Entende-se que o conceito atual de Ocidente surge com o judaísmo, há quatro mil anos, com a criação do Deus único e a imposição de seus dez mandamentos. Esta civilização teve duas grandes mudanças. Com a pregação de Jesus Cristo, há aproximadamente dois mil anos, e a de Muhamad no século VII da Era Comum.
No Oriente, não houve a presença de um Deus, mas de dois pensadores: Confúcio, na China, no século VI a.C. e Buda, na mesma época, na Índia.
A grande diferença entre as filosofias ocidental e oriental está no caráter impositivo, apostólico, da primeira, e o reflexivo, internalizado, da oriental.
Isso não significa a inexistência de guerras na Ásia, mas, ao contrário das guerras europeias, não objetivam se apropriar de bens e recursos disponíveis fora de seus territórios.
O continente que, no passado, mais sofreu com a ação europeia foi a América, de norte ao sul, onde países europeus promoveram o maior genocídio que se tem notícia na História, eliminando cerca de 90% da população existente ao fim do século XV. Hoje todo mundo sofre com a ingerência europeia e estadunidense não só pela presença bélica, como pelas medidas de caráter financeiro e comercial.
O Oriente esteve por séculos subordinado ao Ocidente, a tal ponto que aparecia na História do Mundo como parte da História das Conquistas Ocidentais.
Diversas ideologias, desenvolvidas no Ocidente, entraram em conflito nos séculos XIX e XX, delas resultando o surgimento de lideranças transformadoras do mundo, então dividido entre colonizadores e colonizados.
No Oriente, seguindo o pensamento de Buda, surgiu, na Índia, Mohandas Karamchand Gandhi (02/10/1869-30/01/1948), conhecido como Mahatma Gandhi ou Bapu e, com pensamento que misturava o confucionismo e o marxismo, este último de origem europeia, irrompe na China, a liderança de Mao Tse Tung (26/12/1893-09/09/1976) ou Mao Zedong.
No século XIX, além da ideologia conquistadora, o Ocidente foi dominado pelas finanças, na forma do poder fundiário e do poder monetário. No entanto, a industrialização, a princípio dominada pelas finanças, na Grã-Bretanha e nos Países Baixos, ganhou nos Estados Unidos da América (EUA), graças à descoberta do petróleo, enorme poder, contaminando todo mundo.
Petróleo e indústria passaram a ser vistos como parceiros do crescimento e do desenvolvimento da sociedade
A GUERRA E A PAZ
O sábio neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis (07/03/1961) apresentou a tabela das moedas usadas na História do Homem, em seu livro “O verdadeiro criador de tudo” (Editora Planeta, SP, 2020), que tem início em bens concretos, utilitários e chega, em nossos dias, aos abstratos, virtuais.
A moeda mais antiga foi o próprio homem, como escravos, ao lado de produtos agrícolas (cacau, cevada, arroz), do sal e outros bens valorizados por etnias ou populações, como conchas, na África, dentes de baleia, nas ilhas Fiji. Os minerais preciosos, ouro, prata, cobre, vieram a seguir, com os utilitários ferro e estanho. Hoje, após dinheiro em papel e cartões de crédito, temos o dinheiro digital, o pix, e os bitcoins.
A moeda, além do uso para trocas, também serviram como reserva de valor, porém vai perdendo esta condição com a introdução, cada vez maior, das moedas virtuais. E, tal é a mudança que a sociedade está passando, que moedas sem lastros, papeis que apenas se representam, gozam de condições de investimentos.
O Ocidente ainda busca a guerra para manter seu poder, o Oriente investe no comércio e na solidariedade, como se observa nas associações que vem formando neste século XXI: a Organização para Cooperação de Xangai (OCX, 15/06/2001), e a Nova Rota da Seda, a Iniciativa do Cinturão e Rota (ICR, 07/09/2013).
Os EUA chegam ao século XXI como vencedores da Guerra Fria, mas nem se completa uma década e já necessita provocar outra guerra para atacar o Oriente. Ela surge com a farsa do 11 de setembro de 2001 em que guerrilheiros islâmicos derrubaram duas torres em Nova Iorque. Segue verdadeira ditadura, com leis cerceando a comunicação e a autonomia política dos cidadãos nos EUA, e a invasão do Iraque..
George W. Bush, então presidente dos EUA, denominou da “Guerra ao Terror”, que passou a se denominar qualquer movimento de independência no mundo islâmico.
Também com os incentivos tecnológicos, midiáticos e financeiros dos EUA, espalham-se por repúblicas surgidas do desmembramento da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS, 1992), além de países islâmicos, as Revoluções Coloridas. Nos anos 2000, ocorreram revoluções bem-sucedidas desta modalidade na República Federal da Jugoslávia (a Revolução Bulldozer, em 2000), na Geórgia (a Revolução Rosa, em 2003), na Ucrânia (a Revolução Laranja, em 2004), e no Quirguistão (a Revolução das Tulipas, em 2005).
Processos semelhantes ocorreram, mesmo sem sucesso, nos anos 2010, no Egito, Venezuela, Líbia e Síria. Em alguns casos, as manifestações violentas, o radicalismo das facções envolvidas e o apoio, além dos EUA (USAID E CIA), de outras grandes potências ocidentais a um dos lados envolvidos na disputa, bem como em organizações privadas estadunidenses, como a Open Society Foundations (do magnata George Soros), e o National Endowment for Democracy, resultaram em processos bem mais violentos, incluindo alguns casos em guerras civis em países do Oriente Médio, na Líbia, Síria, Iêmen e, ainda, em repúblicas da ex-URSS, como a Ucrânia.
Pode-se sintetizar em três motivos as guerras, revoluções e golpes de Estado, ocorridos neste século XXI: (a) impedir o desenvolvimento autônomo dos países, (b) ter acesso e controle da produção de petróleo e outros recursos minerais, e (c) ter o domínio político-financeiro do mundo. Este último foi realizado no Brasil com o golpe que tirou Dilma Rousseff da presidência do Brasil e colocou Luiz Ignácio Lula da Silva na prisão (Mensalão e Operação Lava Jato).
Os casos mais recentes foram a Revolução Ucraniana de 2014, ou Euromaidan, da Praça Maidan, onde se obteve a destituição do presidente eleito Viktor Ianukovytch (Donetzk, 09/07/1950), aliado do presidente da Rússia, Vladimir Putin, e lá colocando do ditador Volodymyr Zelensky (Kryvyi Rih, 25/01/1978), artista circense e títere ocidental, que promove, com suporte da Organização do Atlântico Norte (OTAN) e financiamento estadunidense, a invasão do território russo.
Desde 2023, o Estado de Israel vem promovendo o genocídio do povo palestino quer na Cisjordânia, área interior, quer na Faixa de Gaza, área marítima, separadas por conflitos que perduram a partir da criação do Estado de Israel (13/05/1948), por iniciativa do Reino Unido. O apoio militar e financeiro dos EUA se contrapõe ao quase universal protesto pelo massacre israelense.
Recentemente, objetivando se apossar das reservas de petróleo da Venezuela, a maior em um só país, os EUA promovem a campanha midiática e de subornos financeiros e chantagens contra a reeleição de Nicolás Maduro que teve início quase um ano antes da última eleição, com base em Miami, envolvendo também empresa especializada em interferir nos sistemas digitais, sediada na Macedônia do Norte.
Repete-se, agora dentro de processo eleitoral, o que os EUA fizeram em 2019, quando reconheceram o autoproclamado deputado Juan Guaidó, presidente da Venezuela, possibilitando-lhe o saque de bilhões de dólares estadunidenses depositados pelo Estado da Venezuela em bancos estrangeiros, principalmente em barras de ouro no Reino Unido.
Também, como denuncia a professora e líder política Anahí Arizmendi, no premiado livro “Infância Bajo Asedio” (Editorial Trinchera, Caracas, 2023), as medidas coercitivas unilaterais (MCU) de embargos e sanções dos EUA prejudicaram, na saúde e na instrução, milhares de jovens, além de afrontar dispositivos universalmente aprovados em documentos das Nações Unidas (ONU). “O Governo estadunidense utiliza as MCU como armas de guerra, no marco de ingerências estratégicas não convencionais contra a República Bolivariana da Venezuela, para pressionar a troca de governo no país, consciente do castigo que infligem à população e a ameaça permanente à proteção de meninos, meninas e adolescentes venezuelanos” (tradução livre da obra citada).
Também os EUA confiscaram cinco refinarias e diversas estações de serviço (postos de gasolina) venezuelanas existentes no território estadunidense, entregando-as a Juan Guaidó, hoje asilado, com prisão determinada por crime contra o patrimônio venezuelano pelo poder judiciário da Venezuela.
O mundo ocidental, especialmente o estadunidense, na medida em que sofre derrotas militares, econômica, tecnológicas, radicaliza suas ações com mais guerras e imposições a seus aliados, como se nota no Brasil que deixa sua posição equidistante da política externa, para um Itamarati que não é aquele que orgulhava o Brasil, e que participou da formação dos BRICS.
O Brasil hoje age como colônia estadunidense, repetindo o que a mídia ocidental dedica a Maduro e Ortega. Esquece toda solidariedade recebida de Chávez e de Maduro no golpe em Dilma Rousseff (2016) e na prisão de Lula (2018).
DESENVOLVIMENTOS E USURPAÇÕES
Ainda em 2024, a República Popular da China (China) passa a ser o mais rico país do mundo. A imprensa ocidental, quase toda propriedade de gestores de ativos, os que dominam as finanças ocidentais e suas colônias, apresenta a nova fase de investimentos na cidadania, adotada pela China, como se aquele país estivesse em recessão ou, em contradição inexplicável, seria um trator dominando toda Ásia.
É um misto de calúnia e de incompreensão do valor do trabalho, que ignora ou não compreende o que ocorre na China. Nas últimas manifestações do Politburo Chinês, recomendou-se que em todos os níveis, esta liderança coletiva procure ter, ao menos, um cientista entre seus membros. O que significa a difusão de conhecimento por todo país e a todos seus trabalhadores e estudantes.
O modelo de organização do Estado chinês corre em paralelo com o Partido Comunista da China (PCCh), que não é único, mas lidera a frente de oito partidos com menor número de filiados. Estes têm como princípio a discussão democrática e aberta sobre todas as políticas, com a condição da adoção de unidade de ação e da manutenção das políticas acordadas.
A China não recebeu sem resposta o que o Ministério das Relações Exteriores brasileiro, neste ano de 2024, sob o governo Lula 3, ficou calado. Ocorreu quando a general Laura Richardson, chefe do Comando Sul dos EUA, em atitude arrogante de mandatária, determinou que o Brasil rompesse relações com a China.
Assim se expressou o porta-voz da Embaixada da China no Brasil: “alegações equivocadas por parte dos EUA desconsideram fatos fundamentais, adotam uma mentalidade típica da Guerra Fria e obedecem a uma lógica hegemônica. Elas intentam distorcer a percepção da opinião pública, desmoralizar a imagem da China e prejudicar a amizade e a cooperação com o Brasil, e constituem, assim, completas mentiras políticas”.
O Brasil retrocede e seus poderes constitucionais entram em disputa para ser o único a mandar, embora todos estejam submetidos ao poder das finanças, representado pelos gestores de ativos, organizações sediadas em paraísos fiscais.
A eleição para prefeitos, vice-prefeitos e vereadores, que ocorrerá em outubro deste ano, mostra que governo e oposição, como nos EUA, agem no mesmo interesse dominador. Trava-se apenas uma disputa de personalidades, pois ambos têm os mesmos propósitos colonizadores.
Em 85 municípios brasileiros, o PL de Jair Bolsonaro e o PT de Lula da Silva apoiam os mesmos candidatos para prefeito.
Originalmente publicado no Pátria Latina