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Os Ataques a Marcio Pochmann

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Por: Luiz Gonzaga Belluzzo 

Dante Alighieri escreveu na Divina Comédia: Segui Il Tuo Corso e Lascia dir le Genti. Imagino que o professor Marcio Pochmann possa seguir a recomendação do grande poeta do Renascimento. Essa atitude revelaria, não apenas modéstia sobranceira, mas também destemor frente aos maledicentes.
Entre os ataques praticados pelos acusadores, figura com imponência a increpação de “ideológico”. Na visão dos economistas convencionais, as divergências entre as visões e de concepções nos arraiais da Economia distinguem os cientistas dos ideólogos.

Vou apresentar aos cientistas da sociedade, a visão do pensador Charles Wright Mills, um típico liberal norte-americano do imediato pós-Guerra. Formado no clima progressista e esperançoso do New Deal, Mills arriscou previsões sobre a trajetória do conhecimento da sociedade. Tais previsões, não só se cumpriram, como foram ultrapassadas pela capitulação humilhante das ciências sociais diante dos procedimentos pseudocientíficos da economia.

Gillles Deleuze, o filósofo, dizia que a “filosofia (e eu acrescentaria a economia política) não é uma Potência. As religiões, os Estados, a opinião, a mídia, são potências, mas não a filosofia… Não sendo potência, a filosofia não pode empreender uma batalha contra as Potências: em compensação, trava com elas umas guerra sem batalhas, uma guerra de guerrilhas. Não pode falar com elas, nada tem a lhes dizer, nada a comunicar, e apenas mantém conversações”.

Apesar de suas formidáveis intuições e descobrimentos, Keynes deixou-se carregar pelas ilusões do poder das ideias e do convencimento, imaginando ser possível, com tais armas, travar batalha contra as Potências. Mas, na realidade, as Potências estão desinteressadas em sufocar a crítica ou as ideias desviantes. Elas dedicam-se a algo muito mais importante: fabricam os espaços da literatura, do econômico, do político, espaços completamente reacionários, pré-fabricados e massacrantes. “É bem pior que uma censura”, continua Deleuze, “pois a censura provoca efervescências subterrâneas, mas a reação quer tornar tudo isso impossível.”

Nesses espaços fabricados pelas Potências, talvez seja até mesmo impossível manter conversações, porque a norma não é a crítica racional, mas o exercício da animosidade sob todos os seus disfarces, da agressividade a propósito de tudo e de todos, presentes ou ausentes, amigos ou inimigos. Não se trata de compreender o outro, mas de vigiá-lo. “Estranho ideal policialesco, o de ser a má consciência de alguém”, diz Deleuze.

Alguns senhoritos e senhoritas da opinião travestida em Potência, abandonam a crítica pela vigilância e a vigilância exige convicções esféricas, maciças, impenetráveis, perfeitas. A vigilância deve adquirir aquela solidez própria da turba enfurecida, disposta ao linchamento. Gritam, implacáveis: “Esses malditos keynesianos, promotores de gastos, vamos pegá-los. Vamos pegá-los, porque os gastos são maus. Abaixo os gastos, morte aos keynesianos”.

Só um insensato, em meio à perseguição, tentaria explicar alguma coisa a esse bando enlouquecido. O filósofo Franco Berardi vai além e conclui que o vendaval de abstrações e imediatismos produzidos pelos mercados financeiros, pela mídia e pelas tecnologias de informação capturou as energias cognitivas da sociedade. De um lado, diz ele, são ondas avassaladoras de sofrimento mental e, de outra parte, a depressão e o rebaixamento intelectual encontram remédio no fanatismo e no fascismo.
O autor da Teoria Geral tinha fé no poder das ideias e depositava esperanças na persuasão e no convencimento. É de se temer que, ressuscitado, o velho Keynes, ao tomar conhecimento dos comentários sobre sua obra, implorasse por uma volta imediata aos confortos e tranquilidades da eternidade.

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