Diante da elevação dos preços no imediato pós-pandemia e da dura resposta do FED, o banco central dos Estados Unidos, que elevou as taxas de juros nos Estados Unidos 11 vezes para o maior nível nos últimos 22 anos, formou-se um consenso entre os economistas de que a economia americana iria passar por um período de resfriamento. A dúvida era se esse pouso se daria de maneira suave ou se, ao contrário, haveria uma aterrisagem brusca da economia.
A evolução real da economia americana, entretanto, surpreendeu a todos, uma vez que a inflação recuou sensivelmente – de 9,1% para 3,7% – sem que a economia entrasse em recessão. Ao contrário, pelos dados divulgados em novembro, a economia americana cresceu, no último trimestre, a uma taxa anualizada de 4,9%, o desemprego continua baixo, 3,9%, e os salários continuam subindo.
Para justificar tal comportamento dos preços, que foge dos modelos usados pelo FED e outros bancos centrais pelo mundo, inclusive o Brasil, o presidente do Fed, Jerome Powell, afirmou que o aumento na oferta foi suficientemente alto para impedir que o aumento da demanda no período pós-pandemia resultasse em pressões inflacionárias.
Havia o receio de que, diante da resiliência da economia americana, o FED iria promover novo aumento de juros em novembro. Afinal, para os burocratas dos bancos centrais é inconcebível vencer a guerra contra a inflação sem derramamento de sangue, ou seja, aumento no desemprego e queda na renda e no consumo. Diante das evidências de que o mundo real não se comportava como previam seus modelos e para não dar o braço a torcer, o FED manteve inalterados os juros de referência do País – entre 5,25% e 5,5% ao ano – o maior patamar em 22 anos, mas se justificou dizendo que o crescimento potencial da economia americana, que para o FED seria de 1,8%, havia temporariamente aumentado em 2%, principalmente pelo aumento da oferta de mão de obra pós-pandemia.
E aí fica a pergunta: para que serviu então elevar tanto os juros se, como o FED reconhece, o grande herói da luta contra a inflação não foram o juros altos, mas o aumento da oferta?
Quando se observa o comportamento da demanda na economia americana, talvez encontremos a resposta. Conforme observou o Washington Post (01/11), “Até agora, os gastos robustos, especialmente entre os americanos ricos, mantiveram a economia funcionando muito além das expectativas. Sem se deixar intimidar pela inflação elevada, muitas famílias estão comprando entradas para concertos, férias luxuosas e veículos novos. Os elevados custos dos produtos básicos – alimentos, gás, renda – ainda estão pesando fortemente sobre as famílias com rendimentos mais baixos e com menos flexibilidade orçamental”. Outra matéria do mesmo jornal afirma, “Um mercado de trabalho saudável, poupanças adicionais devido à pandemia e o aumento dos valores das casas e das ações tornaram possível que as famílias com rendimentos elevados continuassem a gastar, mesmo com muitas famílias de rendimentos baixos e médios a recuarem”.
É razoável, portanto, supor que o aumento dos juros beneficiou, sobretudo, os credores, em geral as famílias ricas, que poupam mais, e prejudicou os devedores, em geral as pobres, que quase não poupam. Não tivesse ocorrido um aumento tão forte dos juros, os ricos teriam ganhado menos e o aumento da demanda seria também puxado pelo consumo de produtos básicos e não apenas por bens de consumo suntuário como está ocorrendo.
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