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Brasil, Potência da Paz

Por Roberto Saturnino Braga

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Como disse, volto ao tema do Projeto para o Brasil na perspectiva de afirmar-se não pelo caminho de uma potência econômica, tampouco, ou muito menos, pela expressão de uma potência bélica. Vejo nosso País vocacionado para se impor ao respeito do mundo pela afirmação da paz em todas as dimensões.

Não é um caminho menos difícil do que o das visões tradicionais fundadas na força econômica. Mas é a via que se abre ao Brasil que emergirá deste caos conflituoso que está vivendo, causador de um sentimento de vergonha nacional que jamais experimentamos, como de ódios internos numa intensidade que também não se registra nos tempos históricos dos últimos séculos.

Ouso até manifestar o pensamento de que é o único caminho de desenvolvimento que se estenderá ao nosso País ao fim desta guerra política interna, que tem também a face de uma violência inaudita nas ruas; guerra provocada de fora com o intuito de nos desmoralizar por longo tempo. Não posso deixar de fazer uma analogia – pequena mas muito expressiva para mim – com a falência da prefeitura que eu chefiava, provocada de cima para desmoralizar a minha figura política que ficava importante demais.

Não sei (nem ninguém sabe) em que momento e de que forma se dará o desfecho, mas ouso também afirmar que a solução se imporá pelo clamor da paz, pela ação de uma força política reconhecida como de grande autoridade moral e neutralidade pacificadora que há de se sobrepor com forte espírito democrático, eqüidistante das facções em confronto, em nome dos verdadeiros interesses da Nação Brasileira.

E o Brasil acordará do pesadelo com um sentimento fortemente construtivo, acreditando ter dado um basta na velha corrupção e com disposição de colaborar no esforço de reconstrução da democracia. (nunca neguei minha índole otimista).

Só então o Projeto Brasil de Teotônio Vilela e Raphael Magalhães poderá voltar à nossa terra depois de uma viagem transcendental pelo tempo cósmico.

E o tema da paz, a idéia da paz, o projeto da paz há de se impor revelando nossa vocação de evitar guerras, negociar com vizinhos, realizar as grandes transformações políticas sem luta armada, como a abolição de escravatura e a construção da verdadeira República depois da Revolução de 30, que também venceu sem luta: a grande batalha foi a de Itararé, que não houve.

Para a formulação deste projeto, entretanto, é necessária uma conceituação ampla do que seja a paz. Que não é apenas a ausência da guerra, resultante, por exemplo, de um domínio absoluto de uma potência bélica, uma “pax romana”. Ou mesmo de um equilíbrio de forças, reconhecido e mantido por duas ou várias partes, seguindo o preceito que aprendi no CPOR: “Se vis pacem para bellum”. Ausência de guerra que pode também chegar pela exaustão dos povos guerreiros como previu Kant, dando ensejo ao domínio da razão. Sim, poderia, no tempo de Kant em que não existiam as superbombas cataclísmicas, capazes de destruir o mundo antes do tempo da exaustão.

O conceito capaz de dar efetividade e durabilidade à paz não é mais o da razão prática de Kant mas o da razão comunicativa de Habermas, a razão que emerge do diálogo entre iguais, do diálogo realmente, profundamente, essencialmente democrático entre iguais.

E é neste campo que o Brasil cresce, pela sua realidade histórico-política de competência para evitar conflitos armados. Uma competência rara que muitos tentam desmoralizar chamando de falta de caráter, de ”jeitinho brasileiro”.

João Goulart foi eminentemente brasileiro, foi grandemente brasileiro ao renunciar após a conversa em Porto Alegre com o Comandante do Terceiro Exército, que lhe mostrou com fidelidade que a resistência ao golpe redundaria fatalmente numa guerra interna que se tornaria campo de luta internacional e destruiria o País.

E esta é uma capacidade negociadora reconhecida e respeitada em todo o mundo. O elevado conceito internacional em relação à competência do Itamarati é um dos maiores galardões que o Brasil possui.

Exemplo definitivo é o alto conceito diplomático de que o Brasil desfruta na ONU, não só pelo respeito a figuras notáveis que se afirmaram naquele fórum mundial como a do grande Oswaldo Aranha, quanto pela fidelidade brasileira, nunca duvidada, aos princípios da Paz e à sustentação daquela Instituição internacional insubstituível na construção da paz..

É de fato uma competência nunca desmentida, e reafirmada em vários episódios recentes, como o do acordo nuclear com o Irã, o do exercício de uma liderança consensual na América do Sul, e o do êxito completo no comando da intervenção pacificadora da ONU no Haiti.

Bem, já me estendi demais; é um tema que me arrebata a atenção, e por isto mesmo ainda voltarei a ele proximamente.

 

Ver também: Brasil, Potência da Paz II e Há 3 anos atrás Saturnino, com 88 anos, torcia estar vivo este ano para comemorar no Bicentenário a adesão do Brasil a seu projeto: Potência da Paz

O artigo foi retirado de uma publicação do Centro Celso Furtado.

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