisões aerotransportadas (  , 76ª e 98ª ) para as regiões ocidentais da Rússia (incluindo a Crimeia). Os russos também deslocaram quase toda a sua Frota do Cáspio para o Mar Negro. Mais navios de guerra russos entraram no Mar Negro através do Bósforo. Em seguida, todos os seis submarinos diesel-eléctrico avançados do tipo 636.3 (possivelmente os mais silenciosos do planeta, à velocidade normal de cruzeiro produzem menos ruído do que o ambiente circundante, o que os transforma em buracos negros acústicos) foram em patrulha. Finalmente, a Rússia implantou os seus sistemas de mísseis de defesa costeira Bal e Bastion , transformando todo o Mar Negro numa carreira de tiro russa). E, crucialmente, a Rússia fez tudo isso muito publicamente, em plena luz do dia, anunciando oficialmente os seus movimentos militares e sem sequer se preocupar com qualquer tipo de camuflagem ou engano.

Para aqueles ignorante de realidades militares isto parecia como se a Rússia estivesse “a ameaçar a Ucrânia”. Isto é um absurdo total. Tudo o que a Rússia precisa fazer para ameaçar a Ucrânia é recordar aos ucranianos que armas de longo alcance russas são suficientes para obliterar os militares ucranianos que a Rússia pode utilizar estes armas sem mover quaisquer forças. Não, o verdadeiro objetivo destes movimentos russos não foi a Ucrânia, mas o próprio Ocidente, especialmente qualquer força ocidental suficientemente louca para decidir entrar na guerra e ajudar militarmente a Ucrânia. Porquê? Aqui, mais uma vez, apresentarei a minha visão sobre como esta situação poderia ter evoluído:

1. Primeiro, os ucranianos atacam as LDNR. As forças LDNR tomam a pancada inicial e tentam conter o avanço ucraniano.

2. Os russos declaram uma zona de interdição de voo (no-fly zone) sobre a área de operações e fulminam as forças avançadas ucranianas com o seu formidável poder de fogo. O resultado aqui não apresenta dúvidas.

3. A NATO+países da UE decidem intervir, digamos, com o envio de vários batalhões polacos para dentro da Ucrânia. Forças dos EUA+Reino Unido conduzem operações de reconhecimento voando próximo (ou mesmo sobre) a linha de contato e pelo envio de forças especiais. Após algumas advertências (ou não), os russos decidem derrubar um destes aviões de inteligência ou drones. O ocidente decide “mostrar solidariedade” empenhando-se em ciber-ataques contra a Rússia, impondo ainda mais sanções e aerotransportando ainda mais forças para dentro da Ucrânia ocidental.

Neste ponto, os EUA+NATO+UE e a Rússia estariam à beira de uma grande guerra. Mas aqui está a coisa crucial: ao mover dois exército três divisões aerotransportadas (uma força enorme, muito maior e mais capaz do que qualquer combinação de forças da NATO!) tão rapidamente a Rússia provou à NATO que pode rapidamente alcançar uma enorme vantagem numérica em qualquer lugar que qualquer força da NATO possa decidir atacar. Em contrapartida, nenhum país da NATO tem a capacidade de concentrar as suas forças convencionais tão rapidamente e em qualquer ponto ao longo da linha da frente.

[Em paralelo: comparar tamanhos de forças equivale a “contar feijões” e é inútil. Realmente importa muito pouco quão grande é uma força, o que importa são os rácios de força ao longo de sectores chave do FEBA ou da frente (assumindo que haja uma “frente”, a qual por vezes não existe realmente) e num momento específico do tempo.]

Além disso, recordar que, ao contrário da maioria das forças aerotransportadas ocidentais, as forças aerotransportadas russas são totalmente mecanizadas, têm até alguns tanques, muitos veículos blindados, a sua própria artilharia e uma capacidade de se moverem muito rapidamente (lembram-se que o Rusbat na Bósnia a ir para Pristina quase de um dia para o outro?). As forças aerotransportadas ocidentais são forças de ataque concebidas para impor a hegemonia imperial ocidental em todo o mundo, pelo que têm de ser muito mais leves. Os russos não têm necessidade de enviar forças aerotransportadas através da fronteira, precisam delas para defender a Rússia e para serem deslocadas de menos de 1000 km das forças russas principais. Assim, a Rússia “sacrificou” a mobilidade estratégica das suas forças aerotransportadas para lhes dar uma mobilidade táctica e operacional e um poder de fogo com que as forças aerotransportadas ocidentais nem sequer podem sonhar. Então o que poderiam estas três divisões fazer no contexto de um ataque ucraniano?
Bem, poderiam fazer aquilo para que foram concebidos para fazer, posicionar-se atrás das linhas inimigas, destruir (ou manter) alvos estratégicos (como pontes, centrais eléctricas, bases de mísseis, etc) manter alguma localização estratégica ou apresentar uma ameaça a partir da retaguarda para os ucranianos. Mas isso ignora a grande reforma porque passaram as forças AB (airborne) russas. Elas são também forças de alta mobilidade e prontidão que, por exemplo, poderiam ser deslocadas para proteger a força de manutenção da paz russa na Transnístria (tal movimento seria igualmente protegido pelas capacidades de fogo de longo alcance tanto da frota do Mar Negro como das Forças Aeroespaciais russas). Unidades AB russas poderiam também ser deslocadas para a retaguarda ucraniana para criar o caos e perturbar as suas linhas de abastecimento. Finalmente, qualquer força polaca que ameaçasse intervir poderia ser rapidamente atacada e destruída. Mais uma vez, isso iria enfurecer os políticos ocidentais e neste momento os russos poderiam mover os seus exércitos através da fronteira para mostrar que qualquer combinação de forças ocidentais seria aniquilada. Isto deixaria ao Ocidente apenas duas opções: dobrar-se ou ir para o nuclear. E ir para o nuclear não parece ser uma opção que o Ocidente queira exercer, daí que a dobragem seria a única opção viável. Até agora (as coisas podem mudar no futuro, quem sabe quão loucamente a NATO pode atuar?).

Finalmente, Putin falou diretamente ao ocidente no seu discurso perante a Assembleia Federal quando disse:

“O significado e o objectivo da política da Rússia na arena internacional – direi apenas algumas palavras acerca disto para concluir a minha intervenção – é garantir a paz e a segurança para o bem-estar dos nossos cidadãos, para o desenvolvimento estável do nosso país. A Rússia tem certamente os seus próprios interesses que defendemos e continuaremos a defender no quadro do direito internacional, como todos os outros Estados o fazem. E se alguém se recusar a compreender esta coisa óbvia ou não quiser conduzir um diálogo e escolher um tom egoísta e arrogante conosco, a Rússia encontrará sempre uma forma de defender a sua posição.

Ao mesmo tempo, infelizmente, toda a gente no mundo parecem estar habituada à prática de sanções econômicas ilegais e de motivação política e às tentativas brutais de certos atores de impor a sua vontade a outros pela força. Mas hoje, esta prática está a degenerar em algo ainda mais perigoso – refiro-me à interferência direta recentemente revelada na Bielorrússia, numa tentativa de orquestrar um golpe de Estado e assassinar o Presidente daquele país. Ao mesmo tempo, é típico que mesmo ações tão flagrantes não tenham sido condenadas pelo chamado Ocidente coletivo. Ninguém parecia ter reparado. Todos fingem que nada está a acontecer.

Mas ouçam, podem pensar o que quiserem, digamos, do Presidente [Viktor] Yanukovych ou de [Nicolas] Maduro na Venezuela. Repito, podem gostar ou não gostar deles, incluindo Yanukovych que quase foi morto, também, e afastado do poder através de um golpe armado. Podem ter a sua própria opinião sobre a política do Presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko. Mas a prática de encenar golpes de Estado e planear assassinatos políticos, incluindo os de altos funcionários – bem, isto vai demasiado longe. Isto ultrapassa quaisquer limites.

Basta mencionar a admissão feita pelos participantes detidos na conspiração sobre um cerco planeado de Minsk, incluindo planos para bloquear as infra-estruturas e comunicações da cidade e um completo encerramento de todo o sistema de energia na capital da Bielorrússia! Isto significa, na realidade, que estavam a preparar um ataque cibernético maciço. O que mais poderia ser? Como sabem, não se pode fazer tudo isto apenas com um comutador.

Há claramente uma razão pela qual os nossos colegas ocidentais têm teimosamente rejeitado as numerosas propostas da Rússia para estabelecer um diálogo internacional sobre informação e segurança cibernética. Temos apresentado estas propostas muitas vezes. Eles evitam até mesmo discutir este assunto.

E se tivesse havido uma verdadeira tentativa de golpe de Estado na Bielorrússia? Afinal de contas, este era o objetivo final. Quantas pessoas teriam sido feridas? O que teria se tornado a Bielorússia? Ninguém está a pensar acerca disto.

Assim como ninguém estava a pensar acerca do futuro da Ucrânia durante o golpe de Estado naquele país.

Durante todo o tempo, movimentos pouco amistosos para com a Rússia também continuaram sem pausa. Alguns países têm adoptado uma rotina inadequada em que se metem com a Rússia por qualquer razão, mais frequentemente sem qualquer razão. É uma espécie de novo desporto de quem grita mais alto.

Quanto a isto, comportamo-nos de uma forma extremamente contida, diria mesmo, modestamente, e digo isto sem ironia. Muitas vezes, preferimos não responder de todo, não apenas a movimentos pouco amigáveis, mas até mesmo grosseria rematada. Queremos manter boas relações com todos os que participam no diálogo internacional. Mas vemos o que está a acontecer na vida real. Como já disse, de vez em quando estão a atormentar a Rússia, sem qualquer razão. E, claro, todos os tipos de mesquinhos Tabaquis andam à sua volta assim como Tabaqui andava à volta de Shere Khan – tudo como no livro de Kipling – a uivar a fim de fazer a sua soberana feliz. Kipling foi um grande escritor.

Queremos realmente manter boas relações com todos aqueles envolvidos na comunicação internacional, incluindo, a propósito, aqueles com quem não nos temos dado bem ultimamente, para o dizer de forma suave. Não queremos realmente queimar pontes. Mas se alguém confundir as nossas boas intenções com indiferença ou fraqueza e pretender queimar ou mesmo explodir estas pontes, deve saber que a resposta da Rússia será assimétrica, rápida e dura.

Aqueles que estão por trás de provocações que ameaçam os interesses centrais da nossa segurança lamentarão o que fizeram de um modo em que não lamentaram coisa alguma durante um longo tempo.”

Putin muito raramente ameaça, mas quando o faz, as pessoas ouvem porque compreendem que os seus avisos nunca são um bluff e que quando promete alguma coisa ele tem os meios para realizar a sua ameaça (neste caso, 2 Exércitos de Armas Combinadas e 3 Divisões Aerotransportadas, todos apoiados por armas russas de longo alcance e hipersónicas e, se tudo o mais falhar, pela tríade nuclear mais moderna e robusta do planeta). Quanto ao que seria uma “linha vermelha” russa, Putin decidiu deliberadamente deixar ambíguo este ponto, dizendo apenas “tenho de deixar claro que temos paciência, responsabilidade, profissionalismo, autoconfiança e certeza suficientes na nossa causa, bem como senso comum, quando tomamos uma decisão de qualquer tipo. Mas espero que ninguém pense em ultrapassar a “linha vermelha” em relação à Rússia. Nós próprios determinaremos em cada caso específico onde ela será traçada”. A intenção desta ambiguidade estratégica é deixar o Ocidente a adivinhar quando é seguro fazer um movimento e quando não o é. Isto muito simplesmente maximiza o efeito dissuasor do resto do seu discurso.

E, hoje, os russos “esclareceram” que o estreito de Kerch não está fechado ao tráfego, nem mesmo do tráfego ucraniano. “Tudo” o que a Rússia fez foi declarar algumas zonas de exclusão para fins de exercícios militares, mas o tráfego sob a Ponte da Crimeia permanece aberto. Certo. E quanto tempo demorará a Rússia a (verdadeiramente) fechar novamente aquele estreito? Minutos. Esta ameaça não falada é primariamente uma ameaça aos ucranianos, mostrando-lhes como seria fácil para a Rússia cortar as suas linhas de comunicação caso ameaçassem a Rússia.

Sim, Putin venceu este round de forma bastante elegante, sem que um único soldado russo morresse. Mas o problema é que este inegável êxito russo não resolve realmente nada. Todas as causas que levaram o regime Ukronazi a trazer toda a região para a beira do abismo ainda estão presentes. Dentro da Ucrânia nada mudou e, se alguma coisa, as coisas são ainda piores: censura total dos canais de televisão da oposição, perseguições políticas (incluindo tortura e sequestros), a mesma retórica bélica. A economia em ruínas e os ucranianos estão a emigrar aos milhões (tanto para a Rússia como para a UE), os esquadrões da morte nazis continuam a desfrutar de total impunidade, e, claro, a catástrofe total da COVID (o Ocidente dá aos Ukies armas letais para usar contra os russos, mas não vacinas, e há muito mais pessoas a morrer da COVID na Ucrânia do que a morrer nas linhas da frente! Estes são os “valores” “europeus” e “ocidentais” em ação…)

Claro, parece que uma combinação de reservas europeias e o risco de os membros da elite dominante em Kiev serem fisicamente eliminados pelos ataques russos, possivelmente combinada com uma percepção por parte da Administração “Biden” de que uma explosão total na Ucrânia iria tensionar as relações entre os EUA-Europa (haverá muitas culpas a apontar) resultou na atual percepção de desescalada.

Tristemente, e apesar do atual adiamento, algum tipo de guerra entre a Rússia e a Ucrânia ainda é provavelmente inevitável. Neste exato momento, o grosso das forças russas está a regressar às suas áreas normais de acantonamento, com algumas provavelmente a permanecerem. Podemos também ter a certeza de que os russos farão uma grande revisão pós-acção para descobrir o que correu mal e o que precisa de ser mudado. Como resultado, da próxima vez os russos irão mover as suas forças ainda mais rapidamente.

Mas e quanto aos EUA, seus proxies da NATO e o regime Ukronazi?

Os EUA ainda estão a arrastar-se para tentar retomar o controlo de uma situação internacional que claramente se descontrolou completamente para o aspirante a potência hegemónica mundial. Ainda mais importante, a situação interna dos EUA é verdadeiramente crítica com muitas crises graves a ocorrerem simultaneamente. Sim, há também muita cosmética nos media dos EUA, mas a maior parte das pessoas vê e sabe o que realmente se está a passar. O que significa que os EUA são tão fracos quanto instáveis. Finalmente, a julgar pelas baixas capacidades intelectuais dos decisores dos EUA, deveríamos sempre esperar algo estúpido ou mesmo perigoso, ou ambos, desta Administração para e pelos Iludidos-caprichosos (especialmente desde que a “diversidade” agora substituiu completamente a “competência”).

A NATO e a UE estão numa encruzilhada. Enquanto alguns países ficam “totalmente insanos” (a República Checa e o habitual 3B+PU), outros tentam desesperadamente manter as coisas unidas (Alemanha). Quanto ao regime de Kiev, mal se mantém no poder e não lhe restam outras opções além de duplicar a parada sem conta. Crucialmente, a junta em Kiev continuará a culpar a Rússia por absolutamente tudo e por nada (cerca de 99% do que a classe política Ukie faz hoje em dia é odiar a Rússia e ameaçar derrotar a Rússia militarmente).

Nada do que se qualifica como “paz” em qualquer sentido significativo da palavra (pessoas morrem todos os dias, quase todas elas civis). O pior de tudo: as mesmas causas só podem levar aos mesmos resultados, e há muito pouco que alguém possa fazer para mudar isto. Assim, na melhor das hipóteses, o que estamos a ver é apenas um adiamento. Mas enquanto um bando de bandidos neonazis continuar a deter o poder em Kiev, a guerra será uma quase inevitabilidade. A verdadeira paz só chegará quando os ukronazis estiverem mortos, ou presos ou de volta ao Canadá. Até lá, não haverá paz, apenas graduações de guerra.

 

Esse artigo foi retirado da publicação feita no site “The Saker”, do dia 25 de abril de 2021.

Tradução: resistir.infor

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