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Identitários e os seus “lugares de fala” contaminados por uma arrogância que quase beira a tirania

Por Ricardo Guerra

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O debate identitário é extremamente importante, visto que através dele foi possível dar mais visibilidade a forma como indivíduos e grupos de indivíduos – com características específicas semelhantes – são e podem ser submetidos à opressão. 

No entanto, quando se voltam exclusivamente para si, os identitários tendem a esvaziar o debate político e facilmente se tornam presas das armadilhas impostas pelo imperialismo.

Dessa forma, o identitarismo (não o debate identitário), ascende como mais uma das aldrabices imperialistas, que, “como mágica”, transformam um fundamental espaço para promover a reflexão sobre formas de opressão na sociedade, num astucioso engodo (pensado e utilizado) para fazer a nossa esquerda esquecer o trabalhador e a soberania nacional:

  • Dissipando as energias que deveriam estar sendo canalizadas para a luta pela criação de oportunidades para o pleno exercício da cidadania e melhoria da qualidade de vida de toda a população;
  • Fragmentando as pautas e centralizando o debate no monitoramento do comportamento individual;
  • Estabelecendo o foco exclusivamente nas diferenças;
  • Deixando de lado a identificação por semelhanças, que, do ponto de vista social, contemplam o debate identitário e podem agregar e despertar o interesse e a adesão da coletividade, em busca de emancipação.

Agindo de forma radicalizada, fechados em seu feudo, os identitários foram se transformando em uma espécie de (proto) tiranos que, revestidos da arrogância característica dos incautos, se movem incrustados em seus “lugares de fala”, não como forma de abertura ao debate em contraposição ao silenciamento de voz das minorias, mas com a finalidade de propagar prescrições (por eles deliberadas), que aos demais pretendem impor.

Dessa forma, restringem a possibilidade de contra-argumentação e objetiva troca de idéias:

  • Preferindo “causar” e promover a lacração;
  • Levantando e abraçando bandeiras em torno de pautas restritas, vinculadas a interesses individuais e de grupos, que cada vez mais tendem a aumentar;
  • Autoritariamente, negando o bom senso, grosseira e desrespeitosamente ocupando o espaço alheio.

Em momento de tão grave destruição da nossa soberania, destituição dos nossos direitos sociais e desnacionalização das nossas riquezas naturais – com o imperialismo nos impondo a sua agenda neoliberal:

  • O identitarismo é um nítido exemplo prático de como a direita se utiliza do lema “dividir para governar”;
  • E faz parte da política da burguesia para fomentar o divisionismo entre as massas oprimidas – com a política do “cada um no próprio feudo”;
  • Pulverizando as questões nacionais, políticas e sociais (relacionadas à cidadania e a soberania), que ficam perdidas em meio as parciais e específicas pautas identitárias.

As pautas identitárias – radicalizadas – apenas servem para que os agentes a serviço do imperialismo possam “colar” na esquerda a marca de destruidora dos valores da família, da religião e dos costumes, determinando-lhe um contexto de aversão e de tendência do distanciamento das pessoas:

  • A armadilha do identitarismo levou a esquerda a ser caracterizada como cruel representante de uma “ideologia doutrinadora do mal”;
  • Tornando-a alvo fácil para hipócritas oportunistas, pseudo defensores do bem e “fundamentalistas” de ocasião.

Nesse contexto, um dos ambientes mais visados para as despropositadas e absurdas incursões caricatas dos identitários, é a língua portuguesa, principalmente com a irracional busca por expressões para designar neutralidade em relação a gêneros: algo tão inútil, quanto inconveniente e desrespeitoso.

Justamente em um país no qual o fundamental direito à educação é negado a milhões de pessoas, os identitários vão forçando a barra com expressões do tipo “amigues”, “bem-vindes” e outras, que nada representam ou acrescentam no verdadeiro contexto da inclusão:

  • Ao invés de se preocuparem, por exemplo, com a democratização do acesso à educação de qualidade para todos os cidadãos brasileiros;
  • Desperdiçam tempo e energia com atitudes contraproducentes – vinculadas muito mais ao campo performático;
  • Tempo e energia, que poderiam estar sendo utilizados para lutar em favor de causas populares que favoreçam a devida inclusão de todos aqueles a quem a sociedade não dá as justas oportunidades e a necessária atenção.

Os identitários não conseguem perceber que afrontando e chocando as pessoas (de forma arrogante e autoritária) com lacrações ou a negação da cultura e da língua portuguesa, na verdade estão indo contra os próprios interesses que se propõem defender:

  • Não estabelecem a capacidade de criar e comunicar uma visão congregadora para a sociedade, na qual, pessoas de vários (e diferentes) grupos possam se reconhecer, e se perceber incluídos como parte de um projeto político que também lhes é pertinente;
  • E criam dificuldades para que os necessários avanços das causas relacionadas à inclusão aconteçam.

Para fugir dessa armadilha, é preciso refletir sobre o que a condução radical para lutas (cada vez mais fragmentadas) orientadas apenas por questões individuais e de grupos representam para a reversão do perverso quadro de configuração dos nossos problemas sociais:

  • Lacração, trend topics, hashtags, bolhas, cancelamentos, etc, em nada ajudarão;
  • Apenas servirão para instigar a cismogênese e enfraquecer a luta revolucionária. 

Não há dúvidas que o que está em jogo é uma manobra – muito bem arquitetada – contra a esquerda anti-imperialista, usando a cobertura ideológica (espetacularizada) do identitarismo, ambientada no contexto de um movimento legítimo.

Isso, claramente, pode ser percebido quando partidos considerados de esquerda, nos quais se agrupa a maior parte dos representantes de movimentos identitários, apresentam, por exemplo em seu histórico, posicionamento favorável ao golpe e à Lava Jato – que destruíram empresas, empregos e a economia brasileira e dilaceraram a nossa frágil democracia.

Enfim, é preciso ter a clareza de que o que realmente precisa ser radicalizado, neste momento, é a luta contra o trágico processo de destruição neoliberal sob o qual o Brasil está submetido, que realmente é o que está por trás de todas as formas (aqui instituídas) de exclusão!

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1 COMMENT

  1. Tudo isso porque Sílvio Almeida caiu denunciado pelo Me Too. Também tenho críticas à obsessão identitária, mas sem culpar os “agentes do imperialismo”, um chavão mofado ainda usado por uma ala da esquerda tradicional, a mesma que ñ tem coragem de defender o aborto pra ñ melindrar os evangélicos.

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