Cadastre-se Grátis

Receba nossos conteúdos e eventos por e-mail.

Renegada Marta, Kautsky de saia

Mais Lidos

O PT, um dos partidos mais importantes do mundo, porque sua base é autêntica, ancorada na força do trabalho, que, historicamente, polariza com o capital e motiva todas as teorias e discussões sociológicas realizadas no passado, presente e futuro da revolução mundial, vive a inquietação da volta de Marta Suplicy à agremiação, depois de trocá-la pelo MDB, para ser vice de Guilherme Boulos, do PSOL, com aval do presidente Lula.

No capitalismo, o lado mais fraco é o do trabalho, a corda sempre arrebenta para o seu lado, e de tanto apanhar da burguesia, os petistas têm medo dela e, de alguma forma, buscam conviver com ela, conciliando com sua força.

É a velha história da esquerda em sua escalada espinhosa rumo ao poder, marcada por recuos, retrocessos e muitas frustrações, antes de chegar ao topo; e quando chega lá, já com as costas escalavradas pelos sofrimentos colhidos no caminho da luta, busca conciliação, não confrontação.

Nos países capitalistas desenvolvidos, a revolução sempre patinou, como na Alemanha, às vésperas da ascensão do fascismo, e tende a perdurar em tal situação, porque, no poder, a burguesia não titubeia em usar a força e a promoção da violência, para fazer valer seus interesses.

Alerta lenista

Lenin escreveu “A revolução proletária e o renegado Kautsky” para ilustrar como, nos países ricos, a classe trabalhadora, comprada pelo dinheiro burguês, dispõe de cúpula vendida, tendente à acomodação que atrasa a revolução.

O negócio deu certo, na União Soviética, com Lenin e Trotski e um poderoso partido comunista, Bolchevique, que formou sua base nos sovietes – maior organização política jamais criada no mundo –, porque a burguesia era relativamente fraca, sob monarquia parlamentarista corrupta até a alma.

O país carecia de indústria e convivia com o campo conservador, força política majoritária, o que talvez explique, também, a impotência dos trabalhadores brasileiros no país agrário, onde a desindustrialização é o cálculo capitalista para mantê-los desorganizados e desmobilizados, impotentes para encarar revolução que requer organização, disciplina e vontade revolucionária inquebrantável.

Quando o leninismo-trotskismo uniu camponeses e operários, nos soviets, as condições favoráveis se formaram para erguer o Estado Soviético, proletário.

O domínio do Estado pelos trabalhadores nacionalizou os bancos, tirando dos capitalistas sua força financeira, de controle e organização da sociedade, para acelerar as mudanças no campo econômico.

Abalado na primeira guerra mundial, o capitalismo internacional se uniu contra o Estado Soviético, vitorioso em 1917, e o rachou, depois da morte de Lenin.

O stalinismo, vencedor, abriu-se à conciliação com a burguesia e à radicalização contra os bolcheviques históricos, socialistas e leninistas, todos exterminados pelo guia genial dos povos, o bárbaro Stalin.

A visão marxista de Trotsky foi brilhante ao dizer que a conciliação de Stalin com a burguesia restauraria o capitalismo, o que acabou acontecendo no final dos anos 1980, com o fim da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.

A salvação da Rússia, atualmente, para escapar das garras do imperialismo americano, decorre do renascimento do nacionalismo russo, com Putin, que guarda resquícios longínquos do Estado socialista.

Por essa razão, a OTAN não cansa de armar-se para cutucar a Rússia com vara curta o tempo todo, como na guerra por procuração, na Ucrânia(2022), o que contribui para manter viva a lembrança do Estado soviético, pavor da burguesia internacional, embora Putin não seja socialista, mas nacionalista, na velha concepção nacional menos republicana do que monárquica.

PT e a conciliação com a burguesia

No Brasil, a questão do Estado proletário sob partido dos trabalhadores – algo que nunca existiu, mas que, nos anos 1980, formulou-se, ideologicamente, nos primeiros tempos de existência do PT – desenvolveu-se, precariamente, porque os petistas não se alinharam ao lado do nacionalismo getulista, mas do keynesianismo abençoado, parcialmente, por Washington.

Historicamente, fraca e equivocada, sem apoio popular – quando os jornais comunistas comemoravam, em 1954, queda de Getúlio, a massa se levantou contra eles, colocando-os para correr –, a esquerda brasileira, apenas, retoricamente, alinhou-se não a Lenin nem a Trotski, mas a Kautsky, aquele alemão que conciliou com a burguesia, depois de ser marxista, no início da sua trajetória.

Marta Suplicy, fruto da burguesia paulista conservadora, é adepta de Kautsky, não de Lenin e muito menos de Trotsky.

Estrela petista na fase romântica do partido, foi deixando a inocência de lado ao longo do caminho, especialmente, depois de eleita prefeita de São Paulo(2001-2004), quando, inteligentemente, aproximou-se das periferias, com política social proativa.

Cumpriu lição do partido que se popularizou com sua ligação às comunidades eclesiais de base, católicas, na linha da Teologia da Libertação, de viés socialista.

Neoliberalismo em ação

Depois que a União Soviética entrou em colapso, após os anos 1990, com avanço americano sob neoliberalismo, financiando especulativamente governos em toda a América Latina, esvaziando o conteúdo revolucionário da esquerda, para cooptá-lo ao capitalismo de Tio Sam, os políticos representantes dos trabalhadores, na linha social-democrata, como os do PT, foram flexibilizando suas relações com a burguesia industrial decadente, seguidora da agenda de Washington.

Marta Suplicy, ao contrário de inúmeros outros petistas que buscaram caminhos divergentes e teimaram numa linha socialista e, por isso, foram, politicamente, exterminados, preparou sua trajetória de renegada kautskyana, depois da experiência no executivo municipal paulista.

Tornou-se não apenas adepta da conciliação mais frouxa possível, mas acabou saindo do partido, votando no impeachment de Dilma Rousseff, em 2016.

Pulou nos braços do PMDB, do golpista Michel Temer, em 2018, imaginando chegar algum dia candidata do partido conservador de Ulisses Guimarães à presidência da República.

Eterno cálculo eleitoral

Não rompeu o histórico do partido emedebista que sempre foi o de ser coadjuvante do poder, nunca o poder em si, mas colateral, para estar servindo, subalternamente, ao capital.

Acabaria se queimando nas duas pontas: no PT, que não a queria mais depois de trair Dilma, e, também, no MDB, onde não reuniu em torno de si forças suficientes para se afirmar diante de caciques machistas dispostos a todas as sabotagens.

Restou-lhe a condição de cadáver político insepulto, até que, agora, surgiu oportunidade de renascer ao lado da neo-esquerda, aparentemente, radical, do PSOL, ao lado de Boulos, para enfrentar o bolsonarismo, em São Paulo, como apoio de Lula.

Na condição de renegada, na base do oportunismo, chegou, indiretamente, a abraçar o bolsonarismo, ao atuar como secretária de Relações Internacionais do prefeito paulista bolsonarista, Ricardo Nunes (MDB), levada ao cargo pelo ex-prefeito Bruno Covas, do PSDB.

O gosto amargo da traição de Marta foi sentido, lá atrás, pelo PT, quando saiu do exército petista para o MDB, com Temer, e, agora, pelos emedebistas, que se aliaram ao bolsonarista prefeito paulista e se sentem apunhalados nas costas por Marta, a Kautsky de saia, ex e novamente petista.

Os históricos líderes petistas, como Valter Pomar, estão inconformados em ter que engolir Marta de volta ao partido, mas a regra do jogo político tupiniquim é essa, não há nada de ideológico, tudo é cálculo eleitoral.

Qual a sua opinião sobre isso? Comente.

Artigos Relacionados

O Paradoxo do Governo Lula: Indicadores Econômicos e Sociais Relevantes, mas Não Consegue Comunicar Isso ao Povo

O prefeito do Recife, João Campos, reconhecido pela excelência no trabalho de comunicação do seu governo, em entrevista ao programa Roda Viva (ver vídeo),...

Agora, Mais Que Nunca, Lula Precisa do Apoio de sua Base Para Romper as Amarras que Inviabilizam o Desenvolvimento do Brasil

Apesar da incredulidade de alguns, Lula foi eleito presidente graças a um forte movimento de mobilização popular, mas, não obstante a importância desse acontecimento,...

2025 Chegou, 2026 Está Logo Ali: Vamos à Luta, Temos Um País Para (Re)Construir!

2025 Chegou e este não pode ser apenas mais um ano de esperanças: Depende da nossa capacidade, enquanto Nação, retomar um projeto de desenvolvimento...

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

Em Alta!

Colunistas