O filme-documentário de Beto Almeida, “Vargas, a transformação do Brasil”, baseado na trilogia da Era Vargas, do jornalista e escritor José Augusto Ribeiro, lança a opinião pública diante de um tempo de brasilidade autêntica exposta à flor da pele a mexer com o imaginário nacional de forma apaixonada e vibrante.
Trata-se de um Brasil novo que desvestiu a pele do século 19, caracterizada pelo colonialismo político, econômico e social do capitalismo neoclássico dezenovecentista, substituído pela modernidade revolucionária democrática do século 20.
Entrava em cena, pelas armas da revolução (algo até hoje escamoteado pelos neoliberais), a afirmação dos direitos de cidadania que imprime à alma popular o sentimento de liberdade e autoestima nacional para construção de uma nova realidade para um novo tempo.
O filme mostra o que até agora tem sido escondido: Getúlio chega ao poder como líder popular de massas com armas em punho para derrubar o poder neoliberal vigente na República Velha que resistia tanto à emancipação social como econômica e política.
Era a chegada do povo ao poder que removeu, com a Constituição de 1934, estruturas carcomidas que mantinham o país em permanente atraso colonial submetido às ordens do imperialismo inglês e americano disposto a barrar a emergência soviética que abalava o mundo inteiro.
O revolucionário gaúcho era produto autêntico da vertente ideológica castilhista-nacionalista-socialista, raiz do Estado nacional, somado ao nacionalismo do ferro de Minas Gerais, para derrubarem os neoliberais da República que ambicionavam a regressão política ao século 19.
Os revolucionários de 1930 carregavam na alma o germe da evolução histórica que produziu a revolução dos bolcheviques em 1917.
Movimento Cívico Militar
Jamais havia surgido no Brasil movimento revolucionário cívico militar autêntico, como mostra a linda imagem de Getúlio nas avenidas cercadas pelos trabalhadores.
Getúlio trabalhou politicamente com os trabalhadores para chegarem juntos ao povo, rompendo as portas do Palácio do Catete.
Pela primeira vez na história as duas prioridades básicas do governo seriam trabalho e educação, com a criação dos dois Ministérios com impulso revolucionário.
Cuidou o líder revolucionário de libertar a principal categoria política nacional, as mulheres. Concedeu-lhes o direito do voto – revolução feminina!
É isso que explica a comoção popular com o tiro de Getúlio em seu coração para salvar a Petrobrás em 1954.
O Estado Novo revolucionário começa já em 1938 com a nacionalização das riquezas minerais e elaboração de plano de desenvolvimento industrial para manufaturar a riqueza mineral, conferindo-lhe valor lucrativo e competitivo em escala global.
O raciocínio lógico de Getúlio antevê duas frentes concomitantes de desenvolvimento que lhe confere apoio popular eterno.
A Petrobrás é a arma do desenvolvimento brasileiro em escala internacional para se firmar como grande potência no pós-guerra.
Criou-se os instrumentos fiscais e monetários adequados ao projeto nacionalista de desenvolvimento, visto que fora secretário de Fazenda no Rio Grande do Sul, ocasião em que prestava conta em praça pública, regularmente.
Não foi surpresa que Getúlio partiu para a auditoria das contas públicas, a fim de expor a herança maldita da República Velha comandada, na prática, pelos bancos ingleses.
Graças ao saneamento fiscal, tirando dos ricos para dar aos pobres, dispõe de recursos para tocar investimentos nacionalistas em educação e saúde, pontas de lança da revolução popular.
O getulismo político ideológico fincou raízes fortes na alma popular, razão pela qual não é aceito pela elite neoliberal.
O movimento de massas impressionante que acompanhou o enterro de Getúlio era o movimento do povo convocado para a guerra, se Getúlio o chamasse para combater a rebelião militar contrarrevolucionária embalada pelo discurso direitista golpista de
Washington na voz de Carlos Lacerda, para barrar criação da Petrobrás.
A grande encenação política neoliberal demonstrou a competência da direita para dar o seu golpe político.
Não deixaram Getúlio concluir mandato como não deixaram concluir Dilma, dadas as diferenças qualitativas de ambos os personagens históricos.
Uma razão única, no entanto, une Dilma e Getúlio: golpe do petróleo.
Getúlio foi ao último sacrifício; Dilma fez concessões; porém, acabou executada no impeachment.
O trabalhismo ideológico que resume o castilhismo em soldado nacionalista é o maior praticante da democracia no Brasil.
Por causa dele, dois presidentes foram levados ao cadafalso imperialista americano – Getulio e Jango.
Por que a esquerda liberal e atualmente manchada pelo neoliberalismo de conveniência não consegue absorver o trabalhismo getulista até hoje?
Em São Paulo, Getúlio é proibido pelos liberais de ter estátua pela burguesia paulista.
Dominado pelo espírito das metrópoles, a elite conservadora, que consegue envolver esquerdas pequeno burguesas inconsequentes, dividindo-as, para melhor governar, é intrinsecamente antinacionalista e entreguista, como destaca José Marti, em “Nossa América”.
A esquerda tupiniquim, cooptada pela direta liberal, estava espiritualmente na Europa e nos Estados Unidos, praticando geopolítica unipolar radical conduzida por Washington e Londres.
Getúlio era insuportável para ela porque lançou mão da originalidade castilhista para construir o Estado nacional, cujos interesses estavam marcados para morrer na Revolução de 1930.
O getulismo ideológico nacionalista autêntico cívico-militar tem trajetória veloz. As elites diante de Getúlio entraram em transe; não entendiam que ele era o Napoleão libertando os países europeus da aristocracia feudal com o pensamento do estado nacional construído pelo trabalhismo nacionalista-castilhista-socialista.
A década de 1930 e 1940 é de libertação psicossocial brasileira de proporções explosivas, no campo cultural, político e econômico.
O próprio Roosevelt reconhece, em 1933, que seu New Deal fora influenciado pelo constitucionalista getulista de 1934-37, considerado fascista pela direita tupiniquim com as graças da esquerda equivocada.
O documentário mostra a chave vitoriosa de Getúlio no campo da política fiscal para libertar o país da canga econômica e política do imperialismo financeiro por meio de auditoria popular, de forma sistemática, pedagógica, educativa.
Evidenciou o óbvio: sempre têm erros, pequenos e grandes e imensos a corrigir, que requerem fiscalização, correção e multas sobre os desonestos na gestão do dinheiro público.
Com a auditoria da dívida, fantasma da Faria Lima, Getúlio descobre que 40% do endividamento público é fraudado.
O PIB getulista, depois de auditada a dívida fraudulenta, foi-se aos saltos até 1945 graças à melhor administração do endividamento público e aplicação dos recursos em investimentos em saúde e educação.
Não houve como evitar a volta triunfal de Getúlio em 1950, apesar de os reacionários o terem derrubado em 1945, com ajuda do governo americano empenhado em impedir o que já desejava em 1938: a construção da Petrobrás.
Estrategicamente, Getúlio adiou o sonho da Petrobrás para construir, primeiramente, a Usina Siderúrgica Nacional, que havia negociado com Roosevelt, como preço para entrar na guerra.
Ali deu pontapé na industrialização nacional, enquanto, maliciosamente, o Partido Comunista, fazendo coro com a direita, mentia que ele apoiava Hitler.
Dialética nacionalista getulista
A histórica econômica do tempo de Getúlio é captada por Beto Almeida em seu movimento real, dialético, povo participando dos eventos populares convocados pelo líder trabalhista, que fazia dessa relação governo-povo mola-mestra de gestão popular altamente participativa.
O compromisso de Getúlio é com o nacional como arma para internacionalizar-se
A Petrobrás, com Getúlio, não busca o lucro, ao contrário dos neoliberais que a assaltaram nos governos Temer e Collor.
Getúlio jogou com sua cabeça política castilhista-nacionalista-socialista (não buscar o lucro da estatal petroleira já diz tudo), não com o pensamento neoliberal, conduzido pelos governos dos Estados Unidos, a serviço das multis americanas do petróleo.
Sobretudo, o documentário-filme de Beto Almeida é uma crítica à falsa esquerda que abandonou Getúlio prestando grande serviço para as multinacionais por não suportarem sua independência ideológica dos algozes ingleses e americanos; ela se perdeu em questões menores, deixando o essencial de lado, para valorizar o aleatório.
Tanto que o grande equívoco dos comunistas foi defender a derrubada de Getúlio no dia da sua morte em 24 de agosto de 1954.
Tiveram que, apavorados, recolherem, às pressas, nas bancas suas manchetes historicamente equivocadas, ingênuas e anti-nacionalistas, enquanto o povo, revoltado, quebrava tudo que encontrava pela frente em reação à farsa – puro fakenews – da República do Galeão, amplamente apoiada pelo Partido Comunista, jogando na anti-história ao lado da mídia golpista financiada por Washington.
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