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Pelé Alter Ego

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Fui um súdito. Fui descobrindo que habitava – melhor seria dizer “orbitava”,  Pelé aos poucos. Pelé foi um centro de gravidade da infância de meu tempo. Nada seria indiferente a Ele. Todos desejávamos ser Pelé.

Sabíamos que não seríamos. Pelé era o próprio sonho. Todos nos achávamos Pelé porque sabíamos que ninguém seria. Todos andávamos nos campinhos com um Pelé Alter Ego. Não importava ser bom ou ruim. Nosso Alter Ego Pelé nos acompanhava. E protegia.

Na rua Antonio Bento de Amorim, uma reta que liga a Vila Belmiro ao Marapé, em 1970 saltei, dei estrela, entrei em transe com o Brasil tricampeão. Pelé resumia tudo. Eu e meus amigos, minha rua, meu bairro, meu país. Pelé nos definia.

Estudei no Azevedo Júnior e fui uma das crianças que paravam o racha ao lado da Via para dar passagem à Mercedes chapa 1000. Largávamos o jogo para correr atrás do carro até entrar no Estádio.

Ali ficávamos porque ele chegava para treinar. Subia antes de todos no gramado e chutava por cima da barreira de pau. Chegava o goleiro. Ele treinava o goleiro. Iam chegando os demais. Carlos Alberto, Edu, Clodoaldo… Eu vi. Ele entrava na roda.

Vivi Pelé. Eis que o Alter Ego de minha infância me acompanhou na adolescência, juventude e depois, vida afora, sempre. Descobri o Pelé imortal. Fui tocado por essa revelação brasileira. Pelé jamais morrerá. É uma divindade dos templos gramados.

Hoje, tenho a notícia que Edson, a encarnação de Pelé, concluiu sua jornada como todos nós, um dia, concluiremos. Somos mortais. Essa é nossa angústia. Alguns dentre nós, sabe-se lá porquê, são escolhidos por divindades para andar sobre a Terra.

Edson partiu como naquele dia na Vila quando foi aos quatro cantos do gramado, diante da torcida que repetia sem parar seu nome. Ouvi de minha casa olhando o clarão do estádio e ouvindo tudo pelo radinho de meu pai.

Pelé! Pelé! Pelé!…

Pelé, o deus negro nos acompanha. Falo com autoridade. Descobri ao longo da vida que essa divindade não acompanhava apenas os moleques pobres descalços do Marapé. Pelé é o Alter Ego do meu país. Sou testemunha de Pelé.

Adeus Edson!

Obrigado!

Douglas Martins

Santista, Advogado e Jornalista.

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