Em 10 de novembro de 2021, o ex-juiz Sergio Moro anunciou sua candidatura à Presidência da República. Durante quatro meses, foi bajulado pela mídia, mas não conseguiu alçar voo. Nas pesquisas eleitorais, começou na marca dos 11%, depois caiu para 6%. Ontem, 31 de março, o Marreco de Maringá pousou no solo e desistiu de voar.
Hoje, 1º de abril, dia da mentira, é o dia perfeito para comentar a trajetória do paladino que, mais do que ninguém, elegeu Bolsonaro e jogou o Brasil nos braços de uma seita de extremistas e cleptocratas.
Ao contrário do que muitos pensam, a breve candidatura do ex-juiz teve alto significado histórico.
Em primeiro lugar, porque o candidato fez declarações em que se incriminou e incriminou aliados. Deu corda para que o enforquem juntamente com os cúmplices de Curitiba.
Em segundo lugar, porque Moro desnudou sua indigência intelectual, cultural e moral. Revelou não ter propostas para o Brasil. Fez comentários disléxicos sobre política, geografia, sociologia e economia. Agrediu a língua portuguesa. Mostrou desconhecer a Constituição. Revelou pouca familiaridade com conceitos ensinados em cursos de Introdução ao Direito.
Chegou a ser engraçado ler colunistas de direita envergonhados com as coisas que Moro dizia. Nas entrelinhas de algumas colunas, alguns pareciam querer dizer:
— Cala a boca, Magda!
Tentem imaginar, nos EUA, um juiz declarar ”eu comandei a acusação”. Isto não seria bizarro? Pois, em janeiro deste ano, o ex-juiz Sergio Moro disse, alto e bom som, “eu comandei a Lava Jato”. No julgamento de Lula, a Lava Jato representava a acusação. Sergio Moro era o juiz, tinha a obrigação de ser imparcial.
A confissão foi voluntária. Moro se incriminou adotando o tom de quem CONTAVA VANTAGEM. Isto aconteceu durante sua entrevista ao podcast Flow em 26/01/22. A confissão foi gravada e está em vários vídeos do YouTube.
A Lava-Jato é uma força tarefa do Ministério Público. O MP não integra nenhum dos três Poderes da República. Ele é uma instituição independente, essencial à função jurisdicional do Estado. Ao se declarar comandante da Lava Jato, Sergio Moro confessou ter violado a Constituição Federal, o Código de Processo Penal e vários outros dispositivos legais. E deixou muito mal os procuradores fascistoides de Curitiba.
Moro deu plena razão aos juízes do Supremo Tribunal Federal que declararam sua SUSPEIÇÃO e anularam as condenações.
Na entrevista ao podcast Flow, Moro disse que o auxílio-moradia de R$ 4,3 mil que confessou ter recebido como juiz — morando em apartamento próprio de Curitiba — era salário, quando na verdade ele é verba indenizatória isenta de imposto de renda. A verba só deveria ser recebida por juiz que não tem imóvel na comarca onde exerce o cargo. Mas os escrúpulos de Moro estão na razão inversa do seu discurso moralista. Façam o que eu digo, não façam o que eu faço.
Não foi a primeira, nem a segunda, nem a terceira vez que Sergio Moro fez declarações comprometedoras. Nos autos do processo em que condenou Lula, Moro em duas oportunidades se traiu e confessou ter condenado o desafeto sem provas:
“Enfim, de fato, não há prova de que os recursos obtidos pela OAS com o contrato com a Petrobrás foram especificamente utilizados para pagamento ao Presidente.”
“Este juízo jamais afirmou, na sentença ou em lugar algum, que os valores obtidos pela Construtora OAS nos contratos com a Petrobras foram usados para pagamento da vantagem indevida para o ex-Presidente”.
Há um erro de português na segunda citação, o correto é “em lugar nenhum”. O tropeço confirma que o texto é, de fato, de autoria do Sergio Moro.
Moro simplesmente não percebe a gravidade das coisas que escreve e diz. Em 29/12/2021, em entrevista gravada à Rádio Capital FM, declarou que “a Lava Jato combateu o PT de forma eficaz”. Ou seja, Moro confessou que a força tarefa (que ele confessou ter comandado) praticou lawfare.
Alguém ainda tem a coragem de negar que o juiz Sergio Moro foi parcial? Que o Supremo teve razões técnicas para anular as condenações?
Após interferir criminosamente nas eleições, aceitou ser o Ministro da Justiça do Presidente que ajudou a eleger. O paladino da luta contra a corrupção se metamorfoseou em capanga judicial de uma família de milicianos que enriqueceram com rachadinhas, um eufemismo para peculato, roubo de dinheiro público.
Por último, o escândalo da parceria entre o ex-juiz e a firma americana. Desde quando um ex-juiz pode ganhar uma fortuna trabalhando na recuperação judicial de empresas que ele arruinou? O caso não guarda semelhanças com a prática de criar dificuldades para vender facilidades? Tal prática é o mais manjado esquema de enriquecimento ilícito de servidor público.
Moro, mesmo sendo candidato à presidência, ocultou detalhes sobre a consultoria que prestou à Alvarez & Marsal. Teve que ser pressionado para confessar que recebeu 3,6 milhões de reais por 12 meses de contrato.
Entretanto, ele se recusou a listar as empresas (segundo ele, não-brasileiras) que pagaram tão caro para serem assessoradas em inglês por um ex-juiz brasileiro que não sabe soletrar “judge”.
Quando um procurador do MP percebeu indícios de sonegação e exigiu a apresentação dos documentos exigidos por lei, Moro não só se recusou a fazê-lo como acusou o procurador de perseguição política.
Autoritário, inculto, inescrupuloso e ganancioso. Fala e escreve como se tivesse o primário mal feito. Sergio Moro é o retrato da meritocracia brasileira.
Desafiado por Ciro Gomes, Sergio Moro fugiu do debate como o diabo da cruz. Foi a única coisa inteligente que fez durante sua cruzada brancaleônica. Ciro teria transformado Sergio Moro em purê de marreco.
O candidato da Rede Globo é tão despreparado que, durante sua breve campanha eleitoral, não precisou ser atacado por ninguém para se dar mal. Bastava alguém entregar a ele um microfone — e gravar a entrevista — que o ex-juiz se desmoralizava sozinho.
01/04/2022
Petronio Filho