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PAUL VOLCKER DETONOU DESENVOLVIMENTISMO MILITAR NACIONALISTA AUTORITÁRIO DO CZAR DELFIM NETTO

CÉSAR FONSECA - Foto Agência Brasil

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Delfim Netto, o grande czar da economia brasileira na ditadura militar, atravessando os governos dos generais Costa e Silva, Garrastazu Médici, Ernesto Geisel e João Figueiredo, cobrindo período histórico 1967-1980, sonhou em construir o Brasil Grande Potência militarista.

Para tanto, intrepidamente, com ajuda do regime autoritário, lançou mão da dívida externa, então, a juro baixo, mas flutuante, que acabaria em quebradeira financeira pelo ato imperial do presidente do Banco Central dos Estados Unidos, Paul Volcker, de elevar a taxa de juro americana de 5% para 20%, em 1979, a fim de salvar o dólar da inflação mundial dolarizada.

Acabaria a era desenvolvimentista militarista autoritária delfinista keynesiana brasileira que daria cabo da ditatura militar e, também, do desenvolvimentismo nacionalista, ancorado na ditadura, que durou de 1964 a 1984.

Garroteado pelo juro americano, acionado para produzir enxugamento do excesso de liquidez internacional em dólar, evitando hiperinflação na América, o modelo desenvolvimentista autoritário conduzido por Delfim e a ditadura militar foi aos ares.

Essencialmente, os fatores externos e não os internos destruíram a experiência desenvolvimentista nacionalista militar autoritária, conduzida pelo então czar da economia que morre hoje aos 96 anos.

A dívida externa, frente ao juro americano de 20%, aumentou, incontrolavelmente, e a inflação, igualmente, escalou em hiperinflação.

 

CAPITALISMO DEPENDENTE SEM FUTURO

Com a bancarrota da dívida externa, ficou comprovada a verdade segundo a qual o desenvolvimento capitalista periférico tupiniquim é totalmente dependente do endividamento externo a juros flutuantes, que corre risco permanente diante dos desajustes do capitalismo cêntrico em permanente crise de realização de lucros no processo de acumulação de capital.

A crise externa do dólar detonou o modelo econômico nacionalista dos militares conduzido por Delfim.

Os Estados Unidos haviam saído da crise do padrão ouro, em 1971, quando o governo Nixon descolou o dólar do ouro e deixou a moeda flutuar.

De 1974 a 1979, Washington elevou sem limite a oferta em dólar sem mais lastro no ouro na praça mundial e pregou abertura geral da economia mundial à penetração do dólar deslastreado do ouro.

Os países capitalistas periféricos entraram na farra do dólar barato para fazer desenvolvimento.

Os militares, com Delfim na economia, tomaram dinheiro emprestado para construir empresas estatais, principalmente, de energia, petróleo, gás e nuclear.

Objetivavam a construção de infraestrutura produtiva do Brasil Grande, Brasil Potência etc., para rivalizar com as potências ocidentais, seguindo o mesmo ideal de Getúlio Vargas, especialmente, na Era Geisel.

Os bancos internacionais emprestaram o dinheiro com aval das estatais para fechar déficits em contas correntes do balanço de pagamento, até que estourou a crise da dívida detonada pelos juros de Paul Volcker.

APROFUNDAMENTO DA DEPENDÊNCIA INTERNACIONAL

Construídas, na euforia do desenvolvimento nacionalista militar desenvolvimentista, as estatais, abaladas pelos juros externos, não puderam pagar suas dívidas em dia e se candidataram a serem futuramente privatizadas por governos neoliberais, depois da queda da ditatura, na Nova República, subjugada pelo Consenso de Washington.

Acabara a etapa histórica desenvolvimentista nacionalista militarista delfiniana-keynesiana, construída para impulsionar o crescimento econômico concentrador de renda e, ao mesmo tempo, promotor intermitente de desigualdades sociais agudas.

Delfim e os militares cuidaram de construir um capitalismo dependente, com dívida externa, sem mercado interno, sem salário para garantir consumo doméstico, algo autárquico, economicamente, passivo de corrupção.

O custo de manutenção do capitalismo autárquico concentrador de renda expressaria a fragilidade estrutural da economia, que, sem a garantia da valorização dos salários, para garantir desenvolvimento econômico sustentável, dependia de poupança externa para sobreviver.

O nacionalista jornalista presidente da ABI, Barbosa Lima Sobrinho, em “O capital se faz em casa”, tornou-se maior crítico do desenvolvimentismo dependente militarista que se sucumbiria com o aumento do juro internacional em 1979 para salvar o dólar da bancarrota.

Barbosa Lima Sobrinho louvava o desenvolvimento nacionalista japonês que construiu capitalismo com poupança nacionalista e estado forte que acabaria levando o Yen rivalizar-se com o dólar.

DESPREZO PELO SOCIAL

Sob Delfim, o essencial na economia foi arrochar salários para aumentar lucros dos capitalistas, atraindo-os para o Brasil na base da teoria econômica autoritária de fazer o bolo econômico crescer para depois distribuir.

Não estava no horizonte dos militares criar um mercado interno forte mediante valorização dos salários para garantir o consumo, como, mais tarde, faria Lula.

O objetivo era reduzir o custo unitário da produção para os capitalistas industriais auferirem maximização dos lucros e minimização dos salários.

Sob Delfim o salário-mínimo era reajustado abaixo da inflação em nome da acumulação de capital capaz de atrair ao Brasil investimentos externos na infraestrutura produtiva para produzir industrialização.

Com Delfim, os empresários receberam de presente uma acumulação primitiva expressa no reajuste do salário abaixo da inflação em nome da reprodução ampliada do capital industrial.

A puxada nos juros pelo Banco Central dos Estados Unidos, em 1979, motivada pelo medo dos credores internacionais com o excesso de dólares emprestados aos governos capitalistas periféricos, destruiria a experiência da sobreacumulação de capital pelo modelo econômico dos militares, sucumbido pelo endividamento externo.

A história econômica do período militar, cujo ator principal foi Delfim Netto, direitista com formação marxista, demonstrou que a periferia capitalista não sobrevive com industrialização bancada pela dívida externa a juro flutuante no cenário de incerteza do capitalismo mundial.

Delfim, porém, não seguiu a lição de Marx da teoria do valor ancorada na máxima de que o trabalho é valor que se valoriza no processo do próprio trabalho gerador de riqueza.

Lula, com as greves no ABC, como líder dos metalúrgicos, mudaria o rumo da história, ao pregar o oposto de Delfim: distribuir o bolo enquanto está sendo feito pelos trabalhadores.

O modelo delfiniano se comprovou historicamente anti-capitalista porque não cuidou de distribuir renda para garantir, pelo consumo sustentável na valorização salarial, o desenvolvimento econômico industrial agregador de valor-trabalho.

Lula dividiria a renda em forma de valorização dos salários para enfrentar crises externas, como a de 2008, mas a herança trágica da crise da dívida externa deixaria marcas no processo de desenvolvimento economicamente dependente, afetado pela excessiva concentração da renda nacional.

 

DESAJUSTE MONETÁRIO IMPERIAL FATAL

Os credores internacionais do Brasil, nos anos seguintes à bancarrota da era delfiniana nacionalista, bancada pela dívida externa, cuidaram de defender ajuste fiscal, privatização e desindustrialização da economia nacional.

Essa seria uma tarefa primordial dos governos da Nova República, sob pressão do Consenso de Washington, colocado a serviço dos interesses dos bancos credores da dívida.

Os críticos do regime militar, alinhados com a ordem neoliberal bancocrática pós-ditadura e a pregar desindustrialização e privatização, para pagar a dívida, justificaram o arrocho imperialista como resposta ao que consideravam desajuste fiscal dos governos militares, enquanto esqueceram, totalmente, de diagnosticar a causa externa como principal fator do desajuste interno.

Não foram os gastos e investimentos militares que levaram a economia à crise, mas os juros imperialistas colocados a serviço da salvação do dólar que entrou em crise com excesso de liquidez internacional na fase pós descolamento do dólar do padrão ouro, no período 1974-1979.

A moeda americana ficou sem o lastro real do ouro e o excesso de oferta monetária que levou ao endividamento internacional criou instabilidade global, responsável por levar os mercados especulativos a apostarem contra o dólar.

IMPERADOR DO DÓLAR

Paul Volcker, imperador-operador do Banco Central dos Estados Unidos, salvou o dólar, elevando os juros e atraindo a poupança internacional em dólar para os Estados Unidos, mas jogou as economias capitalistas periféricas, como a brasileira, no buraco.

Delfim ficou sem chão, mas, na ocasião, como ministro, sob pressão da mídia, para saber o que ele faria diante dos juros americanos, respondeu, pragmaticamente, que os Estados Unidos tinham responsabilidade de salvar o mundo do comunismo!

O czar da economia era um gênio do cinismo pragmático: na hora, deixou de ser nacionalista desenvolvimentista à custa da dívida externa, que se tornou impagável depois que Vocker elevou os juros, e renunciou a qualquer resistência à ação imperialista jurista americana para salvar o dólar, jogando no abismo as economias financeiramente dependentes de poupança externa, como a brasileira.

O ex-czar se mostrou mais político do economista desenvolvimentista ao aceitar, sem reclamar, os prejuízos amargos que os juros altos americanos imporiam o Brasil, dando fim ao desenvolvimento nacionalista, levando às etapas seguintes da desnacionalização neoliberal antidesenvolvimentista que prossegue até hoje.

Ao não resistir ao império do dólar, o regime militar autoritário se revelou fraco e caiu.

Com ele, acabaria, também, a experiência militar nacionalista econômica que sustentou processo de acumulação de capital às custas de arrocho salarial, comprometendo, estruturalmente, o nacionalismo desenvolvimentista por falta de distribuição da renda nacional.

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