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Não é preciso apagar a memória de Moreira César para homenagear Paulo Gustavo em Niterói

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Felipe Quintas
Felipe Quintas
Mestre e doutorando em Ciência Política pela Universidade Federal Fluminense - UFF

Existem muitas formas da prefeitura de Niterói homenagear o Paulo Gustavo. Estátua na praia de Icaraí, no campo de São Bento, no Caminho Niemeyer, busto no Teatro Municipal, nome de escola ou centro cultural etc. Mas a prefeitura quer porque quer trocar o nome da rua Coronel Moreira César por Ator Paulo Gustavo. Abriu consulta pública e eu votei NÃO à mudança. E votei NÃO porque, mais do que homenagear o ator falecido, essa mudança visa apagar a memória do grande Coronel Moreira César.

Quem foi o Coronel Moreira César? Foi crucial no esmagamento da Revolta da Armada (grande parte dela ocorrida em Niterói), uma insurgência da Marinha, com apoio de vários monarquistas, contra o governo de Floriano Peixoto, o primeiro governo republicano popular.

Moreira César igualmente foi decisivo ao esmagar os liberais gaúchos que se revoltavam contra o governo estadual de Júlio de Castilhos, o primeiro a introduzir educação pública e direitos trabalhistas a toda a população. Sim, Moreira César era chamado de “corta-cabeças”, e pelo visto cortou as cabeças certas, até porque seus inimigos não eram menos “corta-cabeças” do que ele.

Os desafetos de Moreira César, entre eles o próprio prefeito de Niterói, denunciam que ele participou do linchamento do jornalista Apulcro de Castro. Esquecem-se de dizer que o tal jornalista era contrário ao abolicionismo e conhecido por espalhar boatos agressivos e chulos contra importantes figuras do país, inclusive abolicionistas.

Também se menciona a participação dele na repressão a Canudos. Mas se esquecem que ele foi morto na campanha e que não fazia sentido permitir que Antônio Conselheiro realizasse sua “monarquia celeste”. Havia todo um fundo social de miséria e opressão para o qual o Império não havia dado a mínima e a República seguia esse mesmo caminho, mas a solução passava por um Estado forte e integrador, como defendido por Euclides da Cunha e que somente passaria a existir a partir da Era Vargas, e não pela permissão a se criar monarquias messiânicas paraestatais.

O curioso é que muitos dos que são contrários a homenagear Moreira César por ele ter sido chamado de “corta-cabeças” são os primeiros a babar o ovo da Revolução Francesa, que, ao contrário do que se diz, cortou mais cabeças de plebeus que de aristocratas. Também, quando vão à Europa, tiram foto ao lado das estátuas de um monte de carniceiros lá considerados considerados “heróis da pátria”, como o corsário Francis Drake, e acham o máximo.

Apagar a memória de Moreira César é apagar a memória do Brasil e da luta pela unidade nacional. É um desserviço que a Prefeitura de Niterói presta à cidade e ao país, por mais que tenha ações muito meritórias em outros campos. Numa cidade que tem a honra de ter acolhido José Bonifácio em seus últimos dias e mal homenageia o Patriarca (um nome de rua e só), querer se desfazer de Moreira César é mais uma contribuição do poder público municipal à boçalização social e à perda de referências.

Esse artigo foi retirado da publicação feita no site “Disparada”, do dia 08 de maio de 2021.

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