Javier Milei, em Davos, tenta ser a voz do lassez faire, do puro mercado, sem qualquer interferência do governo, que leva ao que considera positivo, a formação dos monopólios, expressão da riqueza concentrada em escala exponencial, cujas consequências, na visão dele, representam aumento do PIB per capita global, comprovação de que o capitalismo significa o sistema mais perfeito do mundo, para tirar a humanidade da miséria.
Loucura ou delírio em achar que aumento do PIB é a salvação geral?
Os neoclássicos, ao contrário dos clássicos, pregadores da liberdade econômica total, criam, segundo Milei, o ambiente para a crescente intervenção do Estado na economia, na linha keynesiana, uma cultura, que, na Argentina, prosperou, amplamente, a partir da segunda metade do século 20.
Milei não faz consideração política ao resultado prático do que chama de libertarismo, a ausência de qualquer controle sobre as atividades econômicas, na afirmação absoluta do domínio da propriedade privada, que resulta em tensões cujo resultado são ameaças à democracia com ascensão do seu oposto, o fascismo.
Ele esconde seu propósito essencial.
Economicismo radical
O discurso do presidente argentino, que, segundo a própria mídia portenha, causou torpor em Davos, é puro mecanicismo economicista, destituído de toda a consideração política.
Milei raciocina como se a economia política não existisse, na formulação crítica dos clássicos, como Ricardo, Malthus e Marx, que considerava o malthusianismo, guru de Keynes, a saída para tentar esticar a vida útil do capitalismo, lançando mão do Estado etc.
Assim, se o Estado faliu, com arma para prolongar o sistema capitalista, como voltar ao passado da economia clássica, que levou ao impasse, como quer o presidente argentino?
Mas, ele insiste.
Quer uma política econômica argentina de volta às origens do capitalismo clássico que o autor de O Capital, em sua crítica da economia política, considera prisioneira da armadilha da sobreacumulação de capital.
Marx, diante de Milei, radical economicida, diz que o capitalismo padece, desse seu nascimento, de crônica insuficiência de demanda, que leva ao subconsumismo, no compasso da destruição do poder de compra dos trabalhadores.
Malthus dirá que o subconsumismo exigirá intervenção do Estado como consumidor, como complemento da demanda, a fim de tirar o capitalismo da crise.
É o que Keynes vai propor para enfrentar a crise de 1929.
Ou seja, Marx destaca que o sistema entra em paralisia quanto mais sobreacumula capital que leva à queda inevitável da taxa de lucro.
Esquizofrenia econômica
O chefe da Casa Rosada quer a ressurreição do liberalismo clássico em sua pureza total, esquizofrênica.
Seria a volta do cadáver insepulto ao útero materno, só Freud explica.
A resposta a essa pretensão exposta por Milei, em forma de Decreto de Necessidade e Urgência(DNU) e a Lei Ônibus, proposta ultra neoliberal para tentar combater a inflação, enfrentará a hora da verdade, no dia 24, com convocação dos trabalhadores pela CGT à paralisação.
O Congresso vive a sua exasperação diante da mobilização popular que promete enterrar o discurso de Milei em Davos e colocar seu governo ultrarradical em xeque-mate.
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