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Lula, Brizola e o fio da história: reflexões para patriotas que têm olhos para ver

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“O patriotismo é o último refúgio do canalha.” Quando o literato inglês Samuel Johnson, em 7 de abril de 1775, proferiu a célebre frase, referia-se ao fato de que o amor à Pátria pode ser manipulado por quem busque os seus próprios, e por vezes inconfessáveis, interesses.

Toda Nação tem história. Tem passado e tem futuro. É nela que devemos buscar os elementos que distingam o amor à Pátria de sua utilização retórica, interesseira, contraditória, perversa, por vezes. É na história e na forma como vemos a história que tudo ganha luz. O Brasil moderno tem um personagem central, Getúlio, o líder da Revolução de 30, a resultante de uma série de movimentos sísmicos na sociedade brasileira na década de 20, destacando-se o tenentismo. Getúlio inventou o Brasil moderno, urbano, industrial. No período em que ele governou o Brasil surgiu para o clube das nações promissoras em desenvolvimento, poder, influência. Sem as transformações que advieram da Revolução de 30 seríamos um fazendão. Ou um Congo.

O prólogo

O PT não nasceu nacionalista. O PT nasceu, em grande parte, negando a obra edificadora da Revolução de 30. Uma visão grotesca de Getúlio, com forte influência paulistocêntrica, caricaturava o gigante estadista como uma figura menor, dominadora e opressora da classe trabalhadora. Lula nasceu assim para a política. Brizola retornou do exílio. Lula e ele caminharam por rumos próprios, próximos mas separados. Brizola queria “retomar o fio da história”, interrompido em 1964. Lula queria um “caminho novo”. A eleição de 1989 foi um marco. Lula venceu Brizola por uma quantidade minúscula de votos e com isso ganhou o direito de disputar o segundo turno das eleições contra Collor. Como é na derrota, mais do que na vitória, que as grandes virtudes se apresentam, Brizola mostrou o tamanho do seu compromisso com a Nação, assumiu a derrota e engoliu “o sapo barbudo”, expressão com a qual buscou pacificar os ânimos dos companheiros desconsolados com alguns mistérios eleitorais que não compreendiam, nem aceitavam. Quem viveu aquilo de perto sabe bem do que estou falando.

A manifestação de Brizola não foi retórica. No segundo turno, o velho caudilho mergulhou nos seus redutos eleitorais levando Lula pela mão. No Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, em especial. Assim como não se entende Minas sem Ouro Preto, não se faz política nacional no Rio Grande do Sul sem visitar o Mausoléu de Getúlio, em São Borja. Foi para lá que Brizola e Lula marcharam. Há histórias a respeito daquela visita, mas nada disso importa agora.

O epílogo

O que importa agora é que, num gesto de grande significação política, em 21 de março de 2018, na Praça São Borja, na frente do túmulo de Getúlio, Lula botou o lenço vermelho maragato no pescoço e deu a largada para aquela que seria a última caravana, a que terminaria numa grande manifestação popular em frente à Universidade Federal do Paraná, em Curitiba.

Eu me integrei à Caravana em Chapecó-SC. A passagem pelo Paraná teve seus momentos. Um tiro atingiu o ônibus três poltronas à frente da minha. Como advogado atuei junto ao juiz de Francisco Beltrão para que fosse dispersado um bloqueio de agroboys que, sob os olhos complacentes da polícia, interrompia a passagem da caravana. Ao fim da caravana, falei no palanque de Lula do ato de encerramento. A caravana, a última das que Lula liderou, terminaria simbolicamente em Curitiba, para onde Lula voltaria preso. Como a luta sempre continua, dias e dias, semanas e semanas, na frente da prisão, junto a tantos e tantos companheiros, lutei para que a Lava Jato não levasse de roldão a nossa indústria de petróleo, da engenharia de construção pesada, e um pedaço da nossa soberania.

O recomeço

Eu tinha para mim que ao sentir no lombo tudo aquilo que foi a Lava Jato, no seu cerne político e geopolítico entreguista, Lula sairia mais nacionalista da prisão. Olharia com outros olhos o que acontecera com o Brasil no turbilhão da guerra híbrida. Olharia o Brasil mais como Geisel do que como FHC.  Requião confirmou a minha leitura em seguida a uma conversa de duas horas com Lula, antes de sua filiação ao PT. Depois em entrevista, Requião disse: “Lula que saiu da prisão é outro sujeito” (https://www.uol.com.br/eleicoes/2022/06/03/lula-que-saiu-da-cadeia-e-outro-sujeito-diz-requiao.htm). E Fernando Morais afirmou: “Lula saiu da cadeia um anti-imperialista” (https://operamundi.uol.com.br/20-minutos/72248/lula-saiu-da-cadeia-um-anti-imperialista-afirma-fernando-morais).

A confirmação dos meus bons presságios e dos informados vaticínios dos amigos Requião e Fernando Morais veio no ato de lançamento da campanha de Lula. Política é feita de gestos. Lula conferiu especial destaque à presença do velho nacionalista Requião, um companheiro que nunca se escondeu quando a mídia lavajatista em uníssono deitava o pau no metalúrgico presidente. Quem não lembra do épico discurso “Lula é culpado?” (https://www.youtube.com/watch?v=nEUq2FcgyX0). Um companheiro, sim, mas um crítico duro das vacilações neoliberais dos governos do PT, que Deus não as tenha e o Diabo as carregue.

Em seguida ao reconhecimento público do valor político e simbólico da presença de Requião no ato, Lula leu um discurso (https://www.youtube.com/watch?v=sIS__O_vnxE). Não improvisou, leu. Leu, para que cada palavra que houvesse de ser dita fosse dita. Leu porque sabia que falava para a história. Getúlio também escreveu quando falou para a história, na qual entrou ao deixar a vida em defesa do Brasil. A base do impressionante discurso de Lula foi a soberania. Ele mostrou ali que agora quer dar carne à soberania, encaixando nela todo o programa político do seu governo. A soberania como o caminho da nossa edificação política, econômica, social: numa palavra, nacional. Gostei do que ouvi naquela noite. Requião também gostou. Brizola também teria gostado.

Às vésperas das eleições todo patriota que se preze consultará a história e a sua consciência. O Brasil que conhecemos começou com Getúlio. O sonho foi interrompido em 64. Mas, ao fim e ao cabo, depois de tantos revezes, o sonho de Brizola talvez esteja por se concretizar com a eleição de Lula e neste ano 2022 de Nosso Senhor Jesus Cristo possamos estar assistindo à retomada do fio da história.

Vamos à luta, patriotas!

Samuel Gomes

PDT-PR

 

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