A menos de dez dias da eleição para Presidente dos Estados Unidos da América (EUA), as pesquisas de opinião dão rigoroso empate entre Kamala Harris, do Partido Democrático, e Donald Trump, do Partido Republicano.
Porém, não é o povo quem decide a eleição nos EUA. Desde 1787, uma constituição plutocrática impõe que não haja alteração do poder naquele País, que se declara democrático.
Um sistema descentralizado e desigual determina que alguns Estados escolham por delegação que serão os representantes e determinem o vencedor da disputa. Estes delegados são, exemplificando, com os números de votos: Califórnia (54), Texas (40), Flórida (30), Nova Iorque (28), Pensilvânia (19), Illinois (19), Ohio (17), Geórgia (16), Carolina do Norte (16), Michigan (15), Nova Jersey (14), Virgínia (13), Washington (12), Indiana (11), Tennessee (11), Arizona (11), Massachusetts (11), Maryland (10), Colorado (10), Minnesota (10) Missouri (10), Wisconsin (10), Alabama (9), Carolina do Sul (9), Louisiana (8), Oregon (8), Kentucky (8), Oklahoma (7), Connecticut (7), Arkansas (6), Mississipi (6), Utah (6), Nevada (6), Iowa (6), Kansas (6), Nebraska (5), Novo México (5), Maine (4), Rhode Island (4), Montana (4), Idaho (4), Hawaii (4), New Hampshire (4), Virgínia Ocidental (4), Dakota do Norte (3), Alaska (3), Delaware (3), Vermont (3), Wyoming (3) e o Distrito de Columbia (3).
Para que o presidente seja eleito, ele precisa vencer por maioria simples, ou seja, obter os votos de 271 delegados dos 538 existentes.
Na apuração dos votos, 48 dos 50 estados adotam a sistemática “winner takes all” (o vencedor leva tudo). Há somente duas exceções nessa metodologia, que são Nebraska e Maine, com cinco e quatro delegados, como se vê na relação anterior.
A quantidade de delegados depende da participação que cada estado tem no Congresso Nacional que, por sua vez, está diretamente relacionada à densidade populacional.
E, como a firmar a importância da riqueza, os recursos colocados pelos patrocinadores das campanhas em seus candidatos são divulgados como se fossem votos conquistados.
A campanha democrata, que começou com o presidente Joe Biden e seguiu com Kamala, arrecadou mais de um bilhão de dólares até 30 de setembro e já passou de 1,6 bilhão. Trump se aproxima da marca de um bilhão, segundo dados levantados pelo jornal The New York Times.
De certo modo, estes valores indicam também que a senhora Harris, cujo marido, o advogado Doug Emhoff, judeu, atua em escritório internacional, com filial no Brasil, e que tem como clientes, majoritariamente, investidores financeiros, não ser um mero acaso a existência de ligação dos democratas com as finanças neoliberais.
Isso, no entanto, não santifica Trump. Porém a mídia, majoritariamente em mãos de grupos financeiros, procuram dar à Kamala a imagem de pessoa equilibrada, confiante em si e no futuro do País, que não agiria por impulso, pelas pressões do momento. Ao contrário de Trump, agressivo, envolvido em tentativas de morte, com palavreado menos educado, ou seja, desbocado, e provocador.
No entanto, a situação do povo americano está tão ruim que pesquisas realizadas neste final de outubro/2024, preveem o clima de violência aumentando após a eleição.
De acordo com o Departamento de Serviços aos Desabrigados e de Administração de Recursos Humanos da cidade de Nova Iorque, a população de rua cresceu de setembro de 1983 dos 4.963 sem teto, para 60.252, em setembro de 2023.
Desde o fim da II Grande Guerra, as finanças colocaram como principal objetivo a tomada do poder do mundo capitalista, então amplamente triunfante do capital industrial. O período de 1945 a 1975 foi denominado pela Academia de Economia Política da França dos “trinta anos gloriosos”.
Muitos foram os movimentos que levaram, na década de 1980, a vitória das finanças e, desde então, o mundo conheceu a deseducação, o embrutecimento, e a corrupção, as farsas e engodos.
GOLPES E ANTIPATRIOTISMO: BRASIL PROIBIDO DE SER PAÍS DESENVOLVIMENTO
O tiro no peito de Getúlio Vargas retardou, mas não impediu que as forças do atraso, os brasileiros venais e acovardados, usassem de todos os meios para puxar o saco dos EUA, que criaram a Doutrina Monroe (dezembro de 1823) para não ter qualquer país desenvolvido ao sul do Rio Grande ou rio Bravo del Norte, como os chamam os mexicanos. E tiveram no México, na Venezuela, na Colômbia, no Peru, na Argentina, no Chile e no Brasil, verdadeiros inimigos da sua própria Pátria, para se opor aos projetos de desenvolvimento e melhor nível de vida, promovendo golpes de estado, para ajudar os estadunidenses.
Já no governo de Juscelino Kubitschek (JK), ao invés de desenvolver as ferrovias neste país continental, as fechou e as desmobilizou para impulsionar a indústria automobilística estrangeira, construindo rodovias e importando petróleo. Quando um presidente tentou um golpe, que não se sabe para onde levaria o Brasil, pelos seus antecedentes de corrupção, os maus brasileiros tentaram e conseguiram dar o golpe de estado, com apoio da igreja (o irlandês Padre Peyton) e de instituições estadunidenses, para impor a subserviência ao embaixador Lincoln Gordon e ao general Vernon Walters, futuro vice-diretor da Central Intelligence Agency (CIA), que passaram a dirigir o Brasil.
No entanto, ainda existiam os tenentistas, que lutaram ao lado de Vargas, em 1930 e 1932, que promoveram, em 1967, o golpe dentro do golpe, e conseguiram promover o desenvolvimento econômico e social até 1979. Feito que levou a novo golpe, na sucessão do presidente Ernesto Geisel.
É preciso conhecer bem esta década de 1970.
Em 1968, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 9,80%; em 1969, 9,50%; em 1970, 10,40%; em 1971, 11,34%; em 1972, 11,94%; em 1973, 13,97%; em 1974, 8,15%; em 1975, 5,17%; em 1976, 10,26%; em 1977, 4,93%; em 1978, 4,97% e, em 1979, 6,76%.
Em 1973, as finanças aproveitam a criação da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), em setembro de 1960, para lhes atribuir o aumento do preço do barril de petróleo, estável desde 1928, com a repartição do mundo pelas sete maiores empresas de petróleo, conhecido como o Acordo de Achnacarry (Royal Dutch Shell, Exxon, Texaco, Chevron, Mobil, Gulf e British Petroleum).
Houve também uma resposta dos países árabes ao apoio dos EUA a Israel, na guerra do Yom Kippur. No entanto, este aumento simplesmente trouxe para o barril de petróleo a correção do preço pelos 45 anos imobilizado.
Porém para o Brasil, que importava entre 800 mil barris/dia e um milhão b/d, foi um grande problema, principalmente na área dos créditos internacionais, que não só impulsionavam nosso grande desenvolvimento, como garantiam a importação do petróleo.
No campo psicossocial, surgia nos EUA, por volta de 1975, uma nova igreja que fortaleceria as finanças, a neopentecostal, e na mesma época, no Brasil, a Igreja Salão da Fé, que se transformaria em 1977 na Igreja Universal do Reino de Deus, com imensa arrecadação que era enviada para os EUA. Em 1980 aparecia outra neopentecostal, a Igreja Internacional da Graça de Deus, mostrando sua vinculação com as finanças estrangeiras.
Em 1979, com pretexto da Revolução Iraniana, o barril passa a US$ 34, preço da época, que o mercado não suporta. Nos anos 1980, o preço do petróleo recua e avança a desregulação financeira, dando maior força às finanças.
O presidente Geisel havia prosseguido a obra de Getúlio com o desenvolvimento de todas as áreas: tecnológica, com a energia nuclear; cultural, com a FUNARTE; social, com a previdência rural e a ampliação da Central de Medicamentos, criada por Emílio Médici; e política, revogando, em 1978, o Ato Institucional nº 5 e toda legislação de exceção, que não estivesse de acordo com a Constituição.
Além de ter, altaneira e soberanamente, recebido as imposições do poderoso Secretário de Estado dos EUA, Henry Kissinger, dizendo que o reconhecimento da China Continental, do governo do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e o acordo nuclear com a Alemanha, não constavam da agenda da viagem de Kissinger ao Brasil.
Surgiram, então, diversas notícias fantasiosas, degradantes, atingindo Geisel, de fatos que nunca ocorreram, mas a CIA divulgava para criar animosidade da população a um homem fechado, luterano e ético.
E promoveram o golpe da sucessão, ameaçando, com a dívida externa e a não renovação dos empréstimos, transformar o Brasil em país inadimplente, mau pagador e caloteiro. E como para humilhar Geisel, lhe impuseram o filho de Euclides de Figueiredo, que Geisel derrotara em 1932, na revolta, a contra revolução de banqueiros ingleses e latifundiários paulistas, para ser o novo presidente, João Baptista de Figueiredo.
A partir de então, o golpe se transformou no governo neoliberal, das finanças apátridas, que governam o Brasil até hoje.
A ELEIÇÃO ESTADUNIDENSE E O BRASIL ACOVARDADO. NO LUGAR DA QUESTÃO NACIONAL SE ENGANA COM QUESTÕES IDENTITÁRIAS E CLIMÁTICAS
O resultado da eleição nos EUA, no próximo cinco de novembro, pouca alteração deve trazer para a má governança que temos. Continuaremos submissos e sem reconhecer os amigos e parceiros. Para fundador dos BRICS, em 2006 e 2009, só mesmo a ausência à Reunião de Cúpula, em Kazan, impediu a enorme e merecida vaia.
A vitória de Kamala Harris pouca mudança trará ao Brasil, que continuará privatizando o Estado, entregando o petróleo para exportação por empresas estrangeiras e fechando faculdades federais, entregando a formação superior dos brasileiros para instituições estrangeiras, 100% virtuais, com marketing enganador.
O Sistema Único de Saúde (SUS) será transformado em seguros de saúde, aumentando a doença e as epidemias, como o Brasil no começo do século XX, até mesmo, com apoio neopentecostal, para novas campanhas contra as vacinas.
Qualquer tentativa de revolta será fortemente reprimida e qualificada de comunista. As Forças Armadas continuarão sendo doutrinadas na ideologia neoliberal e ficarão inermes e apáticas, entregando a defesa nacional a grupos milicianos.
É o Brasil Colônia com tecnologias do século XXI. E a população empobrecida e imbecilizada, aumentando a quantidade dos moradores de ruas e ocupando as estradas brasileiras.
A vitória de Trump revigorará a direita bolsonarista que, muito provavelmente, tentará um golpe de Estado para eliminar a cúpula do Poder Judiciário e se apossar dos recursos naturais para os vender a quem melhor pagar. Veremos bandeiras de Israel ao lado das bandeiras brasileiras, estas servindo de fantasias, sem que haja qualquer espírito nacionalista exigindo respeito ao símbolo da Pátria.
Para os EUA, a vitória de Trump talvez traga algum desenvolvimento tecnológico e industrial, para se fortalecer na disputa pelo domínio comercial com a China.
Ao contrário da Kamala, que vê com bons olhos a guerra por Taiwan, Trump prefere travar esta guerra nos limites da ação comercial, colocando o carro elétrico de Elon Musk competitivo. E, deste modo, aumentando emprego e salário nos EUA.
Nenhuma revolta será possível pois as comunicações de massa, os sistemas virtuais de convivência, a ausência de ensino nacional e crítico, funcionam como nuvem obnubilando a mente e que ficará cansada antes mesmo de se por a pensar.
A farsa da questão climática será levada a sério, impedindo que o Brasil use seu território para alimentar o povo. Apenas o sistema da monocultura de exportação será permitido, o Movimento dos Sem Terra, como dos Sem Teto, serão perseguidos e criminalizados.
Toda residência de classe média será cercado de câmeras de segurança e outros sistemas de proteção a assaltos. A vida será intranquila, para que bolsonaristas elejam maioria nas Assembleias e Câmaras legislativas.
Enfim, pouca diferença nos trará qualquer eleito no cinco de novembro. E, cada vez mais ignorante e preconceituoso, o Brasil se afunda numa colônia sem a altivez que já teve com Getúlio Vargas, os tenentistas de 1930 e no Governo Geisel.
*Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado.