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O fracasso da esquerda neoliberal no Chile, Itália e Brasil

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Petronio Filho
Petronio Filho
Pai de duas, casado, botafoguense e antifascista. Mestrado em Economia pela University of Minnesota. Doutorado em Economia pela Unicamp. Trabalhou no IPEA e na Consultoria do Senado Federal.

 

No domingo, nas eleições para a assembleia constituinte chilena, a direita derrotou o governo esquerdista do jovem presidente Gabriel Boric. Os partidos de direita conseguiram dois terços das cadeiras do Conselho Constituinte, sendo que o partido Republicano, de extrema direita, foi mais votado (35,4%) do que o partido de Boric (28,6%).

Ao assumir o poder, em 2022, Boric entregou o Ministério da Fazenda a Mário Marcel, que era nada menos que o presidente do Banco Central do Chile. Boric se afastou das pautas econômicas desenvolvimentistas e abraçou o mercado financeiro. Tentou combinar neoliberalismo econômico com a pauta de costumes feminista e pró-minorias que os religiosos e a classe média rejeitam. Perdeu a frágil maioria que tinha. A extrema direita venceu as eleições de ontem com ampla maioria.

Algo muito parecido aconteceu na Itália, onde a esquerda também entregou o poder a um ex-presidente do Banco Central. Mario Draghi, que presidiu o Banco Central Europeu, foi elevado ao cargo de primeiro-ministro com o apoio da esquerda. Draghi fez o que se poderia esperar de um banqueiro: proporcionou um período de baixo crescimento, com estagnação do emprego. Os eleitores insatisfeitos se vingaram votando na extrema direita. Draghi foi sucedido por Geórgia Melone, uma fascista.

O mesmo roteiro pode estar sendo seguido no Brasil. Lula nomeou um ministério com representantes das minorias, restabeleceu relações diplomáticas com o mundo todo e nomeou um ministro da Justiça que defende o Estado Democrático de Direito. Lula conseguiu, em poucos meses, pôr um fim no genocídio indígena, devolver os militares aos quartéis e recolocar os pobres no orçamento da União. Há muito o que se elogiar no governo Lula.

Mas o Presidente da República cometeu o erro grave de nomear um ministro da Fazenda fraco que está se deixando tutelar por Campos Neto, um Presidente do Banco Central (ainda por cima bolsonarista). O Copom, sob o comando de Campos Neto, segue inflexível mantendo a maior taxa de juros básica do planeta.

Não satisfeito, Campos Neto tenta ditar a política fiscal do governo Lula. Ele é a favor do austericídio, inclusive já deu entrevista afirmando que “tem que colocar o país em recessão para recuperar a credibilidade”.

Lula tem um Ministro da Fazenda que dá excelentes entrevistas, mas que não luta por suas ideias como deveria. Fernando Haddad preside o Conselho Monetário Nacional (CMN) órgão encarregado de fixar as metas de inflação. O Banco Central, nos termos da lei que lhe concedeu a autonomia, só pode elevar juros se for para cumprir as metas de inflação fixadas pelo CMN (onde Lula tem maioria). Infelizmente Haddad abdicou do direito de alterar as metas de inflação para não contrariar Campos Neto. A lei tornou o Banco Central autônomo, Fernando Haddad o tornou independente.

Campos Neto passou a dar palpite também no Arcabouço Fiscal. Ele provavelmente induziu o governo Lula a incluir no limite dos gastos primários os repasses do governo federal aos bancos estatais. Isso é algo que nem os autores do teto de gastos fizeram. Haddad esbanja submissão enquanto Campos Neto não cede um milímetro.

Infelizmente a esquerda brasileira, a exemplo da chilena e da italiana, acredita que abrir mão de crescimento econômico em nome de uma improvável conciliação com o mercado financeiro é algo “moderno”. Pesquisa da Quaest divulgada em 5 de maio sobre a opinião dos executivos do mercado financeiro revelou que eles têm perfil ultraconservador. A esmagadora maioria apoia os juros escorchantes do BC e rejeita Lula.

Lula parece não se lembrar que a última presidente petista, Dilma Rousseff, pagou preço elevado por se render ao rentismo improdutivo da Faria Lima. Ela entregou, em 2015, o Ministério da Fazenda a Joaquim Levy, PhD de Chicago e funcionário do Bradesco. Dilma perdeu o apoio popular, sofreu impeachment e o vice assumiu, impondo ao Brasil uma política ultraliberal e austericida que, na prática, elegeu Bolsonaro.

Nos anos recentes, toda vez que a esquerda abraçou o neoliberalismo e sacrificou o crescimento econômico para “acalmar o mercado financeiro”, ela, na prática, estendeu o tapete vermelho para a chegada do fascismo.

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