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Sugestões para a comissão das comemorações do bicentenário da independência do Brasil

Mais Lidos

 

“O que faz uma nação? Uma grande parte da resposta a essa questão são as memórias históricas comuns. Quando a história da nação é miseravelmente ensinada nas escolas, ignorada pelos jovens, e arrogantemente rejeitada pelos mais velhos cultos, toda a consciência da tradição consiste em querer destrui-la”.

Jacques Barzun

 

  1. Reconhecer que não houve efetiva comemoração do Bicentenário da Independência em 2022.
  2. Dar continuidade às comemorações do Bicentenário em 2023, porque mesmo se as comemorações tivessem ocorrido em 2022, ainda assim, elas deveriam adentrar pelo ano de 2023, porque a independência foi um processo longo que começou em 7 de setembro de 1822, mas que só se completou em 15 de agosto de 1823 quando a província portuguesa do Grão-Pará assina sua incorporação ao Brasil. No meio desse processo, foram libertadas e incorporadas as diversas regiões do atual Nordeste do Brasil.
  3. Solicitar abertura de editais com recursos do Ministério da Cultura, talvez se utiliando de orçamento de 30 milhões de reais aprovado em 2022 para esse assunto conforme reportagem em anexo, para todas as linguagens (teatro, música, cinema, festivais, literatura, artes visuais etc.) a fim de construir as comemorações do Bicentenário do Brasil, tendo as lutas populares regionais como parte integrante dessas comemorações, suas lutas, datas e contexto político da época;
  4. Solicitar sugestões de representantes da sociedade civil, dos movimentos pela comemoração do Bicentenário, e dos entes federativos na comissão ministerial que foi nomeada para a tarefa de construir essas comemorações;
  5. Pedir que para além das comemorações seja apresentado um estudo via órgãos como o IPHAN para trazer as datas históricas do processo e das batalhas da independência como patrimônio imaterial do Brasil. Comissão permanente e nomeada pelo Ministério para Desenvolvimento das Comemorações sobre os Marcos Históricos do Brasil.
  6. Solicitar também o estudo da viabilidade de ser colocado no panteão dos heróis do Brasil nomes que tem respaldo nessas lutas importantes para a Independência do Brasil. Um estudo poderia trazer à luz quais nomes poderiam ir para essa galeria de heróis; tais como, por exemplo, no Ceará: Bárbara de Alencar, Tristão de Araripe, Ana Triste de Araripe, Ibiapina, Padre Mororó, Azevedo Bolão. Cada estado tem seus próprios nomes de referência.
  7. Fazer as comemorações do Bicentenário da independência, partindo em ordem cronológica dos Estados e cidades que envolvem essas datas e lutas e em seguida culminando com uma grande festa nacional.
  8. Concurso para o hino do Bicentenário da Independência, onde no edital fosse orientado colocar na letra do hino, as datas e batalhas importantes para consolidação da Independência bem como seu contexto político;
  9. Realizar a 2°semana de arte moderna na Capital do Brasil para comemorar 1°centenário da Semana de Arte Moderna.
  10. Realizar a publicação de pelo menos os primeiros colocados (o ideal seria a publicação de todos os laureados) dos concursos literários do centenário da Semana de Arte Moderna e do bicentenário da Independência.
  11. Apoio para produção e promoção de obras audiovisuais e musicais que envolvem os diversos relacionado aos Bicentenário temas que envolvem os diversos temos a questão do Bicentenário.
  12. Ações culturais comemorativas do Bicentenário em todos os marcos históricos importantes para o processo de Independência.
  13. Envolvimento do Ministério da Educação e das escolas nas comemorações do Bicentenário.

Brasília, 22 de março de 2023

Movimento Paraíso Brasil – um grupo de brasileiros de diversos estados, origens e profissões que trabalha para que o valor do nosso povo seja reconhecido, que nossos símbolos, nossa história, cultura e natureza sejam valorizadas https://paraiso-brasil.org/

Movimento pela Conclusão em 2023 de uma Efetiva Comemoração do Bicentenário da Independência do Brasil

Ceci Juruá, economista – RJ

Claúdio Nicotti, advogado – RS

Edevaldo Pshell , antropólogo – SP

Fabiano Medeiros, regente de orquestra de música popular – CE

Gustavo Galvão, economista – MG

Hélio Pires, economista – RJ

José Agostinho, advogado – SP

Myrlla Muniz,  professora de canto popular, musicóloga – DF

Olmar, advogado – PR

Oswald Barroso, teatrólogo e escritor – CE

Prof. Dr. Sidney Barbosa, professor de Literatura da UnB -DF

Rogério Lessa, jornalista – RJ

Rosemberg Cariri, cineasta – CE

Samuel Gomes, advogado – PR

Selma Siqueira, administradora pública – DF

Sidney Barbosa, professor de literatura -DF

Projeto Bicentenário com Lula

Autoria: Movimento pela Conclusão das Comemorações do Bicentenário da Independência

Resumo

Grande Oportunidade

  1. o Brasil é o único país conhecido que não comemorou com a devida pompa e circunstância seu Bicentenário da Independência.

Como foi feito antes

  1. Em 1922, quando o Brasil era extremamente pobre, fizemos uma mega comemoração do Centenário, no Rio de Janeiro, a Exposição Internacional do Rio de Janeiro, que teve mais de 3 milhões de visitantes, 3 vezes mais do que a população da cidade na época. Cabe lembrar que naquela época não existia transporte aéreo e nem estradas de rodagem no Brasil.
  2. Em São Paulo, em 1922, um dos muitos eventos de comemoração do Centenário foi a Semana de Arte Moderna, lembrada até hoje como um grande marco da nossa história.
  3. Em 1972, houve comemorações no país inteiro dos 150 anos. Inclusive todas as escolas e municípios do país tiveram eventos comemorativos. Esses eventos são lembrados até hoje por muita gente, apesar do país estar conflagrado naquela época por causa da ditadura.

Grande presente para este governo

  1. O governo Bolsonaro fingiu que as comemorações do Bicentenário não eram importantes e não fez uma efetiva comemoração, tanto que a maioria dos brasileiros não sabem que o o Brasil está fazendo 200 anos. Por quê? Para não haver um motivo de comemoração do povo unido? Para que não ocorra uma verdadeira União e confraternização que possam criar um motivo para as pessoas superarem as diferenças políticas e se voltarem a uma reconstrução?
  2. Mas ainda há tempo para comemorar, porque a Independência foi em 15 de agosto de 1823, quando o Grão Pará, Amazônia, assinou a sua incorporação ao Brasil Independente. As guerras de independência começaram com a Batalha de Jenipapo no Piauí em 13 de março de 1823 e terminaram em 15 de agosto, portanto a Independência só completará 200 anos em 15 de agosto, quando devem ser concluídas as comemorações.

Urgência e Proposta

  1. Sugerimos que o governo invista nas comemorações do Bicentenário em todas as escolas e cidades e principalmente nas cidades onde as batalhas da Guerra de Independência fazem 200 anos este ano, sendo a primeira delas em 13 de março no Piauí, a famosa batalha de Jenipapo.

História

Coincidências inexplicáveis marcam a história das Grandes Nações. No caso brasileiro, o vigésimo segundo ano de cada século é especialmente marcante e tem marcado uma linha divisória no grau de consciência, desenvolvimento e soberania nacional.

Em 1822, conseguimos a independência. Em 1922, quando comemorávamos o bicentenário, tivemos os dois eventos que reconstruíram um Novo Brasil sob bases superiores de independência, cultural, econômica e política.

Esse ano foi marcado pela semana de arte moderna, a partir do qual começamos a reconhecer e valorizar mais a existência de uma cultura popular nacional riquíssima, finalmente reconhecendo-a como original e principalmente dinâmica que olhava para frente e que representava verdadeiramente um Novo Mundo. Esse dinamismo acabou sendo chamado de antropofagismo cultural.

Talvez mais significativo no ano de 1922, foi o início das Revoluções Tenentistas que se espalharam por diversos estados pedindo democratização, soberania e modernização, que seria caracterizada principalmente pelo desejo de industrialização.

Ambos os movimentos confluíram 8 anos depois na Revolução de 30 e na Era Vargas que revolucionou tudo e recriou o país e a cultura brasileira como reconhecemos hoje. Foi anos 30 que o Brasil oficialmente se reconheceu como país mestiço, valorizou o samba, o carnaval, a capoeira e as religiões afro-brasileira ou nativas.

A Era Vargas durou até o final do 90 do século XX e teve um fugaz renascimento durante os mandatos do Presidente Lula. Essa era é também chamada de período desenvolvimentista, quando o Brasil experimentou uma revolução industrial, uma revolução demográfica, uma revolução dos direitos sociais, trabalhistas e civis, uma revolução governamental, uma revolução urbana e uma revolução agrícola.

Mas talvez a mais importante revolução tenha sido cultural. O que reconhecemos como Brasil, povo brasileiro e cultura brasileira foi criado nessa época. Samba, carnaval como cultura nacional, capoeira, religiões afro-brasileiras, música caipira, baião, forró, frevo foram criados, legalizados ou receberam apoio e atenção a partir dos governos Vargas.

Podemos dizer que realmente nos tornamos uma Nação completa, com auto-respeito e com uma identidade própria e reconhecida neste período. Tudo graças aos movimentos iniciados e a tensão política iniciada no ano de 1922.

2022 x 1922

Diferenças

Curiosamente, diferente de 1922, em 2022 não houve praticamente nenhuma comemoração do bicentenário. A única coisa que pode diferenciar as “comemorações de 7 de setembro das dos anos anteriores é que o presidente fez um discurso eleitoral para seu público no Rio de Janeiro”.

Em 1922, houve comemorações no ano inteiro, sendo a mais impactante hoje a Semana de Arte Moderna. Mas no ano, o mais impactante foi a Exposição Internacional do Centenário da Independência, que realizada no Rio de Janeiro entre 7 de setembro de 1922 e 23 de março de 1923!! Até hoje é a maior exposição internacional realizada em terras brasileiras!! E a única realizada até hoje para celebrar a independência de um país!! Participaram no total 14 países de 3 continentes. O Brasil teve no total 6.013 expositores, representando todos os estados da federação. No total circularam pela exposição mais de 3 milhões de pessoas. Um número muito maior do que da população do Rio de Janeiro à época. 29 estados norte-americanos e algumas cidades deste país enviaram delegações para a exposição. O governo dos Estados Unidos investiu um milhão de dólares para construir um edifício que posteriormente serviria como sua embaixada, além de outro (que custou 700 mil) para abrigar as delegações de seu país.

Semelhanças

Em 1922, como em 2022, o mundo estava saindo de uma pandemia com milhões de mortos.

Além disso, o ano de 2022 está tão tenso e conflagrado quanto estava em 1922, havia também conflitos na região da Rússia e na Ásia e no Brasil também teve eleições presidenciais, onde os militares se posicionaram majoritariamente a favor do candidato derrotado que também questionou a lisura do processo eleitoral. Os militares também se revoltaram em vários estados contra o processo eleitoral e o presidente eleito. A mais famosa dessas revoltas é conhecida até hoje nos livros de história como a Revolta dos 18 do Forte de Copacabana.

A partir de então os anos 20 foram marcados por revoltas militares contra o presidente eleito Arthur Bernades que duraram toda sua presidência, marcada por um quase permanente estado de sítio. Essas revoltas foram chamadas de movimento tenentista, que acabou confluindo na revolução de 1930, também motivada pelo questionamento ao sistema eleitoral.

Provavelmente se o presidente Lula não agir de forma diferente de Arthur Bernades, terá que lidar com o questionamento militar e de parte da população durante todo seu mandato.

O mal-estar da nacionalidade a revolta verde-amarela

Estranhamente, diferente de 1922, não temos visto praticamente nenhuma discussão intelectual e política sobre a brasilidade nesse ano de 22 que marca o bicentenário da nossa Independência e delimita uma nova era para nosso futuro. Afinal, por muitas décadas fomos “País do Futuro”. Para onde foi o futuro? Ninguém se interessa mais pelo futuro nacional?

Mas não adianta esconder essa discussão debaixo do tapete, a própria tensão social e política atual, a maior da nossa história por causa do impacto das redes sociais e de nossa vida moderna, não vai deixar ninguém esquecer da questão nacional.

Então é melhor discutir ela abertamente do que por meio de fake News e memes da internet, não é? Mesmo porque a tensão política interna e internacional pode acabar levando a mudanças de regime nos próximos anos, caso o debate público seja sufocado pela indiferença ou pela falta de comunicação entre as bolhas de simpatizantes de lado a lado.

Talvez em razão da Pandemia, talvez em razão da guerra campal sobre assuntos irrelevantes que se transformou as redes sociais, muitos intelectuais acham que ninguém se interessa por assuntos importantes e coletivos.

Mas é evidente, que soterrados em montanhas de futilidades proporcionadas pelas redes sociais, os brasileiros ainda se interessam pelo que importa e certamente estarão muito interessados em saber como renovar suas esperanças em um novo ciclo criativo de construção de seu futuro coletivo. Caso contrário, não é impossível que aposte em aventuras alucinadas baseadas em Fake News. Por causa do acirramento do debate político, os assuntos coletividade e da nacionalidade ficaram centrais, por mais que os donos do poder queriam esconder ou desvirtuar.

Ninguém aguenta mais a infelicidade do individualismo e do neoliberalismo reinante. Como em 1922, este ano marca o início de uma longa era de atuação cívica e de pressão por mudança na sociedade brasileira. É importante que esse movimento seja direcionado de uma forma construtiva e pacífica.

Fim de ciclos

Uma das razões pelo maior interesse em assuntos cívicos nacionais e internacionais decorre da coincidente decadência simultânea de diversos sistemas políticos e econômicos outrora dominantes.

Por obra de algumas dessas coincidências importantes, o ano do nosso bicentenário, coincide com o ocaso de diversos ciclos, nacionais e globais:

  • A ascensão do Oriente como centro da economia mundial, depois de 200 anos de supremacia anglo-saxã e de 500 anos de supremacia marítima europeia.
  • A decadência dos modelos norte-ocidentais como referência inquestionável para toda a humanidade, depois de pelo menos 150 anos de proselitismo desses modelos.
  • O fim do desequilíbrio tecnológico mundial nas mãos do Norte do Ocidente, depois de 200 anos de domínio completo e 500 anos de vanguarda.
  • O questionamento do liberalismo econômico como paradigma econômico global desde a queda do muro de Berlim, há 30 anos.
  • Questionamento da financeirização desde a ascensão de Margareth Thatcher há 40 anos.
  • Questionamento da hegemonia do dólar pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial.
  • Questionamento da Nova República depois de 35 anos de experiência tortuosa e oscilante, com altos e baixos, sucessos e fracassos.
  • Fim da dicotomia paulistana entre PT e PSDB hegemonizando o debate nacional por 30 anos. Hoje restou apenas o PT como grande partido nacional e as principais bases eleitorais do partido não estão mais em São Paulo.
  • Fim do ciclo de um longo ciclo de desindustrialização pelo mesmo período.
  • Fim do ciclo da conversa de surdos inaugurada há 12 anos com as redes sociais e suas bolhas de semelhantes afirmando certezas. As pessoas voltaram a desejar conversas reais e conflitos reais, cheios de mistérios, surpresas e afetos.
  • Fim do ciclo do lava-jatismo ou melhor de vira-latismo espumando de raiva, que durou 9 anos, desde as chamadas “jornadas de junho” de 2013.
  • Fim do ciclo do bolsonarismo que durou 4 anos e que agora está escalando para algo mais ostensivo.
  • Fim da pandemia, depois de 2 anos de castigo, onde muitos puderam se encontrar em uma viagem interior e agora buscam uma expressão exterior.

Bicentenário: Hora de conversar e jogar para fora os sentimentos

Está na hora do país voltar a conversar. Não na conversa de surdos das redes sociais. Mas da conversa real, onde sabemos como começa, mas não como termina.  Na conversa real, estamos abertos a chegar em um ponto desconhecido levados pela dança do diálogo e da intervenção do afeto e da inteligência.

Para tornar tudo ainda mais intenso, este ano tivemos uma das eleições mais importantes da história, onde todos esses ciclos foram ou serão questionados se estão no fim ou se precisam apenas de uma renovação.

Por tudo isso propomos continuar as comemorações do Bicentenário até o dia em que se comemora a última vitória sobre as forças portuguesas contrárias à independência, que será no dia 15 de agosto de 2023 quando fazem 200 anos em que a Província do Grão Pará – que abarca tudo o que hoje chamamos de Amazônia e corresponde a 60% de nosso território – assinou sua adesão à Independência do Brasil.

A consagração da Adesão ocorreu após uma assembleia no Palácio Lauro Sodré, sede da Colônia Portuguesa à época, local em que no dia 15 de agosto de 1823, quando o documento de adesão do Grão-Pará foi assinado, rompendo de vez o vínculo colonial com Portugal.

Bicentenário: Hora da festa!

A festa e o gosto pela festa são uns dos elementos mais marcantes da cultura e da personalidade brasileiras.  Por algum motivo nossa sociedade evoluiu nessa direção. Em parte, isso é comum em sociedades chamadas de primitivas como as sociedades tribais. Em nosso caso isso pode ter sido consequência de uma maior proximidade histórica com sociedades tribais mais também pela festa ser uma oportunidade de maior pertencimento aos excluídos, que eram a maioria. A festa é o local de compartilhar alegria e cordialidade com estranhos, é o local dos encontros inesperados. É um espaço de música, dança, comidas e prazeres. É uma oportunidade de troca e relacionamento para os excluídos e espaço de maior tolerância porque é um momento de alegria, compartilhamento e não de cobrança, habilidades profissionais, títulos acadêmicos e hierarquia. É um espaço que de alguma forma incluídos e excluídos podem compartilhar.

A festa está na alma do brasileiro e deveria ser a essência das comemorações do Bicentenário. Outros países se prepararam por anos para comemorar seus bicentenários para fazerem grandes festas. Por que o País da Festa não fez isso?

Não fez, mas podemos ainda fazer porque o bicentenário só acaba mesmo em 15 de agosto de 2023, como já explicamos.

Proposta

Nossa proposta parte do princípio de fazer algo democrático e barato, com acesso a todos e sem dependência de recursos concentrados. É incentivar que cada cidade, cada grupo faça sua festa de comemoração do Bicentenário e que também façam um debate sobre o que significa esse bicentenário, ser brasileiro e o que esperamos para os anos vindouros.

Em nível nacional a academia e os meios políticos podem organizar, com incentivo do governo, debates semanais em todas as capitais e grandes cidades nas redes públicas de TV com grandes intelectuais, cientistas, políticos, escritores, empresários e artistas sobre o assunto que eles dominam e como eles se inserem na questão do bicentenário, o estado em que estamos, o que superamos no último século e, principalmente, que o futuro nos reserva nas próximas décadas.

Toda a discussão pode ser feita por canais abertos na internet para que possa ser vista por todos. De preferência com debates ao vivo e transformando em textos originais ou usando textos já publicados como referência para que os interessados possam se aprofundar.

Operacionalização

Contratar empresas para sugerir formas de comemorações, festas e seminários e eleger – por votação popular por júri previamente escolhido ou por comitê escolhido por representantes dos entes federativos envolvidos – as melhores ideias colocadas por essas empresas para comemorar a partir de diferentes perspectivas, cidades e regiões, desde que o orçamento seja compatível com as faixas inicialmente propostas, podendo as ideias serem autofinanciadas por patrocínio, ingressos ou outras formas de remuneração privada.

As melhores ideias escolhidas seriam financiadas e implementadas.

Comemorações inconclusas do bicentenário,

faltam Nordeste e Amazônia.

Por Ceci Juruá*

 

Em agosto de 1822, o então Príncipe Regente, D. Pedro, deixou o Rio e foi a São Paulo resolver questões políticas daquela província. Em sua ausência, atracou no Rio de Janeiro o navio português Três Corações, trazendo ordens emitidas pelas Côrtes de Lisboa a respeito do Brasil.  Entre tais ordens, teve repercussão altamente desfavorável a decisão de mandar instalar juntas de governo subordinadas a Lisboa nas províncias brasileiras, pois tratava-se de medida que limitaria, necessariamente a autoridade do Principe Regente.

 

D, Pedro, ao tomar conhecimento desse fato, e das opiniões de José Bonifácio e da Imperatriz Leopoldina transmitidas por cartas que lhe foram entregues na ocasião, proclamou ali, às margens do arroio Ipiranga (São Paulo) , em 7 de setembro de 1822, o brado simbólico : Independência ou morte. Não se tratou de gesto impulsivo, pois na Côrte do Rio de Janeiro a opinião corrente já considerava a independência um fato consumado, desde a convocação da Assembléia Constituinte, em 3 de junho, ou, pelo menos, desde o decreto do dia 1º de agosto (p.371-372, Dicionário do Brasil Imperial), uma Proclamação que começava com a frase

 

“Esclarece os Povos do Brazil das causas da guerra travada contra o Governo de Portugal” (sic)

 

Entre as denúncias contidas na Proclamação aos Povos do Brazil, em 1º de agosto de 1822, figuram graves acusações do tipo :  “mãos roubadoras dos recursos aplicados no Banco do Brasil”, e a denúncia de que o Congresso de Lisboa “negociava com Nações estranhas a alienação de porções do território brasileiro, visando enfraquecer e escravizar”.

 

Por outro lado, Gonçalves Ledo, de quem pouco se fala atualmente, apresentou moção em 9 de setembro, em sessão extraordinária do Grande Oriente do Brasil, para a organização de uma cerimônia traduzindo o rompimento total e definitivo com a antiga metrópole…  Daí a Aclamação de D. Pedro “pela graça dos povos e de Deus”, enquanto Imperador constitucional do Brasil em 12 de outubro, data do aniversário de 24 anos do Imperador. (idem, p.371-372)

 

Por ocasião da aclamação do imperador, em outubro de 1822, apenas os estados que hoje constituem as regiões Sul e Sudeste apoiavam a nova organização política, enquanto Pernambuco apenas participara das eleições para a Assembléia Constituinte. Goiás e Mato Grosso juntaram-se ao Império em janeiro de 1823, em seguida foi a vez de Pernambuco, Sergipe e Alagoas.

 

Em artigo sobre Estado e Política na Independência, a historiadora  Lúcia M. Bastos P. Neves, explica a não adesão imediata de uma parte da Bahia, assim como das províncias nordestinas Piauí/Ceará e Maranhão, e do Pará ao Norte. Para ela, o jogo político acabou gerando conflitos entre o centralismo da corte fluminense e um eventual autogoverno provincial.

 

… finda a invasão do território português pelas tropas francesas, algumas províncias, como passavam a ser chamadas as capitanias, voltavam a ligar-se diretamente a Lisboa, em função, sobretudo, de seus interesses econômicos e comerciais… acabaram por constituir um grupo bastante homogêneo e poderoso, solidamente enraizado no Centro Sul, cuja atuação seria decisiva na independência, de forma distinta daqueles que habitavam o Norte e o Nordeste, ainda dependentes em muito das casas comerciais portuguesas.

 

Foi esta dependência comercial, mais a presença de tropas portuguesas nas províncias, que explicam parcialmente as guerras da independência que ocorreram em território da Bahia, nas província nordestinas de Piauí/Ceará e Maranhão, e ao Norte, no Pará. Foram guerras com efusão de sangue, acentua Lúcia Neves. Guerras para expulsar os que se tornaram estrangeiros.  Em cada local, foram fixadas datas de comemoração local da  independência com adesão ao Império do Brasil e à autoridade de Pedro I.

 

Piauí/Ceará, 13 de março, após Batalha de Jenipapo

Bahia, 2 de julho, após expulsão das tropas portuguesas que ocupavam Salvador

Maranhão e Pará, 7 e 15 de agosto respectivamente.

 

Os cinco estados, ex-provincias, que conquistaram guerreiramente o direito de pertencer ao Brasil merecem, neste ano de 2023, uma comemoração à altura do papel que desempenham, ainda hoje, como guardiães da verdadeira cultura brasileira,   Uma cultura poderosa, que resiste a séculos de escravidão e de genocídio dos povos originários e nos brindou, em 2022, com heroica vitória eleitoral contra velhos fantasmas nazi-fascistas.  Vai ficando claro, para os brasileiros, que a Bahia é o nosso berço nativista,

 

Nosso povo gosta de festa, de alegria e de liberdade.  Quem sabe o governo atual terá disponibilidade para festejar este outro Brasil, ao norte das regiões  Sul e Sudeste, o Brasil dos guerreiros humildes que nos legaram um imenso território e a capacidade de sobreviver com dignidade e esperança.

 

O DOIS DE JULHO de 2023 merece comemoração especial, na Bahia e no Brasil. Aquelas batalhas, de adesão ao Brasil que se formava, estão descritas na magnífica obra O FEUDO, de Moniz Bandeira, historiador brasileiro que  mergulhou nos arquivos provinciais e descreveu pormenores de gloriosas  batalhas que uniram indígenas, negros e senhores feudais. Delas fizeram  parte Maria Quitéria, Joana Angélica, o Barão da Torre de Garcia d´Ávila (titulo de nobreza de Joaquim Pires de  Carvalho e Albuquerque, primeiro barão é único visconde com grandeza, o Visconde de Pirajá), heróis e heroínas das guerras baianas por adesão ao Brasil imperial,  homenageados no Centenário de 1922, quando foram renomeadas as ruas de Ipanema, bairro da zona sul do Rio de Janeiro.

 

Há também, em perspectiva internacional, o projeto de celebração de outro  bicentenário, festejando o início das relações diplomáticas entre Brasil e Argentina. Unidos enfim, a dupla Argentina-Brasil permite sonhar e renovar as  esperanças de que poderemos construir um grande futuro para nossos povos, com bem-estar e justiça social para todos cidadãos e cidadãs de nosso sub-continente. Sonho de muitos heróis que já deram a vida pela Pátria Latina.

 

A Independência foi duramente conquistada por nosso povo.  Devemos festeja-la na sua integridade e honrar a memória dos que nos legaram este imenso, lindo e rico território.  A festa companheiros-as !  Festejemos nosso Brasil !

________

 

Consulta bibliográfica.

 

Bastos P. Neves, Lúcia M. Estado e Política na Independência. In O BRASIL IMPERIAL, vol.1 – 1808-1831. Por Keyla Grinberg e Ricardo Salles (orgs). Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2009

 

Vainfas, Ronaldo (Dir.)  DICIONÁRIO DO BRASIL IMPERIAL .  Rio de Janeiro: Ed. Objetiva, 2002

 

História das ruas do Rio. Rio de Janeiro:  Bem-Te-Vi Produções literárias, 2013 (6ª edição). Por Vivi Nabuco (org) e Alexei Bueno (na 6ª edição)

__________

 

Ceci Juruá.  Economista, mestre em Desenvolvimento e Planejamento Econômico, doutora em Políticas Públicas.  Ocupou os cargos de; Economista Sênior da Cia do Metropolitano do Rio de Janeiro, Assessora-Chefe da Assessoria de Orçamento da Secretaria de Estado de Transportes do RJ, Diretora Geral do DTC-RJ e Presidente do DETRO-RJ, Diretora de Estudos e Pesquisas do Ministério dos Transportes.  Foi professora de Economia da Universidade Católica de Brasilia, Conselheira do Corecon-RJ por dois triênios, Vice-presidente da Federação Nacional dos Economistas.  Atualmente é membro do Conselho Diretor do Centro Internacional Celso Furtado e do Conselho Consultivo da Confederação Nacional CNTU.

 

ANEXO

Sob Bolsonaro, Cultura destinou R$ 30 mi para bicentenário que já passou Campanha oficial do governo Jair Bolsonaro para o bicentenário da Independência do Brasil Imagem: Reprodução/YouTube Juliana Sayuri e Helena Aragão Do TAB, em São Paulo e no Rio 01/03/2023 04h00 Mais de um mês após o 7 de Setembro que marcou o bicentenário da Independência, a Secretaria do Audiovisual e a Ancine (Agência Nacional do Cinema) publicaram um edital que concederia R$ 30 milhões para produções audiovisuais brasileiras independentes, intitulado “Independência 200 anos – 2022”. Datado de 4 de novembro de 2022, quando as luzes do governo de Jair Bolsonaro (PL) já estavam se apagando, após a vitória… – Veja mais em https://tab.uol.com.br/noticias/redacao/2023/03/01/edital-de-r-30-mi-do-bicentenario-da-independencia-2022-ficou-para-2023.htm?cmpid=copiaecola&cmpid=copiaecola

 

 

 

 

 

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