A paciência da sociedade brasileira com o Banco Central Independente (BCI), sob comando do neoliberal bolsonarista Roberto Campos Neto, praticando juros mais altos do mundo, esgotou; a rota deflacionária dos preços, incompatível com desenvolvimento sustentável, requer imediata redução dos juros para combater o que se tornou insuportável: o desemprego, a inadimplência e a paralisia da produção e do consumo que inviabiliza investimento e arrecadação, para enfrentar o ajuste fiscal aprovado pela Câmara, agora, dependendo do Senado.
O perigo destruidor da deflação está em marcha diante dos juros extorsivos bancados por Campos Neto; a queda da inflação, no mês de maio (0,23%); no ano (2,95%); em 12 meses, (3,94%); e em setores, como transporte (-0,57%), decompondo em passagens aéreas(-17,73%), combustíveis(-1,82%), óleo diesel(-5,96%), gasolina(-1,93%), gás veicular(-1,01%), com destaque para alimentos(0,16%), comparado com abril(0,71%), acendeu sinal vermelho.
Reunião emergencial no BC, nessa semana, deu alarme diante da escassez de crédito; empresas e consumidores, sem alternativa, podem enfileirar-se em ondas de inadimplência, frustrando conquistas do governo Lula, em recompor políticas sociais e programas redistributivos de renda, voltados à recuperação econômica sustentável.
Na prática, a política monetária radical antinacionalista do BC preparou a reação social que está engrossando contra ela; nessa sexta feira, o PT e os sindicatos de trabalhadores vão às ruas para jornada de protesto, cujas consequências são determinantes para a própria estratégia política desenvolvimentista lulista; elas terão reflexos decisivos no Congresso, onde a maioria conservadora contrária a Lula pode ficar em sinuca de bico.
O PT, enfim, rendeu-se ao movimento nacional criado, em 2020, pela Auditoria Cidadã da Dívida (ACD), com o lema de que “Chegou a hora de virar o jogo contra os juros de agiota praticados pelo BC”.
O ajuste fiscal aprovado na Câmara, que rompe teto neoliberal de gastos, mas o mantém condicionado a fatores que não darão respostas satisfatórias, se o BC não reduzir, o mais rápido possível, os juros Selic, vira ameaça à própria oposição que tenta anular Lula; o feitiço, assim, pode virar contra o feiticeiro.
IDEOLOGIA UTILITARISTA EM XEQUE EM 2008
O fato é que o BC Independente, com sua política recessiva, passa a ser percebido pela sociedade como algo que deixa de ser útil, conforme a própria ideologia maior do capitalismo, ancorada na utilidade; “Tudo que é útil é verdadeiro. Se deixa de ser útil, deixa de ser verdade.” (Keynes).
O monetarismo extremista, expresso em juro alto que paralisa a economia, como arma para combater a inflação, foi abandonado pelos países capitalistas desenvolvidos com a crise monetária de 2008. Evidenciou-se, a partir de então, o que muitos especialistas já combatiam, isto é, que a inflação não é fenômeno meramente monetário, mas, fundamentalmente, social e político.
Diante da crise de liquidez explosiva, os bancos centrais, puxado pelo BC americano, sintonizado pela coordenação do BIS(Banco de Compensações Internacionais), partiram para a inovação; em vez de cortar a oferta de dinheiro, aumentou-a, brutalmente, frente ao perigo de quebradeira bancária.
O resultado dessa nova política monetária denominada MMT – Moderna Teoria Monetária – defendida, principalmente, pelo Partido Democrata americano, foi surpreendente: a inflação em vez de subir, diminuiu; o mesmo se deu com os juros; o risco que, nessas ocasiões, puxa os juros, levando-os à estratosfera, não cresceu e o custo do dinheiro, na praça global, caiu a zero ou negativo.
A MMT, sobretudo, ao baixar os juros, diminui o peso das dívidas públicas nacionais sobre o orçamento público, abrindo espaços para novos investimentos mediante renegociações orçamentárias; se o juro vai a zero ou negativo, a dívida pública deixa de ser ameaça.
Desde então, a estratégia monetarista dos bancos centrais dos países ricos sofreu brusca mudança, para evitar hiperinflação global; o governo Lula, que dispõe de reservas cambiais suficientes para afastá-lo do perigo de dívidas externas, não tem por que submeter-se à ortodoxia do BC independente comandado por Campos Neto.
RECEITUÁRIO DISPENSÁVEL ESTIMULA DESDOLARIZAÇÃO
A receita neoliberal ancorada em metas inflacionárias, câmbio flutuante e superavit primário aprofunda crise capitalista periférica que passou a favorecer o discurso da desdolarização, amplamente, apoiado pela China; os chineses opõem ao neoliberalismo de Washington a expansão comercial por intermédio de moedas nacionais, experimento que será, mais amplamente, discutido, em agosto, na reunião dos BRICS, na África do Sul.
Formado, atualmente, por cinco países, os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) se abrem à participação solicitada por cerca de 20 país da Ásia, África e América Latina, com poder de seduzir até potências econômicas como a França, interessada em estar no evento.
O modelo neoliberal ficou estreito para dar conta das demandas dos países componentes do Sul global que se juntam em torno da nova potência econômica mundial, a China, aliada à Rússia; a orientação chinesa, que já se pontifica com o maior PIB mundial, medido pelo valor de compra, é a da cooperação econômica alternativa à tendencia deflacionária seguida pelo neoliberalismo ultrapassado do BC Independente brasileiro.