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“Elevar juro é conspiração do mercado financeiro contra o Brasil”, denuncia Oreiro

“Não há nenhuma razão para aumentar os juros que não seja dar dinheiro para os rentistas”, alertou o economista da UnB

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O economista e professor da UnB, José Luis Oreiro, denunciou, nesta segunda-feira (16), em entrevista ao HP, a intenção de elevação da taxa Selic pelo Banco Central na reunião desta semana do Conselho de Política Monetária (Copom) do Banco Central. Chamou esta elevação de “conspiração do mercado financeiro” contra o país.

“Existe uma razão objetiva para que isso aconteça?”, questionou. “Usar a política fiscal como justificativa para aumentar o juro não faz o menor sentido factual, isso é uma conspiração do mercado financeiro’, observou o economista, acrescentando que “a economia brasileira está crescendo mais por conta da questão fiscal que foi feita desde o início do governo Lula, mas, segundo ele, “o impulso fiscal está perdendo força e vai ser bem fraco daqui pra frente”.

Sobre as “expectativas’ de alta de inflação, afirmou: “atualmente no Brasil a meta de inflação é de 3% ao ano, com intervalo de tolerância para cima e para baixo de 1,5 ponto percentual. Isto significa que, se a inflação de 2024 fechar abaixo de 4,5% ao ano a meta de inflação está sendo cumprida. Se você olhar para as projeções do Boletim Focus para o ano de 2024, você vai var que as expectativas são de que a inflação vai fechar confortavelmente abaixo de 4,25. Alguns dizem 4,2, outro 4,3, e já estamos em setembro”.

O professor de economia lembrou que “para 2025, a previsão está abaixo de 4%, portanto confortavelmente dentro do regime de metas de inflação”.

“Não há nenhuma razão para aumentar os juros que não seja dar dinheiro para os rentistas”, alertou. “Não há nenhuma razão para acharmos que a inflação não vai ser cumprida este ano. E mesmo se tivéssemos esse entendimento, o fato é que existe um intervalo de tempo entre o que o Banco Central faz em termos de taxa de juros e o efeito que isso tem sobre a inflação”, acrescentou Oreiro.

“Os estudos empíricos”, prosseguiu o especialista, “mostram que leva de nove a doze meses para o momento da taxa de juro ter efeito sobre a taxa de inflação, então um aumento, que provavelmente vai acontecer de 0,25 ponto percentual na taxa de juros Selic, no melhor cenário, só começaria a ter impacto sobre a taxa de inflação no final do primeiro semestre de 2025”.Ele alertou também para o fato de que não estão pretendendo subir os juros só uma vez. “Ao que tudo indica, não será só um aumento, serão talvez três ou quatro aumentos de 0,25, ou seja, no final desse processo nós teríamos uma taxa de juro de 11,5% ao ano”, apontou. “Qual é a expectativa de inflação para o ano que vem? A expectativa de inflação para o ano que vem é que ela novamente fique abaixo dos 4,5%. Então, pelo protocolo do regime de metas de inflação, não há nenhuma razão pela qual o Banco Central deva aumentar a taxa de juro”, prosseguiu.

POLÍTICA MONETÁRIA CONTRACIONISTA

Oreiro chamou a atenção para o fato de que a política monetária “já está no campo contracionista”. “Isso a gente observa calculando a diferença entre o valor da taxa de juros e a taxa de juros de equilíbrio”.

“A taxa de juro de equilíbrio é a soma da taxa de juro internacional com o prêmio de risco país. Se a gente pegar como referência a taxa de juros dos títulos da dívida norte-americana de cincos anos de prazo maturidade eles estão um pouquinho abaixo de 5%, para simplificar, vamos supor 5%. O prêmio de risco país, por exemplo, medido pelo EMBI+ do JP Morgan te dá um prêmio risco país de 200, 250 pontos base. Isso daria uma taxa de juro Selic de equilíbrio de 7,5%, nós estamos com uma taxa de 10,5%, ou seja, 300 pontos base acima do nível de equilíbrio. A política monetária já está muito apertada”, disse o economista.

“E a questão do meio ambiente, aí é que não tem nada a ver uma coisa com a outra. Um choque de oferta, você aumentar a taxa de juro não vai fazer você apagar os incêndios, principalmente este aqui na reserva, na floresta aqui de Brasília, não faz o menor sentido”, concluiu.

Na véspera da batalha de Friedland (1807), segundo Leon Tolstói no seu “Guerra e Paz”, o General Kutusov disse ao seu Assistente de Ordens, o Príncipe Pedro, que a Rússia seria derrotada por Napoleão. Ao ver a tristeza de seu assistente de ordens, ele falou “a única batalha que realmente importa é a ultima”. Quarta feira o rentismo poderá vencer. Mas não será a última batalha. Essa nós ganharemos.

O artigo original foi publicado na Hora do Povo

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