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Agricultura familiar, agronegócio e a questão da segurança alimentar no Brasil

Por Ricardo Guerra

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No Brasil, cada vez mais áreas que deveriam ser utilizadas para o plantio de alimentos, visando garantir a segurança alimentar da população, são substituídas pela produção de commodities destinadas à exportação.

Monoculturas são produzidas em grande escala, orientadas à especulação financeira, principalmente os derivativos financeiros a partir da bolsa de mercadorias e futuros, cuja prioridade é exclusivamente a obtenção de lucros e configura a base do modelo denominado de agronegócio:

  • Um modelo que não se preocupa com a segurança alimentar do nosso povo;
  • Que destrói ecossistemas auto-sustentáveis e inviabiliza as produções locais e a agricultura familiar sustentável, influindo decisivamente na degradação da biodiversidade;
  • Provocando o êxodo rural, a devastação ambiental, a fome e a inflação.

Levando em consideração o entendimento ético da criação, o desenvolvimento e utilização do termo, o agronegócio não tem nada de tech (expressão usada em referência ao que é tecnológico) e tampouco representa a “riqueza do Brasil”, conforme dizem suas campanhas publicitárias:

  • A tecnologia utilizada no setor é direcionada exclusivamente aos lucros a qualquer custo, em nada sendo orientada para o uso em favor dos verdadeiros interesses dos trabalhadores, da população local e da humanidade em geral;
  • E a tão propalada “riqueza”, apenas pode ser referida aos investidores das grandes corporações (em sua maioria transnacionais) que dominam o setor.

Ou seja, enquanto a soja transgênica cresce substituindo, por exemplo, o plantio do feijão, da batata e do arroz, a população local tem menos acesso a alimentos e empobrece.

Além disso, o fato de quase 1 bilhão de pessoas sofrerem de forma contundente com o problema da fome no nosso planeta e apenas 4 em cada dez famílias ter acesso pleno a alimentação no Brasil expressa bem essa realidade – e indica que o problema da fome é uma questão política.

A questão da fome está diretamente relacionada à desigualdade social e à má distribuição de renda, assim como à falta de planejamento estratégico e à utilização desse inadequado modelo de agricultura:

Para perceber o quanto o Brasil está seguindo na direção errada, a presente situação da (in)segurança alimentar e nutricional, que também é uma desgraça para a humanidade, representa uma vergonha para o país:

  • No qual há abundância de terras cultiváveis e recursos hídricos em profusão;
  • A economia está posicionada entre as mais importantes do mundo;
  • E o agronegócio é considerado motivo de “orgulho”.

 Até mesmo para quem não quer enxergar, é impossível deixar de perceber que no rastro do agronegócio estão o uso de pesticidas, incêndios e desastres ecológicos, grilagem, concentração de terras e de riqueza, desemprego e trabalho escravo.

Ademais, com o avanço da indústria na cadeia alimentar e o domínio das grandes corporações do agronegócio o número de desnutridos aumentou:

  • E o setor, na verdade representa, para a maioria da população, sinônimo de doenças, tragédias e pobreza;
  • Jamais de riqueza.

 E mais, além de não estabelecer relação com qualquer perspectiva orientada para a garantia da segurança alimentar para a nossa população, como o agronegócio no Brasil tem como base a produção e exportação de produtos em estado bruto (seja de origem agropecuária ou de extração mineral) – usados como matéria prima para a fabricação de outros produtos, a produção nacional na área se estabelece no eixo primário da economia:

  • Não gerando valor agregado aos produtos aqui produzidos;
  • Nem promovendo desenvolvimento de tecnologias de ponta e empregos com melhores qualificações e salários. 

A agricultura industrial é a principal responsável pelo desmatamento no Brasil, em particular das espécies nativas, estimando-se que, em sua decorrência, sejam cortadas milhões de árvores por ano, de áreas naturais – incluindo as florestas tropicais:

  • Sendo ainda muito preocupante, o fato do agronegócio estar dizimando considerável parte das  nossas florestas para produzir óleo de palma, soja, pastagens, etc, e, dessa forma, pelo menos metade do solo fértil brasileiro (cultivado) está sobrecarregado com culturas intensivas e produtos químicos, como os pesticidas;
  • Perdendo suas características naturais e tornando-se, assim, estéreis.

Devido a essa exaustão do solo, milhões de hectares de terra já foram e continuam a ser abandonados, além de que, pela intensa necessidade de irrigação, a água utilizada para esse fim compromete ainda mais os sistemas naturais:

  • Contexto, no qual, a aquacultura tornou-se também um grave problema a ser observado;
  • Em relação à questão da poluição, a possibilidade de doenças nas populações de peixes, e a destruição de habitats costeiros, como por exemplo os mangues.

Enfim, a fome, a violência, os conflitos por terra e a destruição dos biomas aumentam junto com o agronegócio – e o uso do fogo como instrumento para o avanço das “fronteiras” agrícolas e de garimpo é uma triste realidade:

Enquanto o “popular” agronegócio está preocupado em exportar commodities e em como aumentar insaciavelmente seus lucros, destruindo empregos, vidas e o ambiente, o abastecimento do Brasil vai sendo feito por aqueles produtores que vendem na própria comunidade – entre vizinhos, nas feiras e comércios locais.

Portanto, a segurança alimentar da população e a defesa do ambiente implica também no enfrentamento à depredação capitalista e à ameaça de destruição do planeta, que coloca todas as espécies (inclusive a humana) sob risco.

É  a agricultura  familiar que promove a edificação da segurança alimentar do país e embora “não percebida” e valorizada pelo Estado:

Mas, apesar disso, equivocadamente a maior parte dos incentivos oficiais estão concentrados no setor agrícola industrial e

pouquíssimo crédito é disponibilizado aos pequenos agricultores, os que realmente trabalham em prol da soberania alimentar e produzem alimentos, com respeito ao solo e ao ecossistema, em pequenas propriedades que se destinam à subsistência do produtor e ao mercado interno do país. 

Desmascarar a falaciosa propaganda oficial em favor do agronegócio e denunciar toda essa situação, é uma obrigação.

Os pequenos agricultores fazem muito com pouco e o que o Brasil precisa não é de uma “agricultura pop” e, sim, estabelecer um planejamento estratégico para a área alimentar, decididamente implementando políticas públicas orientadas para o acesso ao crédito para o desenvolvimento da produção na agricultura familiar: fortalecendo a produção de alimentos nas comunidades, gerando empregos e promovendo a distribuição de renda a partir dos mercados locais!

 

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