A manifestação da embaixadora americana, no Brasil, Elizabeth Franwley Bagley, diante do emergente choque Lula-Xandão, de um lado, e, de outro, o empresário americano, Elon Musk, que se recusa a obedecer a legislação brasileira, que enquadra a plataforma X, em atuação ilegal em território nacional, configura ou não clara ingerência dos Estados Unidos nos assuntos internos brasileiros?
Na decisão de suspender as atividades do X, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, declara que o dono do X pretendia “reiterar suas condutas de permitir divulgação massiva de desinformação, discurso de ódio e atentados ao Estado Democrático de Direito”, o que seria uma violação à “livre escolha do eleitorado”.
Ou seja, Musk está em confronto com o processo democrático brasileiro.
Representante dos interesses dos negócios americanos, a declaração da embaixadora de que monitora o assunto, ao mesmo tempo que indisfarçadamente adverte sobre liberdade de expressão, seria ou não aval ao ponto de vista de Musk de que existe censura no Brasil?
A embaixadora inverte a questão como se o tema principal fosse a reclamação de Musk por estar sendo, segundo ele, censurado e não sua desobediência às leis brasileiras, como ressalta o ministro Moraes.
Desse modo, a colocação dela sinaliza disfarçada crítica ao ministro Alexandre de Moraes, quando o certo seria ela alertar Musk de que a legislação brasileira, sob a guarda do STF, não pode ser desrespeitada, como está sendo pelo intrépido empresário americano.
Como o empresário, dono da plataforma X, advertido pelo ministro do STF para se enquadrar nas determinações legais vigentes no país, nega-se a cumprir a lei, ao mesmo tempo que descumpre determinação para que coloque representante legal da empresa no mercado brasileiro, está, legalmente, sendo punido.
WASHINGTON ACEITARIA DESACATO DE MUSK?
Seria de perguntar a embaixadora se, nos Estados Unidos, tal comportamento ilegal de Elon Musk seria tolerado pela justiça americana e se os juízes americanos aceitariam o desacato intolerável que ele promove.
O presidente Lula, em declaração pública, saiu em defesa do ministro Alexandre de Moraes, ao indagar o que ele, Musk, pensa que é ao fazer tábula rasa das leis brasileiras.
Tal posicionamento presidencial o coloca no contexto das admoestações diplomáticas proferidas pela embaixadora Elizabeth Frawley Bagley.
Na prática, o comportamento da embaixada americana de censura velada ao procedimento da justiça brasileira, avalizada, por sua vez, pelo presidente Lula, é semelhante ao adotado contra o governo da Venezuela, que, igualmente, resiste ao X de Elon Musk, acusado, junto com outras redes sociais, de ingerir nos assuntos venezuelanos na recente eleição presidencial vencida por Maduro mas, ainda, não reconhecida por Lula.
O atrito diplomático produzido pela intrepidez de Elon Musk demonstra que os Estados Unidos compram, preferencialmente, a narrativa dos empresários americanos nos seus choques com governos da periferia capitalista.
A atitude da embaixadora de Washington, em Brasília, é de apoio incontido dos interesses empresariais americanos, na medida em que sente estarem eles sendo prejudicados, conforme a argumentação de Elon Musk, em completo confronto com o interesse nacional.