A multiplicação de falácias, de fraudes, de feitiços pode, como numa reação da medicina homeopática, nos curar de vez deste caldeirão de azinhavre onde pulula a escória política deste século 21, sem bússola e sobretudo sem vergonha.
Ando a me perguntar como uma mulher, qualquer mulher, independente de idade, cor da pele, ideologia política e inclinação sexual poderá ainda votar em Trump depois do que ele publicamente acusou Kamala Harris.
Para quem não se recorda ou não sabe, lembro, com asco, que Trump acusou Kamala de ter feito sua carreira na defensoria pública da Califórnia “ de joelhos”, numa metáfora de prostíbulo baixa e desagregadora.
Digna de ser respondida com uma joelhada abaixo da cintura dele, Trump. Que, certamente mais dias e menos debates, virá. Há um limite até para o mais baixo machismo. Qualquer homem, minimamente vivido, sabe.
Menos Trump, político “bebê de Rosemary” que espalha esterco no ar que respira.
Mulher, por definição, não deveria votar em quem visivelmente a considera, qualquer que seja sua raça , inferior. Não é machismo. Não é imaturidade emocional. É escárnio repelente a nos ofender a todos, até eunucos de matizes sombrios, que não amaram nem foram amados a não ser por suas próprias mães.
A cada dia, a cada volta do sol, a opção política, para homens e mulheres, se impõe inadiável e não mais interessa o que Trump e seus associados mundo afora, inclusive aqui nesta terra dita da “Santa Cruz” possam mugir ou expelir.
A sugestão de que estamos a viver uma dicotomia entre esquerda e direita ou entre extremismos de variados tons e arroubos é uma falácia. Sem dúvida, reconheço, a maior vivida nestes 83 anos que carrego.
Provavelmente, a maior desde que o homem se levantou em suas duas pernas a diferenciá-lo das chamadas bestas-feras com quem por longo tempo conviveu, embora, ao que parece, cujo DNA ainda não se esvaiu de todo na humanidade. Sempre oportunista a atacar como morcegos na jugular dos desavisados.
Muito antes de ser exclusivamente política ou filosófica a crise que estamos a atravessar tem implicações diversas, mas essencialmente nos coloca diante do eterno desafio do “decifra-me ou devoro-te”.
E há obviamente os que estão a bailar com a perspectiva da submissão, diante da alternativa da reconstrução de um mundo melhor. Se há um benefício palpável na aventura religiosa, ideológica e simplesmente astuta da ordem internacional dos últimos cinquenta anos foi a de desmascarar os princípios e as boas intenções do neoliberalismismo.
Nascido sob a leitura equivocada de Margareth Thatcher, de que não existe sociedade, e da malfadada lição de Milton Friedman de que a única obrigação social da empresa é a de dar lucro a seus acionistas.
Entre essas duas asserções, as iluminuras a gás neon das festas simpáticas de Ronald Reagan. Como se o mundo fosse a Hollywood dos anos 50 do bang-bang passado. Bem, o filme é um pastelão e o ator principal é paranoico de carteirinha.
Hoje, fica difícil compatibilizar a boca livre trazida pela eliminação das redes de proteção do capitalismo do pós-guerra , em que mercados eram ,mal ou bem, disciplinados por regras de proteção ao consumidor. E capazes de quebrar monopólios poderosos a rivalizar com a ordem pública.
Na realidade, a proposta generalizada por Trump e outros autocratas, muito longe de de reduzir o escandaloso desequilíbrio social evidente mundo afora, pretende aprofundar o fosso entre ricos, super-ricos e os demais. Há óbvios grandes grupos econômicos a apoiar o projeto de um neoliberalismo revivido, visível até mesmo na composição das doações de campanha de Trump. ( E não é só de Musk que estou falando)
Pior ainda, com a crescente revolta contra as injustiças sociais, surgem grupos de “patriotas” a demonizar os imigrantes, os negros, os sem-teto como responsáveis pela paisagem destruída das São Francisco e outras cidades hoje em declínio visível pelo somatório de exclusão social.
Demonização que se reveste de uma teoria jurídica ainda mais perversa ao promover o desmonte agora dos direitos da cidadania com reflexos na mais do que saudável alternância do poder democrático eleito pelo povo. Por Trás de tudo, eliminar o povo desassistido. No belo estilo do dumping social, para não dizer “higienizacao” nazista.
Aqui no Brasil, não escapamos dos mesmos problemas que identifico acima. O Congresso Nacional- com as ressalvas de praxe- não se livra da lepra das emendas de relator e caterva.
Ao contrário, se insurge contra Flavio Dino, contra Alexandre de Moraes, jurisconsultos a honrar nossa Constituição . E nosso Supremo Tribunal Federal, âncora de nossa, por vezes, bêbada Democracia.
Coisa que ainda não vimos na tão reverenciada Suprema Corte dos Estados Unidos. Embora a Embaixada dos Estados Unidos se ache no direito de lançar uma nota nos avisando que estão de olho em nós. Nós também estamos neles. Perplexos diante de tanta jurisprudência acidental. Musk para vocês também .
E aos novos milagreiros a surgir, um recado. Em outubro, uma nova frente ampla e lúcida os aguarda. Na paz, brother.
XXXXXX. XXXXXXXX. XXXXX . XXXXX
EM TEMPO: Uma análise politica excelente, cuja leitura recomendo, encontra-se no artigo “ Frentes políticas contra os filhos da fúria” de Carlos Melo, no O GLOBO deste sábado dia 31 de agosto. Vale muito a leitura.
2. Descobri e leio com encanto o “Nostalgia”( Mundaréu ) de Mircea Cartarescu, escritor romeno que não brinca em serviço.
3. Você já escolheu seu prefeito e vereador aqui no Rio?