Cadastre-se Grátis

Receba nossos conteúdos e eventos por e-mail.

Foco e urgência é o que diferencia política industrial de tecnologia: comentários sobre a questão da escolha acerca amortização para os próximos 20 anos

Mais Lidos

Gustavo Galvão
Gustavo Galvão
Gustavo Galvão. Economista e Doutor em Economia pela UFRJ. Autor do livro "Finanças Funcionais e a Teoria da Moeda Moderna" (clique aqui para ver ou comprar https://www.amazon.com.br/Finanças-Funcionais-Teoria-Moeda-Moderna-ebook/dp/B08BKTNFDJ) e do livro que será publicado no primeiro trimestre de 2021: "Problemas, Limites e Oportunidades das Finanças Funcionais e da Teoria da Moeda Moderna – MMT: Inflação, Câmbio e Restrição Externa"

O artigo de Mario Bernardini e Tarcísio de Oliveira publicado neste blog (do Paulo Gala) vai no âmago da questão central da política industrial brasileira: qual fonte de energia será usada nos próximos 20 anos e como ela será transformada em movimento.

Perto disso, as demais preocupações de política industrial são secundárias ou menos urgentes. Infelizmente, talvez nossos bravos bandeirantes da política industrial não estejam vendo essa questão da mesma forma que nós.

Por acaso, escrevi há 15 anos um artigo (cujo download pode ser feito no link abaixo) que fala exatamente sobre isso, com um alerta bem antecipado e que poderia ter ajudado a impedir ou desacelerar a grande desindustrialização que sofremos nesse período.

Acredito que esse artigo não só continua atual, 15 anos depois, mas talvez, possa ainda estar à frente das posições majoritárias sobre política industrial atuais no Brasil, mesmo em nosso campo. Política industrial é algo diferente de política tecnológica e política de inovação não é nem uma coisa e nem outra, porque é um conjunto vazio.

Infelizmente acredito nossos amigos ainda estão confundindo um pouco essas coisas e cometendo alguns pequenos erros semelhantes aos que foram cometidos nos dois primeiros mandatos de Lula e no primeiro de Dilma.

Política industrial não é seguir o que outros países estejam fazendo ou que grandes autores internacionais sugerem. Não era assim que Vargas, JK e os militares fizeram com grande sucesso sem nenhum técnico com doutorado em política industrial no exterior.

Política industrial é concentrar forças nas imensas cadeias já existentes no país e introduzir novas cadeias que fortaleçam as cadeias já existentes. A competição internacional é forte demais para ser superada desconcentrando energia.

Vantagens competitivas não são criadas por inovação, mas por acumulação consciente e sistemática de forças. O carro híbrido e o carro a célula combustível acumulam forças a nossa estrutura produtiva. Uma aposta exclusiva no carro elétrico puro hoje destrói nossa estrutura produtiva antes que outra seja construída.

Por esses motivos, ao contrário do que dizem os críticos, o Presidente Lula, o Ministro do MDIC e suas equipes técnicas acertaram em cheio ao dar sim importância ao carro popular comum, pois é o que nossas cadeias produtivas podem fazer hoje e elas precisam ser reerguidas, pois sem elas não haverá forças para investir no próximo passo tecnológico.

O investimento em tecnologias novas é política tecnológica, e não política industrial. Ele não gera resultado imediato e não resolve os desafios econômicos necessários para o desenvolvimento a curto e médio prazo, portanto, também não pode nos salvar sozinho a longo prazo.

O foco principal da política tecnológica não deve ser o novo ou que está na moda em outros hemisférios, mas os gargalos nas tecnologias existentes das cadeias reais em operação no país ou nas cadeias que sejam muito competitivas e baratas para serem rapidamente introduzidas.

Eu acho que esses equívocos podem ajudar a entender por que as políticas industriais elaboradas por gente com muito menos diplomas nos anos 30 a 80 tinham grande eficácia em industrializar o país, enquanto um exército de especialistas desenvolviam muitos estudos e propostas sobre o assunto nos últimos 30 anos, enquanto nos desindustrializávamos a taxa mais alta da história global.

Não que os técnicos estavam errados. Não estavam, fizeram ótimas análises e ótimas propostas e até políticas reais muito boas nesse período. Entretanto, em administração pública foco é tudo. Consertar algumas janelas no meio de um furacão não deve resolver nossos problemas.

Uma coisa é alertar que a China e os EUA estão acertando ao investir em XYZ, outra é a gente querer competir nessas tecnologias de ponta sem instrumentos à altura enquanto a indústria existente no Brasil pena a míngua.

Gustavo Galvão atua como funcionário do BNDES e Doutor em economia pela UFRJ.

Crítica ao texto, Etanol é o nosso caminho para para a transição energética nos carros, publicado escrito por Mario Bernardini e Tarcísio de Oliveira. publicado

Refs:
https://www.nipe.unicamp.br/docs/publicacoes/ac.els-cdn.com-s0360544208002958-1-s2.0-s0360544208002958-main.pdf
https://www.mobiauto.com.br/revista/por-que-nissan-tentara-extrair-hidrogenio-do-etanol-e-fiat-desistiu/915
https://jornaldocarro.estadao.com.br/carros/toyota-do-brasil-tera-carro-eletrico-a-hidrogenio-movido-a-etanol/

Artigos Relacionados

01:36:43

EUA , do capitalismo industrial ao capitalismo financeiro: consequências

“E Biden já disse que o Presidente Trump gerou grande déficit, que só nos resta administrar uma montanha de dívidas... ou buscar o equilíbrio...

Carro elétrico, a revolução geopolítica e econômica do século XXI e o desenvolvimento do Brasil

Este trabalho analisa as grandes transformações mundiais possivelmente decorrentes da difusão do carro elétrico, que é a principal tecnologia para o novo mundo de...

O Brasil nasceu desenvolvimentista

Um dos aspectos menos comentados acerca do processo de Independência é a simultaneidade dela com as primeiras políticas de desenvolvimento industrial adotadas no nosso...

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

Em Alta!

Colunistas