Quando convidei o amigo Paulo Nogueira Batista Jr. para integrar o time de estrelas do movimento Paraíso Brasil o fiz em razão da identidade entre o seu pensamento e o nosso nascente movimento. Identidade que pode ser resumida numa palavra: Utopia. Não a utopia do lugar nenhum de Morus, nem utopia dos socialistas utópicos, não a quimera, a fuga da realidade, mas a utopia da luta concreta para realizar o destino do Brasil, a utopia da Nova Roma de Darcy, dos sonhos e da obra de Getúlio, Carlos Lessa e Samuel Pinheiro Guimarães, patronos “in memoriam” do Paraíso Brasil.
O tempo vem revelando que Paulo Nogueira Batista Jr. e o ainda menino movimento Paraíso Brasil são mesmo irmãos de armas na grande e verdadeira batalha que precisamos travar todos os dias, a batalha das ideias, como o sabem os cubanos, esse povo improvável e indomável ao qual dediquei a minha dissertação de mestrado no longínquo ano 2000.
Na hora em que a crise se apresenta com toda a sua carga de desafios e oportunidades, que os tempos mornos se vão, que o chão quente da estratégia separa os meninos dos adultos, que as ilusões liberais mostram sua tibieza e ineficácia, que muitos e tantos aderem às ideias dos inimigos para (por pusilanimidade) se mostrarem bons moços (supondo que com isso fugirão do alcance do chicote), os verdadeiros brasileiros, os que não se aturdem com o soar das trombetas, mostram o seu talento e seu valor.
Paulo Nogueira Batista Jr. é um destes. Para ficar num exemplo, a sua posição diante do ataque duro contra a soberania da bolivariana Venezuela, quando a vacilação de liberais “de esquerda” (termo consagrado pelo amigo professor Nildo Ouriques) escondia-se sob a capa de dogmas procedimentais de natureza “democrática”. Paulo Nogueira Batista Jr. não tergiversou. Para não deixar dúvida de que sabe que o jogo é agora, como era no passado, o da escolha entre Bolívar e Monroe, entre dominação colonial e liberdade, Paulo, diante da perplexidade paralisante de uma militância despolitizada por décadas de ilusões “democráticas”, dobrou a aposta colocou em cheque o conceito de a como valor universal:
“Vou mais longe e entro aqui, por um instante, em terreno pantanoso. Afinal, a democracia é mesmo um valor universal, como se afirma com frequência? Ou está entre aqueles conceitos gerais e vazios que Nietzsche chamava de “a última fumaça da realidade evaporada”? O risco de recorrer a essa noção de universalidade é o de conduzir à ideia de que existe um modelo único de democracia – provavelmente aquele que os países do Ocidente Político (ou Norte Global) praticam ou dizem praticar e querem exportar para todos os cantos do planeta. Não estamos diante de mais um embuste da chamada “comunidade internacional” – o grupo formado por Estados Unidos, Canadá, União Europeia, mais alguns países europeus, Japão, Coreia do Sul, Austrália e outros penduricalhos? Comunidade que inclui apenas cerca de 15% da população mundial!
Quem mais no duro debate atual teve semelhante coragem? Poucos, ainda.
Mais recentemente Paulo coloca os pontos nos is a respeito do lugar do ex-presidente Ernesto Geisel na construção. No artigo “Sobre Ernesto Geisel: os méritos do general e algumas comparações com Lula”, relata a experiência de seu pai no governo Geisel. O diplomata Paulo Nogueira Batista , foi principal negociador do acordo com a Alemanha para o desenvolvimento do programa nuclear brasileiro e o primeiro presidente da Nuclebras, corajosa criação do general-presidente no contexto de dotar o Brasil de autonomia estratégica diante do poder colonial dos Estados Unidos.
O artigo de Paulo sobre Geisel seguiu-se ao que publicou sobre Getúlio aqui no Paraíso Brasil, “Getúlio Vargas, o maior de todos os presidentes” e decorreu da necessidade de explicar aos seus leitores porque colocou Geisel, ao lado de Getúlio, JK e Lula como os quatro presidentes.
Desfrutem a leitura (e reflitam sobre ela, que os tempos não para divertimento e ilusões) e, ao final, respondam, em alto e bom som para sua consciência à pergunta com que Paulo termina o seu artigo:
“todas essas considerações econômicas, de política interna e de relações internacionais não seriam suficientes para incluir Geisel no rol dos maiores Presidentes da República da nossa história?”
Na parte que me toca, depois que cresci um pouco em consciência política (ainda tão pequenina, a pobre!), tenho dito sem titubear que, ao lado de Getúlio, JK e Jango, Geisel tem presença garantida no meu panteão dos grandes presidentes da República.
Mas, convenhamos, a final e ao cabo, todo presidente que mereça a honra integrar o panteão dos grandes, descenderá de alguma forma de Getúlio, o Pai do Brasil Moderno. Geisel, por suas raízes tenentistas, descende. Daí a feliz escolha do editor do Paraíso Brasil de uma foto de jovem Geisel com Getúlio para ilustrar o artigo.
Quem não vem de Getúlio – pior, quem ouse querer negá-lo- vai direto para a vala comum dos entreguistas (né, Brizola?), um dos quais é expressamente mencionado no lúcido artigo do Paulo.