O DEcionário, glossário com os termos criados e usados no canal de análise política Duplo Expresso, define a expressão “Evangelistão do Pó” como a aliança entre o narcotráfico e autoridades militares e civis, com ligações no ambiente político, judiciário e religioso – visando, entre outras coisas:
- O controle do fluxo do comércio ilegal de drogas e de armas;
- Lavagem de dinheiro e formação de caixa 2 de parcela da classe política e empresarial.
Essa aliança se estabelece como parte de um plano para a institucionalização do crime organizado, e é selada por meio de um acordo de “armistício” entre organizações criminosas, o Estado e militares:
- Em busca de reduzir a mortalidade e a criminalidade “aparente” na sociedade;
- Além de garantir o controle do poder e a manutenção da ordem pública através da ação do crime organizado.
Uma forma ampliada de um sistema conhecido como a “Pax Paulistana”, estabelecida no estado de São Paulo, também conhecida como a “Pax Brasiliensis”:
- Composição na qual o crime organizado recebe, em troca dos “favores” que presta ao Estado, caminhos privilegiados para o narcotráfico;
- E também para a lavagem de dinheiro via “negócios”, contravenções toleradas, etc.
Como parcela representativa das igrejas evangélicas faz parte desse processo, servindo como um depósito de mão de obra e um privilegiado espaço para esquentar o dinheiro frio do crime, é exatamente em decorrência disso que esse esquema ficou conhecido como o “Evangelistão do Pó” ou a “Pax do Evangelistão do Pó” (ver aqui, aqui e aqui):
- Um esquema que envolve um processo muito dinâmico, que vai das corporações do crime organizado ao mais alto escalão da política;
- E cuja estrutura de funcionamento explica, em grande parte, o golpe de 2016 e a ação imperialista no Brasil e na América Latina (A.L.) – que todos nós precisamos compreender.
No âmbito desse processo, segue em andamento, no Brasil e na A.L., um plano para a reformulação do Estado Nacional e da sociedade civil no sentido de eliminar a preferência e o poder de escolha dos eleitores, no qual:
- Os representantes do capital transnacional e seus operadores locais estão concentrando todos os esforços na elaboração e implementação de estratégias de manipulação das ideias e dos comportamentos das pessoas;
- Usando a dissonância cognitiva como meio para promover uma falsa compreensão e consequente negação da realidade, transformando, assim, o eleitor comum em peça de fácil manobra no jogo político.
Recorrendo principalmente a uma escabrosa guerra de informação que visa induzir as pessoas a se posicionarem contrárias a projetos políticos nacionalistas e orientados aos interesses populares e à causa dos trabalhadores, essa “batalha pela conquista” da mente do eleitor é travada no contexto do que os especialistas chamam de guerra híbrida:
- Estratégia militar que mescla táticas de guerra política, guerra convencional, guerra de comunicação e ciberguerra;
- Onde tudo é ardilosamente pensado com o objetivo de dominação investida contra um ou vários Estados Nacionais, em busca de explorar populações, territórios e recursos naturais, públicos e financeiros (Dominação de espectro total).
São utilizados, para isso, variados métodos de influência, tais como formação de formação de dossiês para chantagem e cooptação de “lideranças” locais, infiltração de pautas, intervenção eleitoral externa e golpes de estado, cismogênese, lawfare, fake-news, colonialismo cultural, etc.:
- Fazendo, assim, com que as pessoas comuns não percebam a agressão sofrida;
- E o agressor não seja reconhecido como agressor, nem tampouco possa ser responsabilizado.
De acordo com a abordagem feita no canal Duplo Expresso, a DEA, agência estadunidense “reguladora” do tráfico de drogas internacional (aspas ironicamente colocadas por Romulus Maya, editor chefe do canal), tem um papel fundamental nesse processo, agindo para criar condições e dar garantias para que o consórcio formado entre autoridades políticas, militares, judiciárias e religiosas com o narcotráfico, possa administrar negócios legais e ilegais na região de interesse imperialista:
- Notoriamente sob a tutela de governos alçados ao poder pelas “cuidadosas mãos” do Estado Profundo (Deep State) estadunidense e seus tentáculos nos países de seu interesse;
- Cujo financiamento é pago pelos traficantes.
Os meandros do “Evangelistão do Pó”, esmiuçados por Romulus e seus colaboradores e convidados em programas, artigos e publicações nas redes sociais, funciona assim:
- A presença da DEA na América Latina garante, em troca de informações e caminhos privilegiados para o narcotráfico, o pagamento (ao Tio Sam e seus parceiros) de um percentual acordado pelos “negócios” realizados pelos traficantes;
- Esse pagamento é feito através de depósitos em paraísos fiscais, usando doleiros, e, parte desse dinheiro, vai financiar operações secretas e de desestabilização promovidas pelo Deep State americano mundo afora (espionagem, primaveras, golpes, invasões, etc.);
- Assim, o capital financeiro acumulado pelo tráfico é “reciclado”, em paraísos fiscais protegidos pelos EUA (com a banca dando cobertura a todo o esquema) e o dinheiro sujo é lavado, por exemplo na compra de ativos financeiros como as ações de empresas com altos volumes de negociação e valor de mercado (os chamados blue-chips da Bolsa de Valores);
- Os EUA abatem parte do seu déficit direto em conta corrente e o dinheiro, que antes ficava enterrado em malas sob o solo de fazendas (como fazia Pablo Escobar, morto pela DEA), volta limpo para o país e ajuda a “montar um caixa” para financiar a investida do imperialismo sobre os Estados não alinhados aos seus interesses imperialistas ou que estes tenham interesses em saquear.
Para se ter uma ideia do montante que a livre circulação da grana que esse esquema gera, entre 1990 e 1999 houve o acréscimo de 4 trilhões de dólares nos fluxos financeiros internacionais dos EUA, sem origem identificada.
No Brasil, esse esquema estabelece relação com o “milagre” do agronegócio, mas também explica, em parte, a pujante ascensão financeira das igrejas neo-pentecostais nos últimos anos.
É de conhecimento geral que significativa parcela do agronegócio funciona como lavanderia para o crime organizado:
- Camuflando a origem do dinheiro sujo do narcotráfico em operações fictícias de venda de bois e grãos, estratagema conhecida como vaca-papel e soja-papel;
- Mas, também, mascarando o escoamento das drogas, através dos carregamentos de soja e outros grãos.
Da mesma forma, há muito tempo também se sabe da existência de um estreitamento de laços entre o tráfico e parte das igrejas evangélicas (ver aqui e aqui), cujo objetivo é facilitar a lavagem do dinheiro oriundo dos negócios ilegais do crime organizado:
- Assim, a doação dos fiéis, nos templos onde esses laços são estabelecidos, junta-se “milagrosamente” ao dinheiro do tráfico;
- Aliás, nas áreas mais pobres do Rio de Janeiro e em várias regiões de todo país, há inclusive uma pressão do Evangelistão do Pó para que as pessoas se convertam às igrejas evangélicas, até mesmo por uso da violência.
Em síntese, a ideia desse esquema, que vem de longo prazo, é submeter o povo a uma governança formatada nos moldes “milicianos”, no qual:
- Milícia se equivale ao Estado;
- Enquanto milicianos e evangélicos garantem votos e poder – e a milícia e o tráfico se estabelecem como sócios.
Então, quando não conseguem alçar (“de primeira”) seus alinhados ao poder:
- Agem vigorosamente para desestabilizar os governantes que não compartilham do esquema ou que podem atrapalhá-lo;
- E, consequentemente, os que também podem atrapalhar os interesses imperialistas traçados pelo Deep State Estadunidense sob influência de Israel – junto com seus representantes locais.
Na organização de todo esse esquema, a operação Lava-Jato e o Juiz Sérgio Moro, com seu falso combate ao crime organizado (ver aqui, aqui, aqui, aqui e aqui), equivalem aqui no Brasil ao papel que a DEA, com sua “Guerra às Drogas”, faz na América Latina – cujo “objetivo” é “pacificar” a sociedade, protegendo quem pagar o “percentual acertado”:
- Os inimigos dos que pagam a taxa de proteção são perseguidos;
- E, é claro, para mostrar serviço para a classe média, de vez em quando exterminam alguns pretos e pobres, contexto, no qual, o papel que organizações como o PCC (no estado de São Paulo) e as Milícias (no estado do Rio de Janeiro) exercem, precisam ser compreendidos.
A autodenominada força tarefa, gerou e promoveu a ascensão de políticos hipócritas, pseudos nacionalistas e completamente servis aos interesses estadunidenses e impulsionou a destruição da economia nacional (ver aqui, aqui e aqui):
- No rastro do estrago provocado no país, a Presidente Dilma Rousseff sofreu impeachment por supostas “violações a regras financeiras”;
- E o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi condenado em processo açodado e fora dos parâmetros legalmente estabelecidos, sendo impedido de se candidatar ao cargo em 2018;
- Conduzindo ao poder central do país um grupo abjeto de políticos com vínculos ligados às milícias e da mais asquerosa subordinação aos ditames do império anglo-saxão sionista.
Assim, a operação lava jato distorceu a justiça criminal, destruiu a ordem constitucional econômica e abalou a economia brasileira:
- E as suas ações prejudicaram consumidores e causaram a perda de milhares de empregos especializados;
- Principalmente nas cadeias produtivas de petróleo e gás e da construção civil – levando em consideração apenas o período de 2014 a 2017, R$172,2 bilhões deixaram de ser investidos no país.
De acordo com o delegado da Polícia Federal Élzio Vicente da Silva, os falsos combatentes da corrupção, o ex-juiz Sergio Moro, o ex-procurador da República Deltan Dallagnol e a juíza federal Gabriela Hardt agiram em conluio com agentes públicos americanos e representantes da Petrobras para desviar R$ 2,5 bilhões dos valores oriundos da “lava jato”, para criar uma fundação privada (ver aqui):
- Sérgio Moro nunca intimou o mega-doleiro Dario Messer, com estreitas ligações com os EUA e Israel;
- E a pergunta que fica, é: por que, apesar do nome de Dario Messer constar na delação de vários diretores da Odebrecht, colhidas no âmbito da Lava-Jato, ele nunca foi “convidado” para prestar depoimento em Curitiba?
A resposta a esta pergunta passa necessariamente pela compreensão do que está por trás dos interesses dos EUA e de Israel na A.L. e no Brasil:
- Sendo clara, a manutenção da nossa subserviência e colonização, visando a subtração do nosso patrimônio e a permanência do Brasil como mero fornecedor de matéria prima e de mão de obra barata para o imperialismo;
- Mas tem, também, uma direta relação com a garantia da livre circulação do pó.
Essa garantia (da livre circulação do pó) é um importante fator para a manutenção de um círculo que tende a se perpetuar:
- O narcotráfico alimenta os cofres imperialistas, que promovem desestabilização e a ascensão de governos de acordo com seus interesses;
- Estes governos, por sua vez, com o apoio do narcotráfico, tendem a permanecer no poder e, assim, retroalimentam todo o sistema.
Além disso, esse esquema com o narcotráfico, favorece a estruturação de uma economia paralela muito útil a governos cujas economias foram fragilizadas e que se organizam principalmente nos setores menos complexos, como por exemplo o agronegócio.
Portanto, com a diminuição das funções do Estado e a degradação da economia:
- O crime organizado vai substituindo o poder público no seu papel de gerador de oportunidades e empregos;
- Assim como, vai suprindo as lacunas relacionadas aos cuidados com a população e realiza ações de “bem-estar” e de segurança onde o poder público “não quer”, não consegue ou não tem interesse de ir e/ou de realizar.
Dessa forma, as falhas e ausências do governo são camufladas e indicadores econômicos e relativos à violência são melhorados (“pacificação do crime”):
- Com a vantagem de que o crime organizado ainda pode exercer a função de “auxiliar” na repressão de atividades inconvenientes aos olhos do governo;
- Incluindo aí os ativismos político e social.
Enfim, esse é um esquema de fundamental importância na atual engrenagem de configuração política e econômica do Brasil, um Estado Nacional submetido a uma agressiva guerra híbrida, cujo espectro, conforme descrito pelo professor Piero Leirner, precisa ser conhecido e estudado – sob pena de não se conseguir entender a complexidade do que se passa no país, em perspectiva geopolítica e local.