As bombas chovem sobre a cidade de Gaza e o resto da faixa que constitui o pesadelo para o povo que ali vive. Gaza, com área de 375 quilómetros quadrados é o lar para cerca de 2 milhões de palestinos, mais da metade deles constituída por refugiados. Desde 2007, o enclave cercado tem estado sob um lancinante bloqueio israelense e egípcio que destruiu a sua economia e privou seus habitantes de muitos produtos vitais, inclusive alimentos, combustível e remédios.
O povo de Gaza tem estado confinado no enclave da Faixa e sujeito a um embargo por terra, ar e mar. A entrada de bens foi reduzida a um mínimo, enquanto o comércio externo e as exportações foram travadas. Enquanto isso, a população tem acesso muito limitado à água potável, carece de abastecimento regular de eletricidade ou até mesmo de um sistema de esgotos adequado.
A taxa de pobreza na Faixa de Gaza atingiu os 80% durante o bloqueio israelense de mais de uma década, segundo a Federação Geral de Sindicatos Palestinos. Além disso, 77% dos lares em Gaza foram destruídos e danificados pelos ataques israelenses, deixando milhares de famílias sem casa ou deslocadas em meio a processo de reconstrução mutilado, de acordo com Anne Jellema, responsável do Run4, uma fundação de socorro com sede na Holanda.
O desemprego e a pobreza é bastante grave em toda a Cisjordânia, mas é muito pior em Gaza, onde a taxa de pobreza definida pelo Banco Mundial (com um limiar muito baixo) era de 56% em 2018, em comparação com 19% na Cisjordânia e com dois terços dos jovens desempregados. Além disso, o povo em Gaza sofre de uma pobreza muito mais profunda, com um “fosso de pobreza” – o rácio entre o rendimento médio dos pobres e a linha de pobreza – de quase seis vezes o nível na Cisjordânia. Estes números foram compilados pela UNCTAD num relatório abrangente .
Além do bloqueio prolongado e de restrições pelo Egito vizinho, Gaza aguentou três operações militares israelenses em 2007, 2012 e 2014 que danificaram gravemente a infraestrutura civil e provocaram baixas pesadas. Pelo menos 3.793 palestinos foram mortes, cerca de 18 mil foram feridos e mais da metade da população de Gaza foi deslocada, de acordo com o relatório da UNCTAD. Mais de 1500 empresas comerciais e industriais foram danificadas, juntamente com cerca de 150 mil unidades habitacionais e infraestrutura pública incluindo energia, água, saneamento básico, saúde, instalações educativas e edifícios governamentais.
O bloqueio da Faixa de Gaza efetuado por Israel custou ao enclave palestino mais de 16 mil milhões de dólares e empurrou mais de um milhão de pessoas para baixo da linha de pobreza em pouco mais de 10 anos, de acordo com o relatório. A análise da UNCTAD sugere que, se as tendências pré-2007 tivessem continuado (Cenário 1 no gráfico abaixo), a taxa de pobreza em Gaza teria sido de 15% em 2017 em vez de 56%, ao passo que o fosso da pobreza teria sido de 4,2% ao invés de 20%.
Em vez disso, entre 2007 e 2018, a economia de Gaza cresceu menos de 5%, e a sua participação na economia palestiniana diminuiu de 31% para 18% em 2018. Em consequência, o PIB per capita contraiu-se 27 por cento (linha de base no gráfico acima).
A economia de Gaza sofreu uma inversão na industrialização e na agricultura. A percentagem da agricultura e da manufatura na economia regional de Gaza diminuiu de 34% em 1995 para 23% em 2018, enquanto a sua contribuição para o emprego caiu de 26% para 12%. Isto paralisa qualquer desenvolvimento da economia de Gaza e a sua capacidade de expandir o emprego.
E em 2020, todo este pesadelo foi agravado pela pandemia do coronavírus.
O relatório da UNCTAD estima que a elevação da população de Gaza acima do limiar da pobreza exigiria uma injeção de fundos no montante de 838 milhões de dólares, agora quatro vezes o montante necessário em 2007. Mas ao invés disso, em 2018 a administração Trump retirou o seu financiamento à ACNUR, a agência das Nações Unidas que apoia cinco milhões de refugiados palestinianos em Gaza, na Cisjordânia ocupada, no Líbano, na Síria e na Jordânia.
O economista da UNCTAD Richard Kozul-Wright comentou que “O corte de 200 milhões de dólares foi um enorme golpe para a economia palestiniana. …A menos que os palestinos na Faixa de Gaza tenham acesso ao mundo exterior, é difícil ver qualquer coisa além de subdesenvolvimento como o destino da sociedade palestina de Gaza”, …É realmente chocante que no século XXI, dois milhões de pessoas possam ser deixadas nessa espécie de condição”.
Esse artigo foi retirado da publicação feita no site “Michael Roberts blog”, do dia 16 de maio de 2021.
Tradução: Resistir.infor