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Helio Silveira
Helio Silveira
Helio Pires da Silveira - Nascido em 1952 (mesmo ano da criação do BNDES)-Economista aposentado do BNDES: de 1977 a 2012, dos quais nos últimos 6 anos participou da Diretoria da AFBNDES: de 2006 a 2010 como Vice-presidente e 2010 a 2012 como Diretor Institucional e de Comunicação.

Por Hélio Silveira e Gustavo Galvão

Em 7 de maio de 2011, publicamos aqui no VÍNCULO (edição 978), dentro da “Série BNDES”1, o artigo “Ensaios sobre a loucura… econômica – ou Saudades do carioca Stanislaw Ponte Preta”, no qual mostrávamos que, a despeito de uma conjuntura bastante complexa que indicava nítidos sinais de desagregação da situação político-econômica mundial, o noticiário especializado assegurava para 2011/12 um ambiente de crescimento mundial e de 4,5% a 5,0% para o PIB brasileiro.

No texto, especulamos que diante daquela conjuntura difícil o crescimento de 7,5%, de 2010, poderia se reduzir para 3,5%, nível desejado por dez entre dez analistas defensores do status quo. Segundo eles, tal ritmo garantiria a sustentabilidade no médio prazo e a paz dos cemitérios. De fato, com um quadro mundial que já mostrava alguns sintomas de desajuste político-econômico, nossas autoridades, preocupadas com o nível inflacionário e com um possível nível de aquecimento interno, elevavam a taxa Selic e anunciavam medidas macroprudenciais para esfriar a demanda interna.

Mas a nossa preocupação recorrente era outra: a elevação dos juros com a consequente valorização do real e o que isso acarretaria para a nossa indústria, o déficit de transações correntes e a redução do nível de crescimento.

Ocorreu que, no último dia 6 de março, o IBGE anunciou que, em 2011, o PIB apresentou crescimento de 2,7%.

Sim, o desempenho da economia ficou abaixo de nossa estimativa e também da média mundial, de 3,8%. Um ano após crescermos 7,5%, alcançamos apenas 2,7%, ou seja, considerando que o ano seguinte a um forte crescimento ainda carrega uma força inercial, significa que o PIB sofreu um forte desaquecimento.

De fato, pela ótica da produção (oferta), vemos que os setores agropecuário e extrativo mineral (commodities) cresceram em conjunto 3,7%, a indústria, setor mais nobre para a criação de valor adicionado (produto real), cresceu apenas 1,6%, sendo que a indústria de transformação tão somente 0,1%.

Pela ótica da demanda, vemos que o investimento elevou-se em 4,7%, enquanto o consumo das famílias em 4,1%. Chama atenção o crescimento das importações, de 9,7%, o que, em face da contribuição nula da indústria de transformação, nos faz deduzir que parte do consumo familiar e parte significativa dos insumos industriais e dos investimentos vieram do exterior, tudo graças à valorização do real!

Preocupa-nos, também, o crescimento do déficit em transações correntes – nosso histórico “calcanhar de Aquiles” e razão de todas as crises econômicas – que, em sua trajetória de crescimento, ao atingir o patamar de US$ 55 bilhões, caminha para atingir 3% do PIB, ponto em que começa a enfraquecer nossos fundamentos.

Em Goldman Sachs confiamos…!2

Durante o segundo semestre de 2011, diante do recrudescimento da crise na Zona do Euro, o mundo acompanhou apreensivo a falta de governança dos líderes europeus. Apesar de diversas reuniões, não se chegava a qualquer consenso. Em vez da esperada coordenação, vimos a discórdia.

A Zona do Euro vista como um conjunto, ou uma federação, representa o segundo maior PIB do mundo. Somado com o PIB dos Estados Unidos, representa quase metade do PIB mundial, daí a preocupação com o destino daquele bloco econômico que, como federação, é um conjunto extremamente sólido e os membros mais ricos têm condições de bancar facilmente os menores com dificuldades estruturais (refinanciando dívidas, efetuando programas de compras de seus insumos, enfim, mantendo a atividade econômica e o emprego). A propósito, não é a hora para a implantação do instrumento EUI (Empregador de Última Instância), de Randall Wray, exposto no artigo “BNDES sempre!”, também disponível na “Série BNDES”?

Entretanto, a solução veio pelo mercado. Por um lado, rígidos programas de ajustes fiscais aos países, com corte de empregos e salários. Por outro, afrouxamento da liquidez e forte ajuda às instituições financeiras a juros ridículos pelo Banco Central Europeu (BCE), numa verdadeira política “à La Hood Robin”: salvaram os bancos às custas do sacrifício social!

Quando ansiávamos por coordenação e governança, vimos três novos líderes chegarem à cena: Mario Draghi ao BCE, substituindo J. Claude Trichet; Evangelos Venizelos ao Ministério de Finanças da Grécia, em lugar do ex-primeiro-ministro Papandreou; e Mario Monti ao posto de Primeiro-Ministro da Itália, substituindo o demitido Berlusconi. Coincidentemente, todos ex-Goldman Sachs. O primeiro abriu as torneiras do BCE aos bancos europeus e os outros dois implantaram políticas de fortes restrições fiscais em seus respectivos orçamentos, promovendo cortes salariais e demissões de funcionários. Até quando os esclarecidos trabalhadores europeus aceitarão esse remédio amargo?

Tsunami

O binômio alta liquidez e cortes fiscais se alastrou por quase todos os países do euro. Logicamente, a tsunami de liquidez transbordou o continente europeu em busca de boas barganhas pelo mundo. Essa nova liquidez se junta com a advinda dos EUA, a única política possível num país em meio a uma disputa eleitoral e lento crescimento. Toda essa liquidez forma uma grande onda à procura de aplicação.  O Brasil com seus juros acolhedores recebeu parte dessa onda, valorizando o real e finalmente “acordando” as nossas autoridades públicas.

Sinuca de bico

Na “Série BNDES”, desde o primeiro artigo, “BNDES sempre!”, de julho de 2008, vimos batendo em duas questões estruturais: a redução dos nossos juros estratosféricos, que valorizam o real, provocando um grave processo de desindustrialização, e a necessidade de um plano estratégico para administrarmos nossas riquezas recém-descobertas e efetivarmos o resgate de nosso passivo social (“BNDESOCIAL: o resgate do passivo social”).

Estamos alertando para o agravamento da situação e sugerindo instrumentos facilitadores para o financiamento do plano estratégico como foi o caso do arranjo “BNDES/TESOURO”, exposto em artigo de agosto de 2008 – instrumento que quando veio a público em janeiro de 2009 (“Aliança BNDES-Tesouro: premonição ou lógica?”) foi imediatamente rejeitado por dez entre dez analistas defensores do status quo, já que, para eles, juros altos eram necessários para combater a inflação e era discutível a tese de que os juros eram a causa da valorização cambial!

Agora, com o PIB 2011 revelado, a desindustrialização aberta e a tsunami querendo valorizar o real, as luzes vermelhas acenderam e nossas autoridades correm para fechar os furos da mangueira! Aumentam o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para os financiamentos à exportação, reduzem os juros em 0,75% e acenam com redução de impostos.

Infelizmente, todas medidas paliativas, já que estão na encruzilhada: ou continuam seguindo o mercado mantendo os juros ainda elevados, com o risco da valorização do real, da desindustrialização acelerada e do desaquecimento não planejado, ou partem para definir um plano para o país, um plano pactuado tendo em vista a cidadania ampliada.

Infelizmente, o momento não permite mais meias medidas. É hora de definir o caminho. Em “BNDES-TESOURO e o PAD”, de novembro de 2011, já antecipávamos sugestões, que, diante da conjuntura, acreditamos ser de alguma valia.

Em tempo: como más notícias não vêm sozinhas, acrescentem ao que foi exposto um possível desaquecimento chinês!

 

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