Os governos capitalistas ocidentais – europeus e americano, especialmente – não engolem o Papa Francisco, porque o seu sonho é o socialismo não o capitalismo, num cenário global em que jamais se pode esperar cooperação no discurso do capitalismo unipolar, enquanto o mundo multipolar cooperativo ainda é uma construção incerta, no ambiente de ameaça de conflito nuclear entre as suas potências atômicas.
São a inclusão social e a solidariedade, e não a exploração do capital que alimenta a indústria armamentista, o foco do chefe da Igreja Católica, como destacou durante a última semana em Portugal, na Jornada Mundial da Juventude.
Claudicante, tentando vender otimismo, Francisco, na verdade, revelou expressão de desespero psicológico, quando se sabe que cerca de 22% dos jovens estão desempregados, segundo a ONU.
Ele buscou animá-los com a narrativa da esperança e do acolhimento, que, para bom entendedor, é tudo que não seja predação capitalista comandada, atualmente, pelo mercado financeiro especulativo.
O mercado não cria mais emprego, renda, consumo, produção e arrecadação e investimento, mas destruição, desigualdade, concentração de renda, desemprego, desespero e violência.
O catolicismo está diante do desafio de ser explícito – sem tergiversações – com sua base religiosa para falar a verdade sobre conflitos que inviabilizam o futuro da juventude que sonha com a estabilidade do emprego e da renda.
Tal possibilidade virou, no cenário do capitalismo especulativo, utopia, em meio à qual o que funciona são narrativas de fake News do radicalismo político de direita fascista, cujo objetivo, como, historicamente, se sabe, é destruir a classe trabalhadora, somente possível com supressão da democracia, como Hitler e Mussolini demonstraram na segunda guerra mundial.
Bancarrota do cristianismo
O Vaticano, no cenário do capitalismo pós-guerra fria, adepto da desregulamentação total das fronteiras nacionais, para livre circulação do capital, vacilou, abandonando a doutrina cristã para apoiar o nazifascismo em administrações papistas altamente controvertidas, aliando-se ao capital contra o comunismo soviético.
O nazifascismo perdeu a guerra, mas ganhou a paz, na medida em que prosperou com a sobrevivência do neoliberalismo, na guerra fria.
Agora, porém, mostra-se incapaz de criar expectativas para a humanidade, diante de radicalismos que ganham espaço, principalmente, no compasso do fracasso da social-democracia e da fuga da esquerda com seu compromisso com o socialismo, destroçado, sobretudo, com a tragédia da expansão dos emigrantes.
O câncer da imigração dos países pobres para os ricos foi a resposta da exploração colonialista, que funciona, atualmente, como a volta do chicote no lombo de quem mandou dar, motivo de expansão da ideologia direitista radical no velho Continente e nos Estados Unidos.
O discurso humanista europeu e americano, diante do fenômeno da imigração, virou fumaça.
A Igreja, frente ao desastre social-democrata esquerdista no capitalismo cêntrico, sob desconfiança generalizada dos mercados especulativos, tenta, com Francisco, acenar para o nacionalismo desenvolvimentista anti-imperialista, na periferia capitalista, visando o mundo multipolar.
Para ter alguma dose de chances nessa trajetória, altamente, espinhosa, o líder católico visualiza nova geopolítica mundial que se amplia com a abertura de fronteiras na Rota da Seda, rumo à Eurásia, sob comando da China, vitoriosa sobre o capitalismo de desastre especulativo norte-americano.
BRICS e neonacionalismo
É ela que traça os caminhos alternativos à geopolítica atlanticista ocidental americana, para construção do mundo multipolar que a China e Rússia tentam expandir pela Ásia, África, Oriente Médio e América Latina, na construção de neo-nacionalismo cooperativo, antineoliberral, por meio dos BRICs.
Tenta-se, dessa forma, construção de novo sistema monetário internacional alternativo ao de Bretton Woods, criado em 1944 pelo poder bélico americano, exaurido pelo neoliberalismo.
Trabalha em favor dessa hipótese a estratégia imperialista desastrosa de sancionar os que não seguem sua cartilha, cujo efeito destrutivo é a fuga da moeda americana, rumo à desdolarização e à construção de relações comerciais em moedas locais, no rastro da pregação multipolar chinesa-russa.
Enquanto isso ainda não passa de articulações poderosas sem amplo efeito demonstrativo prático, a ideologia imperialista busca a predominância em discursos de fake news.
Por meio dele, arregimenta ideologicamente o Ocidente em torno da narrativa de que a paz está bloqueada pela Rússia, responsável por guerra que pode ser interminável, quando, na prática, ocorre o contrário, como se conscientiza a própria inteligência americana.
Lança, portanto, incertezas que colocam a humanidade em estresse total, ideal satisfatório para a indústria da guerra, com a qual o imperialismo de Tio Sam enriquece o mercado financeiro que a banca.
Nesse contexto de total indefinição, Papa Francisco, consciente do estrago social e político da guerra, especialmente, sobre os jovens desempregados e desesperados, como atesta sua passagem por Portugal, aposta no mundo multipolar, porque o unipolar, para a humanidade, deixou de ser útil.