Não é desfeita de Xi Jinping à Índia que vai hospedar o G20 no final de semana sob presidência do presidente Lula.
Trata-se de resposta do chefão chinês às ameaças de Joe Biden à economia chinesa e da estratégia da China de aprofundar jogo estratégico da desdolarização, depois da reunião dos BRICS na África do Sul, em que o bloco incorporou mais seis membros de peso com destaque para sua ampliação quanto ao poder energético global.
Está em marcha o petro-yuan em substituição ao petrodólar. Joe Biden, sem Xi Jiping, chega à Índia por baixo.
Por isso, Washington produz ininterruptamente fake News ao espalhar que o progresso chinês está com os dias contados, diante de desaceleração econômica. Na verdade, ocorre o oposto.
São os Estados Unidos que adotam protecionismo escancarado contra a China para tentar paralisar a economia mais forte do mundo em paridade do poder de compra.
Xenofobia imperialista
Os políticos americanos insistem, com sua xenofobia ideológica imperialista, em esconder que os Estados Unidos perdem corrida competitiva para os chineses que relativizam pujança econômica americana.
Os americanos, com prática protecionista escancarada, estariam retomando a dianteira na corrida tecnológica e impondo aos chineses derrotas estratégicas?
Será? Ou trata-se de falsa narrativa, a esconder declaração de guerra dos Estados Unidos contra a China, depois de anos de avanços irresistíveis do PIB chinês até 2015. De lá para cá, Washington tem forçado mudanças.
O artigo de Jeffrey Sachs “Guerra Econômica dos Estados Unidos contra a China” explica.
Não se trata de ultrapassagem da economia americana revigorada diante da economia chinesa cansada. Nada disso.
Simplesmente, ocorre guerra encarniçada do governo Biden na tarefa de impedir entrada das mercadorias chinesas em território americano.
Biden segue Trump
Trump havia, no seu governo, iniciado, para valer, tal combate sistemático à concorrência chinesa, taxando importações a torto e a direito. Biden, na sequência, não reverteu ações de Trump. Pelo contrário, intensificou-as. Assim, se há dez anos, a importações chinesas correspondiam cerca de 25% do total importado pelos Estados Unidos, não passam, nesse momento, de 15%. Washington repete o que fez contra o Japão nos anos 1980/90. Naquele período, os japoneses escalaram produtividade e competitividade superiores às dos americanos.
As importações japonesas alcançaram quase 30% do total das mercadorias em circulação nos Estados Unidos. Os políticos americanos, pressionados pela classe empresarial, votaram barreiras protecionistas, até que de 30% caísse para 13% o volume importado. A onda japonesa entrou em crise. O yen japonês foi forçado à valorização e o governo partiu para déficit interno, puxando dívida pública para além dos 100% do PIB.
Jogo imperialista não para China
É assim que o império age quando se vê ameaçado. Para preservar o seu poder, se fecha. Com os chineses, a situação se repete. Washington levará Pequim à crise como havia levado Tóquio?
A diferença entre Japão e China é que a diversificação econômica chinesa se expandiu não apenas nos Estados Unidos, mas, nos cinco continentes. Essa estratégia segue agora firme com expansão dos BRICS.
Ásia, África, América Latina são campos de caça das mercadorias chinesas contra as quais as indústrias do império americano não estão conseguindo lutar, efetivamente.
Se, para parar o Japão, nos anos 1980-90, os Estados Unidos acirraram medidas protecionistas, agora, contra a China, o protecionismo, apenas, não está sendo suficiente.
As mercadorias chinesas estão disseminadas no mercado global, graças à combinação de política monetária expansionista, tocada por bancos públicos, que oferta crédito barato aos compradores internacionais da China.
Adicionalmente, os chineses partem para financiar suas exportações em yuan, passando ao largo do dólar.
É uma avalanche que o império não consegue mais conter, nem mesmo no espaço europeu, onde a tentação europeia de aproximar-se da China obriga os Estados Unidos a dobrarem ameaças, indo, agora, à guerra.
Corrida armamentista X Guerra Comercial
A corrida armamentista americana no mar da China e a insistência de Washington em desconhecer que Taiwan faz parte da China, buscando armar os taiwaneses, é a demonstração de que a derrota dos Estados Unidos no campo comercial para os chineses se abre para guerra total.
O novo quadro geopolítico, que, por causa da guerra na Ucrânia, uniu Rússia e China e, consequentemente, acelerou expansão dos BRICS, cria situação de incerteza crescente aos americanos.
Washington, insegura diante dos mercados especulativos, temerosos da saúde do dólar, ameaçado por desdolarização, tem que subir sarrafo dos juros para colocar seus títulos da dívida pública nos fundos financeiros internacionais.
Quem acaba pagando o pato são os bancos americanos obrigados a sustentar crédito interno caro que abala sua competitividade e sua saúde financeira, sinalizando perigo de crise bancária.
Os americanos, cada vez mais inseguros diante da pregação russo-chinesa em favor da desdolarização, veem esfumaçar hegemonia monetária.
Washington propende nesse contexto ao radicalismo e à intolerância contra aliados, como o Brasil, seduzidos pelo discurso do novo mundo multipolar ancorado em cooperação internacional, expressa em empréstimos em yuan em vez de em dólar, situação que reduz riscos de rolagem da dívida pública nacional.
Neoliberalismo na corda bamba
Dessa forma, as bases do neoliberalismo, pregado pelos americanos desde a guerra fria pós-derrubada do Muro de Berlim e queda da União Soviética, estão desmoronando. Os gargalos econômicos e financeiros impostos pelo endividamento público brasileiro, responsável pela semiparalisia do desenvolvimento insustentável, por falta de investimentos, podem ser rompidos pela nova palavra de ordem chinesa-russa, apoiada pelo Brasil: desdolarização.
Nova dinâmica das relações econômicas internacionais, baseadas em troca de moedas nacionais, reduz o gargalo do custo dolarizado expresso em juros altos como reflexo direto da política monetária americana sobre as economias capitalistas periféricas cronicamente dependente de poupança externa.
A Washington restaria ameaça de golpes políticos para emplacar direitas fascistas, como se tenta na Argentina, com Javier Millei, que descarta aproximação com China e dolarização em vez de desdolarização pregada pelos BRICS.
https://www.brasil247.com/blog/a-guerra-economica-dos-eua-contra-a-china
E você, caro leitor, o que pensa sobre isso? Comente aqui.