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Dominação imperialista e a emergência de uma nova ordem mundial 

Por Ricardo Guerra

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O conceito de imperialismo, conforme o compreendemos hoje, surgiu relacionado à política (neo)colonizadora praticada no século XIX pelos países europeus na África, na Ásia e na Oceania.

Essa mesma política foi adotada pelos EUA em relação à América Latina e depois foi ampliada para uma perspectiva planetária, após a Segunda Guerra Mundial, quando os EUA assumiram a condição de superpotência mundial.

Como parte da agressão ideológica e material para impor a sua dominação:

  • Os europeus, usaram o pretexto da realização de uma missão civilizadora para levar a virtude e o esclarecimento aos “selvagens africanos”;
  • Enquanto os estadunidenses se auto intitularam o povo eleito por Deus para comandar (subjugar) o continente americano, sendo esse pretexto comando, posteriormente estendido às demais nações – considerando ser essa a “sua missão natural” no planeta (Doutrina do Destino Manifesto e excepcionalismo);
  • Ficando claro, que os interesses por trás do imperialismo revelam, antes de tudo, uma postura racista fundamentada na crença da própria superioridade (moral, espiritual, política e/ou cultural) – usada como pretexto para justificar o ímpeto expansionista e demandar um intenso processo de exploração.

Em síntese, o objetivo intrínseco da política imperialista não difere muito da retórica nazista quanto a ideia de superiodade de classes e raças, e a disposição para se impor e punir oponentes:

  • A super exploração das (neo)colônias na periferia do sistema assegura super lucros para os países capitalistas centrais e garantem um mecanismo de controle da exploração do mercado global;
  • O qual, para criar condições para que uma parte da população no centro do sistema viva em extraordinária condição de vida e outra parte em relativo conforto;
  • Milhões de cidadãos mundo afora, particularmente na América Latina e no Oriente Médio (mas não apenas aí), necessariamente viverão em condições subumanas e indignas de vida.

Em sua versão clássica, o imperialismo caracteriza-se pelo conjunto de políticas organizadas com o objetivo de promover a expansão territorial, econômica e/ou cultural de um país sobre outros, mas, na sua configuração atual, tem como base a formação de gigantescos cartéis que passaram a dominar o mundo a partir do final do século XIX:

  • Uma consequência do processo de concentração da riqueza, próprio do desenvolvimento do capitalismo em sua fase superior;
  • Que se acelera acentuadamente nos momentos de crises.

Na prática, esse processo determinou uma fundamental mudança nas relações econômicas do mercado mundial, ao invés de exportar mercadorias a partir das matrizes os donos do capital transnacional passaram a exportar capitais e se apossar dos países atrasados do ponto de vista do desenvolvimento capitalista:

  • De onde extraem matérias primas de graça;
  • E exploram mão de obra semi escrava.

Portanto, além de garantir novas rotas para escoamento da produção, obter mão de obra barata e mercados para o crescimento da economia no centro do sistema:

  • O objetivo imperialista é eliminar a competição de outros concorrentes (imperialistas ou não);
  • E inviabilizar qualquer possibilidade de desenvolvimento soberano nos países a ele submetidos;
  • Trazendo como consequência a formação de associações internacionais de monopólios capitalistas e o estabelecimento de um “acordo” para a partilha de toda a terra pelas potências capitalistas – seja através da negociação de territórios explorados ou através de conquistas por intermédio de guerras.

Em decorrência disso, hoje, apenas um super exclusivo e concentrado grupo de famílias controla o mundo, e a economia global é comandada por uma espécie de “super entidade” formada por uma rede de poucas corporações transnacionais – com 28 enormes conglomerados controlando as 30 mil maiores super empresas do planeta.

Dessa forma, agora enraizado na ação dessas grandes corporações transnacionais:

  • O imperialismo domina as instituições políticas, ideológicas e repressoras dos Estados, tanto nos países centrais quanto naqueles países considerados periféricos no contexto do mercado global;
  • E depende menos contundentemente de guerras para estabelecer e exercer seu domínio.

Assim, particularmente utilizando mecanismos como lobbies, financiamento de campanhas políticas, rotação de executivos entre o setor privado e o público, e o completo domínio dos meios midiáticos, mas sem abrir mão de mecanismos de controle e opressão social, como as revoluções coloridas, guerras e outras formas de utilização da força bruta contra os interesses dos setores populares:

  • O imperialismo vai determinando a formulação e implementação de políticas, culturas e até mesmo a própria organização das sociedades;
  • Sobrepujando os interesses e as necessidades específicas de cada Estado Nacional que subjugam.

Para justificar esse domínio e legitimar as suas ações, estabelecem um discurso que preconiza como única possibilidade de organização socioeconômica dos países, o neoliberalismo:

  • Um sistema econômico que promete o engodo da prosperidade para todos, difundindo a falsa ideia de que o mercado, livre de qualquer interferência estatal, é a melhor forma de organizar a economia e promover o bem-estar social;
  • Transferindo para os indivíduos a responsabilidade do Estado;
  • E usando o deturpado conceito de meritocracia como justificativa para a aplicação de políticas econômicas e sociais.

No entanto, em contradição a essa narrativa, a história tem demonstrado que o capitalismo, quando deixado à própria sorte, tende a gerar crises econômicas periódicas, desigualdade social crescente e instabilidade política:

  • Sendo a busca incessante por lucros, os custos ambientais e sociais inerentes a sua aplicação, e a insaciável exploração da força de trabalho, os principais elementos que minam a sustentabilidade deste sistema que gera uma absurda, cada vez maior, imoral e inaceitável concentração de renda;
  • Fato que, por si só, já seria suficiente para conduzir a uma reflexão sobre a necessidade de buscar alternativas para a sua superação.

Tudo isso se intensificou após o processo de criação de riqueza financeira fictícia, estabelecido na transição do período de prosperidade econômica gerada sob uma esfera real de produção, após as duas grandes guerras:

  • Quando a financeirização do capitalismo tornou a especulação mais importante que a própria produção real da riqueza;
  • E, atualmente, o mercado mundial movimenta um capital inflado de forma fictícia quinze vezes maior que os recursos da própria produção real.

O imperialismo mostra a face moralmente mais degenerada e insustentável, em termos de plano humano, do capitalismo:

  • Com o Estado, como refém e cúmplice do sistema, sendo usado para agir como uma espécie de Robin hood às avessas em favor da burguesia capitalista internacional;
  • E a submissão dos países periféricos a acordos vantajosos apenas para os donos do capital transnacional e nada benéficos para as economias locais;
  • Principalmente através da imposição de planos econômicos estabelecidos por órgãos vinculados ao imperialismo como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional;
  • E um sistema de endividamento público, nunca auditado, cuja determinação de juros é decidida arbitrariamente de forma unilateral e abusiva, pela ingerência desses organismos na soberania dos países quanto a administração da própria economia – e a implementação do famigerado ideário neoliberal.

Dessa forma, saqueando enormes quantias de recursos públicos para o setor financeiro por eles impulsionados:

  • Sufocam economias e inviabilizam a capacidade dos Estados Nacionais de decidirem com soberania onde, como e quando investir;
  • Comprometendo o futuro, o bem-estar e a qualidade de vida do seu maior patrimônio, o povo para o qual foram designados para representar.

É de conhecimento geral, que nos anos de convivência com o neoliberalismo, a desigualdade cresceu vertiginosamente no planeta, fato que ocorreu de forma ainda mais acentuada nos países da periferia do sistema capitalista, submetidos a uma condição dependente de desenvolvimento baseado quase exclusivamente em investimentos externos:

  • Com os cidadãos sendo usurpados do papel regulador e protetor do Estado, destacadamente no que se refere à investida contra as leis de proteção ao trabalho e a redução de benefícios sociais;
  • E a falta de capacidade dos governos para investir em áreas fundamentais para o desenvolvimento como tecnologia, infraestrutura, segurança alimentar e energética, saúde, educação e moradia.

Toda essa rapinagem é realizada com a conivência de cooptadas classes dominantes locais, que, no auge de seu pensamento colonizado e a mais completa falta de senso de pertencimento:

Diante dessa perspectiva, na busca pela construção e viabilização de uma sociedade mais justa e a libertação da permanente condição de subdesenvolvimento e dependência, que exclui a maioria dos países do padrão tradicional de desenvolvimento capitalista, soberania é a principal questão que deve se apresentar:

  • O caminho a ser trilhado é o enfrentamento;
  • Para o qual, inclusive, o debate sobre a necessidade de ampliação da capacidade de dissuasão militar e a (re)orientação nacionalista no âmbito das nossas FFAA não pode faltar;
  • E movimentos geopolíticos e alinhamentos estratégicos devem ser pensados e repensados.

Não existe um modelo único e inquestionável a ser seguido, mas reconhecer a diversidade de opções para o estabelecimento de outra forma de organização social que não seja orientada pelo individualismo e a exploração individual e coletiva dos povos, é que abrirá espaço para a construção de um modo próprio de desenvolvimento adequado a cada Estado Nacional.

O movimento histórico demonstra que os processos de desenvolvimento não foram os mesmos em toda parte do planeta, e é justamente na diversidade desses processos que é  possível encontrar alternativas para superação do capitalismo predatório, estabelecendo bases para a formação de um movimento de enfrentamento ao imperialismo:

  • Orientado pela ideia de desenvolvimento solidário entre os povos;
  • Pelo compromisso com o coletivo;
  • E a preocupação com a justa distribuição de renda da riqueza coletivamente produzida.

Noutras palavras, cada Estado Nacional precisa tomar as rédeas do próprio destino, conscientizar as pessoas quanto a necessidade de estabelecer um projeto de  desenvolvimento nacional livre de qualquer vinculação com o ideário proposto pelo capitalismo laissez-faire e a falácia do liberalismo econômico, em suas variantes neoliberalismo e ultraliberalismo.

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