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“O Procurador”: o Aras por detrás dos rótulos

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Diz-se em Goiás que de paixão também se vive. Aliás, inclusive canta-se bastante sobrem isso, por estas bandas. Todavia, quando se busca o debate sério, não são elas as melhores ferramentas para a compreensão. É nesse sentido que, em artigo do Poder 360, o jornalista Mário Rosa insere o novo livro do jornalista Luís Costa Pinto, “O Procurador”:

“O livro relata com riqueza de detalhes a história não contada e os bastidores não apenas da tormentosa jornada de Augusto Aras à frente da Procuradoria Geral da República, assim como desfila por episódios cruciais da história recente de nossa democracia estilhaçada”.

A obra estrutura-se ao longo de seis capítulos, um prólogo e uma entrevista, à guisa de epílogo e nela descreve-se o funcionamento das estruturas invisíveis do poder na capital federal. Como normalmente o que acontece lá oculta-se, poder decifrar, nem que sejam nuanças, dá-nos um interessante dimensionamento de como as coisas funcionam.

Segundo Mário Rosa,

“O mais revelador, entre tantas revelações, é o papel de Augusto Aras em meio ao turbulento período de pandemia e ao potencialmente devastador período de transição, o que inclui os acontecimentos do 8 de Janeiro e seus fatos posteriores. O que se depreende da criteriosa investigação feita por Costa Pinto é que os críticos de Aras, seus detratores, seus verdugos, seus algozes, todos eles deveriam ler o livro e fazer uma profunda autocrítica. O Aras que emerge de “O Procurador” é um funcionário de Estado discreto, mas firme. Foi com essas duas qualidades que iniciou e consumou e consumou o desmonte do aparato do Estado policial em suas próprias cercanias, fazendo com que a PGR voltasse aos trilhos da institucionalidade. Fez isso quando deu fim às “forças-tarefas”, PGRs autônomas dentro da PGR, o que significava na prática não o combate sempre bem-vindo à corrupção, mas uma insurreição institucional permanente e ilimitada que levou o país a flertar com o colapso da própria democracia.”

Esta não é, evidentemente, a visão que a maior parte da população brasileira tem de Aras, diríamos até que muito pelo contrário, pois no imaginário popular, na superfície das coisas o nome dele  oscilava cambaleante entre a cumplicidade e a omissão, no que foi o período mais difícil e que mais mortes produziu-se na história desse país produziu-se neste país, por fatores que não a omissão política pura e simples _as grandes fomes no Nordeste, do Império a Fernando Henrique Cardoso _ incluindo Guerra do Paraguai, conflitos internos de afirmação do território nacional, epidemia de gripe espanhola e segunda guerra mundial.

Contudo, atribui o autor a Aras alguns méritos que não podem ser ignorados:

“(…) foi Aras, sem fazer bravuras, que recolocou sua instituição (PGR) nos trilhos. Na questão da pandemia, ele reconhece que o comportamento pessoal do então presidente Bolsonaro esteve longe de ser o mais adequado. Mas isso não era crime. Ele diferencia os atos oficiais do ex-presidente da República (compra de vacinas, repasses de verbas etc) das atitudes da pessoa do presidente. E, com a discrição e firmeza que lhes são peculiares, diz que o PGR só pode processar crimes e não comportamentos com que não concorda.”

Isto nos parece sensato e é uma visão das coisas cuja validade deve ser reconhecida. Retornando à resenha, o tom da obra é laudatório, mas não são os mais jovens que dizem que “neutro é detergente”? Neste sentido, embora a sabedoria não necessariamente recomende, faz-se sempre a necessidade de algum míster às ideias que vem chegando. Se elas passarão ou se vão permanecer, quem decide não somos nós, mas a História.

No final do seu artigo, Mário Rosa foi fiel às suas convicções e, corajosamente, continuou a sua batalha contra a visão sobre o então Procurador Geral da República que se cristalizou nos corações mais apaixonados:

“No caso de maior combustão de seus mandatos, a transição de poder presidencial, mais uma vez o Aras discreto e firme foi o protagonista longe dos holofotes e microfones. A descrição do papel de Aras para que os frenéticos dias do final de dezembro de 2022 e os traumáticos de janeiro de 2023 pudessem ser trafegados são um manual sobre como ter a pessoa certa no lugar certo na hora certa.  Em síntese, “O Procurador” registra a passagem de uma das mais grandiosas e ao mesmo tempo atacadas e discretas e tenazes figuras públicas do país pela Praça dos Três Poderes. Mostra que o exercício do poder.”

Muita coisa já se disse sobre a natureza das unanimidades, pelo que pouco poderíamos acrescentar ao tema. Mas é no sentido mesmo do que Nelson Rodrigues definiu para o tema que concordamos com Mário Rosa. A leitura da obra de Luís Carlos Pinto é justificada.

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