A secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, visitou o Brasil no final de julho para participar de reunião com autoridades do G-20 no Rio de Janeiro, mas dedicou seu precioso tempo ao tema da hora na geopolítica mundial: a Amazônia e o aquecimento global.
No encontro com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, após a previsível troca protocolar de gentilezas, a poderosa Yellen foi ao ponto e propôs ao Brasil o papel de provedor de recursos naturais, ou seja, terras raras, que também atendem pelo nome de minerais estratégicos para a indústria dos Estados Unidos. Não é necessário acrescentar que a Amazônia, a mais promissora fronteira mineral do mundo está coberta de minérios raros, até agora bloqueados pela ação de ONGs financiadas do exterior. O acesso às terras raras deu origem a uma diplomacia própria para tratar exclusivamente do assunto, uma vez que esse recurso está em grande parte em poder do principal competidor da América no mundo, a China.
Mas o espetáculo de subserviência às ambições do nosso grande vizinho ao Norte ficou por conta do encontro de Yellen com a ministra Marina Silva, do Meio Ambiente. Em um arroubo de cinismo e, talvez, ignorância, Marina Silva chamou de negacionistas escritores brasileiros que descreveram a hostilidade da natureza ao homem na Amazônia e qualificou a região de “Verdadeiro paraíso. Paraíso verde. É um paraíso com belezas imagéticas, acústicas, pictóricas, que encantam o mundo.”
Assim, informada por Marina Silva, a secretária do Tesouro dos Estados Unidos ficou sem saber que a população da Amazônia, principalmente os ribeirinhos e os indígenas, convivem com os piores indicadores sociais do Brasil, as maiores taxas de mortalidade infantil, de analfabetismo, de doenças infecciosas, de saneamento básico, de água tratada e luz elétrica por domicílio, nada portanto que se assemelhe ao paraíso descrito por Marina, que escolheu o conforto da capital paulista para viver, tão distante do idílio da selva por ela propagado.
Aliás, uma classificação criada por pesquisadores da Universidade de Harvard apontou recentemente as cidades da Amazônia como as de pior qualidade de vida no Brasil, e liderando a classificação, os municípios com maior presença de população indígena. Mais algum número é necessário para determinar o fracasso das políticas do Estado brasileiro e do governo para a Amazônia, e de farsa desprezível a ideia da ministra do Meio Ambiente do Brasil de apontar a mesma Amazônia como um paraíso?
Mas o capítulo mais revelador da subserviência do governo brasileiro na agenda amazônica estava reservado para a presença de Janet Yellen em Belém do Pará. Lá, a secretária americana falou como autoridade de um império colonial em visita a um de seus enclaves africanos. Ela anunciou a decisão do império de assumir o controle da região com seus serviços de inteligência e de segurança. Evidentemente edulcorou a proposta como um termo de cooperação entre os serviços de inteligência e segurança dos Estados Unidos com os serviços de inteligência e segurança dos países amazônicos. O silêncio do governo brasileiro diante da descabida ousadia de Yellen percorreu a grande floresta como um gesto de pusilanimidade, o outro nome da covardia nos versos de Cecília Meirelles.
*Aldo Rebelo é jornalista e escritor, presidiu a Câmara dos Deputados, foi relator do Código Florestal Brasileiro e ministro nas pastas de Coordenação Política e Relações Institucionais; do Esporte; da Ciência, Tecnologia e Inovação e da Defesa.
Artigo originalmente publicado n’O Liberal, de Belém