Embora a perspectiva de um pouso suave da economia dos Estados Unidos tenha afastado o receio de uma nova recessão global nos próximos meses, o nível de incerteza em relação ao desempenho da economia global permanece elevado.
Ministros das finanças e presidentes dos bancos centrais dos países do G20 reunidos na Índia no mês de julho apontaram que economia mundial apresenta de novo sinais de enfraquecimento, quando até recentemente parecia ter entrado num ritmo mais dinâmico. Entre os fatores que podem comprometer o desempenho da economia global nos próximos meses estão uma certa fragilidade da atividade industrial, a desaceleração do comércio mundial, a entrada da Europa em leve recessão no início do ano e as dificuldades para a retomada da produção na China.
Nos Estados Unidos, mesmo com vários indicadores positivos, economistas ainda projetam possível recessão nos próximos 12 meses. A continuidade da guerra na Ucrânia e seu potencial impacto sobre o preço dos alimentos é igualmente um fator de incerteza. Para o economista Nouriel Roubini, que ficou famoso por prever a crise de 2008, o risco de um pouso forçado da economia global parece menor do que há alguns meses. Mas com o crescimento salarial teimosamente alto e o núcleo da inflação forçando os bancos centrais a fazerem aumentos adicionais nas taxas, uma recessão curta e superficial no próximo tornou-se muito mais provável.
Para a revista “The Economist’ (22/7), no entanto, “seria um erro supor que a economia mundial está agora no caminho para o chamado pouso suave por três razões. A primeira é que a inflação, embora menor, continua muito acima das metas de 2% dos bancos centrais. A queda na taxa básica da América foi impulsionada por um declínio pontual nos preços da energia: excluindo alimentos e energia, e os preços estão 4,8% mais altos do que no ano anterior. Na zona do euro, a cifra é de 5,5%, e em ambas as economias os salários ainda estão sendo elevados muito acima do crescimento da produtividade. Em outras palavras, o mundo rico tem um longo caminho a percorrer antes de ser totalmente desinflado – e muitos economistas esperam que a última milha seja a mais difícil. Embora a inflação teimosa de, digamos, 3-4% não chame tanto as manchetes quanto os recentes aumentos alarmantes de preços, ainda seria um problema para os banqueiros centrais. Eles podem ter que escolher entre mais aperto do que o esperado atualmente e abandonar tacitamente suas metas de 2%. Qualquer um deles seria prejudicial para os mercados de ativos e, potencialmente, para a economia real também.
O segundo risco é que, enquanto o mundo está vendo os benefícios de esfriar agora, os custos podem não ser visíveis por um tempo. Até o momento o mercado de trabalho dos Estados Unidos se reequilibrou sem problemas, reduzindo vagas em vez de empregos. As contratações ainda são fortes e as demissões são raras. Com vagas de emprego menos abundantes, o crescimento dos salários caiu. No entanto, ninguém sabe por quanto tempo o mercado de trabalho pode perder gordura em vez de músculos – e nos últimos meses a queda nas vagas de emprego estagnou ameaçadoramente. Em todo o mundo rico, há evidências de que as empresas, marcadas pela memória da escassez de mão-de-obra, estão acumulando trabalhadores de que não precisam; em vários países, a média de horas trabalhadas vem caindo. Se as empresas decidirem que é muito caro se apegar a trabalhadores que podem ou não ser necessários no futuro, as demissões podem aumentar abruptamente.
O terceiro perigo é que a divergência entre as grandes economias do mundo significa que, mesmo com o aumento da pressão sobre o Fed, os formuladores de políticas em outros lugares continuam preocupados. A Grã-Bretanha está comemorando uma queda maior do que o esperado na inflação anual em junho, mas com o crescimento subjacente de preços e salários de cerca de 7%, continua sendo um valor discrepante preocupante. O Japão mal começou seu aperto monetário; com o aumento da inflação, o Banco do Japão pode ajustar novamente o limite dos rendimentos dos títulos de longo prazo no final de julho. A China pode estar enfrentando uma desaceleração estrutural do crescimento, na qual a economia está sobrecarregada por dívidas inadimplentes, como a do Japão no início dos anos 1990, e na qual a inflação é persistentemente baixa demais”. De acordo com o jornal “O Estado de S. Paulo (06/7), “Os investimentos estrangeiros diretos (FDI, na sigla em inglês) no mundo caíram 12% em 2022 ante 2021, a US$ 1,3 trilhão, apontou o Relatório de Investimento Mundial 2023, elaborado pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad). Nos países em desenvolvimento, porém, houve aumento de 4%, para US$ 916 bilhões, sendo o grupo responsável por 70% dos fluxos globais, uma participação recorde, “embora o crescimento tenha se concentrado em algumas grandes economias emergentes”.
O Financial Times (25/7) destaca a fala do economista-chefe do FMI, Pierre-Olivier Gourinchas, segundo o qual, “as economias avançadas e emergentes ainda não estão “fora de perigo”, uma vez que os esforços dos bancos centrais para conter a inflação teimosamente alta ainda pesarão fortemente no crescimento”.
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