Por Luís Antonio Paulino
Cláudio Bardella, presidente do conselho de administração da Bardella e uma das principais lideranças da indústria brasileira na década de 1970, foi paraninfo de minha turma de engenharia mecânica na Faculdade de Engenharia Industrial (FEI), em 1977. Sua morte, em novembro último, aos 85 anos, é uma grande perda para o Brasil e dá ensejo a refletir não apenas sobre seu papel na construção da indústria de base brasileira e na defesa da democracia, ao lado de empresários do mesmo calibre como Antônio Ermírio de Morais, Paulo Villares, Jorge Gerdau Johanpeter, José Mindlin, Laerte Setubal Filho, Paulo Vellinho e Severo Gomes em um período em que outros financiavam a Operação Bandeirantes (Oban) de triste memória para nosso pais, mas também sobre os rumos que a indústria nacional tomou nos últimos 40 anos.
Em meados da década de 1980, a indústria brasileira respondia por 35% do PIB nacional e hoje responde por 10% a 11%. Em 2005, detinha quase 3% da indústria mundial e hoje detém 1,8%. Em 1980, o Brasil exportava US$ 9 bilhões por ano em bens manufaturados e a China US$ 8,7 bilhões. Após 41 anos, o Brasil exportou US$ 70,1 bilhões em 2021, e a China, US$ 3,14 trilhões. O que ocorreu ao longo dessas quatro décadas para que o Brasil ficasse estagnado enquanto outros países, como China e Coréia do Sul, que estavam em condições semelhantes ou até piores que as do Brasil naquele período, deslanchassem e se tornassem grandes potências industriais, enquanto nós estamos regredindo para a condição de exportador de bens-primários?
Os grandes desastres em geral não têm uma causa única. É sempre uma conjunção de fatores negativos que se alinham em determinado momento para desencadear a tragédia. No caso do Brasil apontam-se vários: abertura comercial mal planejada, valorização cambial durante longos períodos tirando a competitividade de nossas exportações, um sistema tributário problemático, as maiores taxas de juros do mundo, sistema educacional deficiente, infraestrutura de transportes precária, ausência de um sistema nacional de inovação, dentre outras, que juntas deram origem a uma expressão simplificadora e pejorativa chamada “Custo Brasil”.
Mas a principal delas é pouco citada: a ausência de um projeto de país que seja capaz de galvanizar as energias de toda a nação. Infelizmente, entra ano, sai ano, continuamos a discutir os problemas do Brasil, mas damos pouca atenção para encontrar as soluções. Pior do que isso, ao invés de nos agarrarmos àquilo que ainda nos une, gastamos nossas energias remoendo sobre as coisas que nos dividem. Ao invés de construir pontes, perdemos tempo atirando pedras em nossos adversários, que passam a ser tratados como inimigos a serem destruídos. Perdemos a capacidade de ver o que os outros têm ou fazem de bom. Só conseguimos enxergar os defeitos ou o que achamos serem defeitos.
Desumanizamos nossos adversários para poder atacá-los sem piedade. Perdemos a capacidade de dar aos outros o benefício da dúvida; só temos certezas, as nossas certezas. Semeamos desunião e colhemos desesperança. Até os símbolos nacionais, a bandeira, as nossas cores, o nosso hino, que deveriam ser a expressão daquilo que nos une, do que todos temos em comum, que é nossa identidade nacional, foram apropriados pelo facciosismo e transformados em instrumentos de divisão e de ódio entre as pessoas. O Brasil se transformou em um país triste. Ao invés de buscarmos a harmonia na diversidade preferimos nos isolar na bolhas dos que pensam como a gente.
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