Meu ânimo se recusa a falar mais de Bolsonaro e sua troupe. E nem há mais o que dizer. Todo mundo já sabe quem ele é. Só não sabem por que votaram nele e nem como é que vão aguenta-lo por quatro anos!
A última é que o Brasil não precisa mais de filosofia e de sociologia.
Chega. Mudo de assunto.
O desenvolvimento econômico e político da Europa Ocidental, após os longos séculos da estagnação medieval, foi um processo que acompanhou quase simultaneamente o progresso da ciência na região, deflagrado a partir de uma decisão política tomada em Portugal em meados do século XV.
Com a presença árabe em retirada, surgiu a ciência organizada do Ocidente em Portugal, com propósitos expansionistas, quando o Infante D. Henrique reuniu um notável grupo de geógrafos, cartógrafos, geômetras, técnicos navais e mestres de engenharia, para formar uma sólida base de conhecimentos capaz de dar suporte à grande aventura histórica de descobrir o mundo.
Claro que havia o interesse econômico do comércio com as Índias. O ponto de vista da História, entretanto, focaliza e destaca a primeira congregação de cientistas do Ocidente ocupados com tarefas que compunham o megaprojeto do Descobrimento. Muitos chamaram esta congregação de Escola de Sagres.
O êxitos extraordinários de Vasco da Gama, Colombo e Cabral geraram entretanto grandes projetos políticos de poder e dominação que, provavelmente, ofuscaram aquele interesse anterior no desenvolvimento científico nos países ibéricos, enquanto Galileu na Itália, Des Cartes na França, Bacon na Inglaterra e Huygens na Holanda cresciam como expoentes de uma ciência que, iniciada em Portugal, seguia seu curso com interesse crescente daquelas nações.
A continuidade deste processo, a objetividade prática dos ingleses, a sabedoria da Rainha Elizabeth investindo na grande armada, o ouro do Brasil financiando, via Portugal, os investimentos do crescente processo de industrialização da Ilha fizeram da Inglaterra a primeira Grande Potência mundial do fim do sec XVIII ao fim do século XIX.
O Império Britânico dava a volta ao mundo (Canada, Egito, África do Sul, Índia e Austrália, além de muitos pontos menores), o inglês passou a ser a língua do mundo, a Libra era a moeda do mundo, e Londres, a City, era a capital econômica do mundo.
As guerras contra rivais europeus acabou por minar, e até destruir esta hegemonia absoluta, favorecendo principalmente seu grande aliado americano que, ao fim da primeira guerra, já repontava sua liderança e ao fim da segunda confirmou sua hegemonia absoluta no Ocidente. Encontrou, todavia, uma liderança rival no oriente, emergida também na segunda guerra, a União Soviética, antiga Rússia, que trazia, ademais, uma proposta nova de organização política, o Socialismo, adotada, logo, pelo novo gigante que emergia na Ásia como nova potência, a China.
Dos gigantes territoriais e demográficos do mundo — uma classificação que não compreende o Canadá, pela relativa pequenez da sua população e pela grande proporção de terras geladas no seu território — dos gigantes do mundo, a Índia e o Brasil não atingiram, no segundo milênio, o estágio de grandes potências, não obstante a influência política forte de que desfrutam no concerto.
A Índia, pelo gigantismo da sua população, e pela forte tradição cultural e histórica que possui, tem uma presença algo mais forte que o Brasil, uma vantagem que tende a crescer nos próximos anos pela grandeza dos investimentos em ciência e tecnologia que tem feito.
Sobre o Brasil pesa, de fora, a sufocante liderança norteamericana, que tem uma história de grande preocupação deles com a grandeza do Brasil, desde o momento da nossa independência como um IMPÉRIO, ao tempo em que eram pouco mais do que treze pequenas colônias que se haviam tornado um país independente.
De dentro, pesa sobre o Brasil a influência dominante de uma elite alienada, uma elite de origem agrária que se urbanizou sem ter funções definidas nas cidades, uma elite frustrada que passou a ajuizar pejorativamente seu próprio país, e se ocupou em seguir os caminhos e os padrões das potências mais ricas, incapaz de forjar um projeto nacional próprio, de desenvolvimento brasileiro.
Entre parênteses, piorou agora, neste momento em que assumiu o poder um presidente curto, oriundo desta elite, que não gosta de filosofia nem de sociologia.
Claro entretanto que, não obstante estas limitações, crescemos muito e podemos sem óbices maiores, formular nosso próprio Projeto e reunir forças políticas internas para a sua consecução. Estivemos próximos a esta configuração, e até avançamos substancialmente, quando, pela adesão soberana de nossos vizinhos e irmãos históricos, conseguimos criar e estruturar a UNASUL, que nos unia para nos fortalecer, e que foi, possivelmente, pela sua importância, a decisão política que desencadeou a reação e o golpe (Império + elite atrasada) para a destruição deste projeto.
Começaremos tudo de novo, evidentemente, e as experiências vividas contribuem sempre, positivamente, para o êxito das seguintes.
Tenho 88 anos – mais de sessenta nesta luta – e meu desejo maior é, vivo, poder ver a vitória final nesta Guerra de Autonomia, com as nossas Forças Armadas do nosso lado, sustentando o Grande Projeto Brasil Potência da Paz.
Quem sabe, quem sabe não possamos festejar esta vitória-efeméride em 2022, ao comemorar, com uma grande unidade política nacional, o aniversário de 200 anos?!
Quantas vezes o sonho é a realidade vivida com antecipação?
Ver também: Brasil, Potência da Paz e Brasil, Potência da Paz II
O artigo foi retirado de uma publicação do site Conversa Afiada