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Consciência de classe e as narrativas imperialistas na era da desinformação

Por Ricardo Guerra

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A dinamização dos fluxos informacionais pelo mundo, amplamente potencializados pelos avanços tecnológicos, reverberam as formas de comunicação instrumentalizadas pela informática e pela internet reproduzindo a mesma lógica da cultura de massas implementada pelas mídias tradicionais.

Dessa forma, mesmo possuindo uma maior capacidade técnica para ampliar as fronteiras de seus saberes de forma cada vez mais rápida e acessível:

  • As pessoas continuam a ter contato com informações e acesso aos conhecimentos de forma superficial e tendenciosa;
  • Distorcidos e orientados sob a ótica da classe dominante – a burguesia capitalista.

Com a mídia burguesa colocada a serviço dos interesses do imperialismo, a comunicação é organizada para desorientar e desconectar os indivíduos da realidade e visa sufocar a capacidade de compreensão e de análise das pessoas como agentes de transformação social:

  • Tendo por objetivo principal impedir a compreensão do conceito de classe e a aquisição da consciência de classe, permutando, no imaginário coletivo, a ideia da luta de classes por diferentes narrativas;
  • Narrativas que são construídas para promover a ideologia neoliberal e justificar a falaciosa premissa de que a sociedade se auto regula, sem a necessidade da mediação do Estado, e que o “mercado” é quem exerce naturalmente esse papel.

A mídia, ambientada nesse contexto, vai criando estratégias para “hackear a mente das pessoas” e assim legitimar a imposição do individualismo, ao mesmo tempo, como projeto de vida e “política de governo”:

  • Investindo contra qualquer perspectiva de senso coletivo e de reconhecimento do necessário e fundamental papel do Estado como provedor do bem-estar social;
  • Como se os capitalistas não fossem movidos pela insaciável  busca por lucros e usassem para nortear seus negócios, a referência do bem da coletividade;
  • Contexto, no qual, o neoliberalismo, ideologia criada exatamente para aumentar o lucro dos capitalistas, usurpando os direitos dos trabalhadores e saqueando os cofres do Estado, é apresentado como um processo natural e necessário nas relações econômicas, sociais e de trabalho estabelecidas em sociedade.

Assim, utilizando técnicas como a guerra-cognitiva (ver aqui e aqui) e outras manobras imperialistas, os gigantescos cartéis que passaram a dominar o mundo a partir do final do século XIX, oriundos do processo de concentração da riqueza próprio do desenvolvimento do capitalismo:

  • Vão engendrando situações para garantir que as corporações e seus acionistas continuem a obter fantasiosos e gigantescos lucros, ao custo do suor e sangue dos trabalhadores;
  • Escondendo o processo de exploração como esses lucros acontecem;

Hoje em dia, esse processo tem muito a ver com a manipulação dos dados que as grandes empresas de tecnologias detém (e trabalham constantemente para ampliar) – que lhes permite conhecer e interferir nas formas de pensar e de se comportar e agir das pessoas:

  • São os algoritmos que ditam tudo, do que se vai assistir, ao que se pretende comprar e, até mesmo (é claro), em quem deve-se votar – quase como se fosse um controle remoto;
  • Assim, uma “nova realidade” parece emergir do nada – quase como se fossemos personagens de uma peça de teatro – e o mundo real desaparece, como se fosse uma ilusão;
  • Não se fala a verdade sobre nada, não interessando a transmissão de informações e conhecimentos – mas, sim, a construção de narrativas.

Dessa forma, como por um toque de mágica:

  • O trabalhador, destituído de todos os seus direitos (semi escravizado), passa a ser apresentado como “empreendedor”;
  • Sendo levado a acreditar nessa narrativa, enquanto a trágica precarização das condições de trabalho passa a ser denominada “modernização das leis trabalhistas”, numa cínica tentativa de disfarçar/suavizar a perversa lógica capitalista de desmonte dos direitos trabalhistas.

Além disso, o esforço de comunicação da mídia tradicional e das redes sociais ocidentais, formatado sob os auspícios do imperialismo/OTAN, pretende transformar as próprias pessoas numa “arma de guerra”:

  • Uma guerra cognitiva travada no ambiente digital que visa mudar não apenas o que as pessoas pensam;
  • Mas também como elas agem, e o pior, contra seus próprios interesses.

Os ataques são coordenados através de um pesado trabalho de desinformação estabelecido por intermédio de operações psicológicas e de engenharia social:

  • Semeando e promovendo dissonâncias, polarizando opiniões e radicalizando grupos;
  • “Instrumentalizando e motivando” as pessoas para que possam agir no processo de desestabilização de qualquer sociedade que se contraponha aos interesses do capital apátrida (transnacional).

A hiperconectividade favorece a promoção deste tipo de manobras e os eventos conhecidos como “Primavera ou Jornadas de junho de 2013” é um exemplo muito claro desta situação estabelecida no contexto das guerras híbridas (ver também aqui):

  • Sendo essas, junto com as guerras convencionais, as principais políticas atualmente adotadas pelo capitalismo para se salvar da sua maior crise;
  • E assim alavancar o processo de aprofundamento da imposição da agenda neoliberal.

Temos uma geração inteira nascida no ambiente do neoliberalismo, sob o qual, em breve, as pessoas não terão carteira assinada e horário fixo de trabalho, nem muitos outros direitos como a própria perspectiva de aposentadoria:

  • Uma agenda cujo enfrentamento não é fácil e exige, de nossa parte, um forte investimento em comunicação com a classe trabalhadora;
  • Ainda mais agora que a crise capitalista vem se aprofundando de forma avassaladora – por causa da guerra.

Ou seja, a mão pesada da agenda neoliberal recai, cada vez mais forte, sobre a vida dos trabalhadores e é justamente isso que deve impulsioná-los para a luta: o resgate da compreensão da sua condição de classe.

Num  mundo completamente dominado pelas forças que agem a serviço dos interesses imperialistas, onde as instituições são pensadas e organizadas exclusivamente para consolidar e perpetuar a burguesia como classe dominante, a consciência de classe (ver aqui, aqui e aqui) é o antídoto que precisa ser usado contra as narrativas criadas pelo imperialismo para dominar as nossas mentes e impor a ideologia neoliberal.

A luta de classes precisa voltar ao centro dos debates e novamente ser o cerne do movimento popular em busca da construção de uma sociedade mais justa e livre de exploração: uma sociedade, na qual, a maioria das pessoas não precisa lutar todos os dias apenas para sobreviver!

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