Henry Kissinger (ex-Secretário de Estado estadunidense) teria dito que o desenvolvimento do Brasil seria uma ameaça para a segurança dos EUA:
- A verdade que está por trás desta hipotética ou real declaração, é que, com a economia dos EUA, cada vez mais, dependente de recursos naturais do exterior;
- Eles (EUA), estruturaram uma política geoestratégica imperialista, bastante agressiva – da Doutrina Monroe até os dias atuais;
- Cujo objetivo é garantir a dominação cultural, política e econômica – e dar continuidade e ampliação ao seu desenvolvimento, alimentado pelo fluxo contínuo de materiais oriundos de países que os tivessem em abundância.
Dessa forma, para garantir a expansão de seu domínio e a manutenção de toda a América Latina e o Brasil, numa posição subalterna:
- Os EUA condicionaram o desenvolvimento desses países à posição de dependência;
- Vinculando a capacidade econômica destes países, quase que exclusivamente a investimentos privados (ver aqui).
Esta estratégia também serviu para assegurar aos EUA a condição de principal credor desses países – e, também, é claro:
- Para abrir mais mercados para exploração econômica e a expansão de suas empresas;
- Cujos empregos mais qualificados e melhores remunerados, ficam em seu próprio país.
Essas empresas, radicadas no Brasil e demais países Latino Americanos, preocupam-se apenas com lucros:
- Não prezam pela qualidade das relações de trabalho locais;
- E não promovem divisas internas – visto que, a maior parte de seus lucros são remetidos para a sede de suas administrações centrais.
O intervencionismo estadunidense sempre contou com o respaldo da elite local para se estabelecer no Brasil, desde o advento da Proclamação da República:
- Mas, entre o primeiro governo Vargas e a ascensão de João Goulart ao poder (com alguns momentos de exceção), essa investida intervencionista foi bastante intensificada;
- Principalmente, em decorrência dos investimentos feitos na expansão da base industrial nacional e na diversificação do comércio exterior, no desenvolvimento de uma política externa independente e na estruturação de uma política interna – preocupada com uma relação mais justa de organização do trabalho e da sociedade.
Então, com o apoio de uma elite nacional, escravagista e patrimonialista (principalmente os cafeicultores paulistas) que perdeu poder, de forma mais contundente, exatamente com a ascensão do Nacional Trabalhismo Varguista:
- O imperialismo foi infiltrando e cooptando lideranças locais, em diversas áreas e instituições brasileiras;
- Organizando e coordenando uma estrutura capaz de desestabilizar e derrubar qualquer governo que abraçasse a causa nacionalista e se posicionasse contrário ao papel de ser exclusivamente fornecedor dos recursos necessários para o seu setor produtivo (e dos seus aliados) – indispensáveis ao seu desenvolvimento.
Dessa forma, de braços dados com as oligarquias apátridas, que incluem representantes do empresariado, componentes do campo jurídico e, inclusive, quadros das nossas Forças Armadas (FFAA) – a principal instituição que deveria agir para defender os interesses e a soberania do nosso país:
- Os EUA conseguiram imprimir sua agenda dentro da doutrina de contenção e reserva estratégica;
- E, assim, exercer o controle sobre o Brasil.
No entanto, para alavancar e consolidar no poder governantes que agissem de forma lesiva aos interesses do próprio país, era necessário aos EUA:
- Contar com aliados, na cúpula de oficiais locais de alta patente;
- Uma gente culturalmente tão cooptada e submetida aos interesses estadunidenses, a ponto de defender para o Brasil – uma relação de completa dependência e subserviência.
Assim, pouco a pouco, o controle do Exército Brasileiro (EB) foi se aproximando das mãos e dos interesses de um grupo (que nesse período ainda não era a maioria) – que reverenciava a dependência e subordinação do Brasil ao “grande irmão do norte”:
- Defendendo, para o Brasil, um projeto de desenvolvimento nacional não soberano – subalterno e submisso;
- Mais ou menos assim, o que é bom para os EUA, é bom para o Brasil.
Este conceito foi formatado sob o “argumento” de garantir uma suposta proteção contra a “ameaça comunista”:
- E foi desenvolvido e introduzido ao longo dos anos, desde o início do século XX;
- Intensificando-se, de forma doutrinária, incisiva e agressiva, a partir do alinhamento do Brasil aos EUA contra os países do eixo, na segunda Guerra mundial;
- Mantendo-se, constante, após o consequente acordo de cooperação militar celebrado entre os dois países – nos tempos da Guerra Fria.
Neste período, marcado por grande cooptação cultural estadunidense no ambiente do nosso EB, e consequentemente de nossas FFAA:
- Ocorreram várias tentativas de golpes, do início da década de 1930 até a década de 1960;
- Culminando com o evento do golpe militar efetivado em 1964.
Todo esse movimento (golpista), sempre aconteceu orientado contra as conquistas das classes populares – originadas pela organização do Estado Nacional e Social da era Vargas:
- E foram estabelecidos no contexto do embate entre duas alas que foram se formando ao longo dos anos e passaram a disputar a hegemonia dentro do Exército;
- As denominadas alas “nacionalista e antinacionalista”.
A disputa entre esses grupos pela supremacia no comando da corporação levou, inclusive, a tentativa de um golpe dentro do golpe – efetuado pela chamada ala antinacionalista, contra o então Presidente Geisel, representante do grupo nacionalista:
- Geisel atuou em defesa do desenvolvimento independente do Brasil na ditadura militar;
- Contrariando os interesses estadunidenses – e da ala que defendia um projeto dependente de desenvolvimento para o Brasil, a ala anti-nacionalista.
Em síntese, podemos dizer que o Exército Brasileiro vem agindo como uma sombra, e praticamente participando como coator do Estado brasileiro, desde o evento da Proclamação da República (ver também aqui):
- Mas, é preciso ter a clareza que é a partir da ascensão e influência da ala mais alinhada aos EUA (anti-nacionalista), que as atividades da corporação passaram a ser percebidas como comprometedoras para a viabilização de um modelo de desenvolvimento autônomo;
- E, consequentemente, determinante para a derrocada da soberania do Brasil sobre seus destinos de forma independente.
Recentemente, com a chegada e permanência do Partido dos Trabalhadores no poder, por quatro mandatos consecutivos, os imperialistas, de braços dados com os entreguistas, vislumbraram a oportunidade para planejar e implementar uma nova investida (ainda mais contundente) do seu ímpeto intervencionista no Brasil, quando o País começou a articular projetos mais ousados do que eles (EUA) poderiam suportar – sendo decisivos:
- Os investimentos da Petrobrás (importante legado varguista), levaram à descoberta do pré-sal e ao reforço da política de conteúdo nacional – incrementando o potencial impulsionamento da indústria local e gerando a perspectiva de grande fluxo de riquezas para o país;
- E a criação da Unasul e do Conselho de Defesa Sul-americano, assim como, a participação na formação do Brics e na criação do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), idealizado com o objetivo de financiar projetos de infraestrutura em países emergentes.
Essa nova investida, ressurgiu sob o mesmo arcabouço anterior, em forma de golpe:
- Mas, um novo tipo de golpe;
- Agora, envolvendo o consórcio jurídico/militar/financeiro/midiático, um quadrunvirato que lá de cima controla todo o jogo, conforme diz Romulus Maya – do Canal de análise política Duplo Expresso.
Um golpe que foi sendo, gradativamente, implementado ao longo de anos, e cujo desenrolar, que ainda está em curso:
- Foi percebido de maneira mais evidenciada, quando foi estabelecida a articulação para o processo de impeachment contra a então Presidente Dilma, em 2015;
- A condenação, sem provas, do ex-Presidente Lula, candidato menos favorável aos interesses imperialistas e com amplas chances de ser eleito, em 2018;
- E a operação lava jato – que desmantelou, completamente, a economia do País.
Esses eventos determinaram, “sob a máscara de um “evento democrático“, a chegada ao poder – de um governo completamente subserviente aos EUA (Bolsonaro/Guedes) :
- Onde até a esquerda amarelou e se rendeu ao golpismo;
- Alegando um “pretenso” respeito à constituição, conforme palavras do Professor Mário Maestri.
Assim, as elites brasileiras, foram, e, pelo menos até o presente momento, ainda estão optando por demonstrar preferência por dar aparências democráticas ao golpe:
- Mas não escondem, que podem recorrer, se assim o quiserem e/ou “precisarem”, à via autoritária que têm na manga;
- Ou melhor, no coturno – conforme palavras do Antropólogo Piero Leirner, em alusão ao livro para o qual ele recomenda a leitura e eu o subscrevo, “carta no coturno, a volta do partido fardado no Brasil”.
Estruturado desta forma, podemos dizer que o pensamento da atual direita e ultradireita no nosso país, é um pensamento majoritariamente forjado no ambiente do Exército Brasileiro e, por derivação, em toda as FFAA, mas disseminado, também, no poder judiciário e em outras instâncias (finanças e mídia) dentro e fora da estrutura do Estado:
- Esse pensamento encontra, referência teórica na obra do General Sérgio Coutinho (que teve seus escritos recentemente reeditados pela Biblioteca do Exército);
- Mas também sofre outras influências, como por exemplo, da doutrinação capitaneada pelo falecido Olavo de Carvalho – a “cereja no bolo” dessa ideologia que domina a direita nacional, antinacionalista e desavergonhadamente entreguista – que toma conta do nosso País.
Essas duas correntes, se estruturaram fortemente apoiadas no pensamento neoconservador estadunidense dos anos 1980 e 1990:
- Movimento que ascendeu no contexto do declínio da antiga URSS, mas foi forjado no ideário da direita estadunidense – da década de 1920 e 1930;
- Cujos pontos principais eram o anticomunismo e os ditos valores tradicionais da civilização ocidental cristã.
Um tipo de conservadorismo que ressurge num movimento que dá ênfase a uma guerra cultural, pois, segundo dizem acreditar, a cultura e a moralidade estadunidense estariam sendo destruídas:
- E o instrumento dessa destruição seriam o “multiculturalismo” e o tão propalado “marxismo cultural” – que Olavo de Carvalho martelou na cabeça de seus seguidores;
- O qual é percebido nas falas e no comportamento de vários representantes do atual movimento da direita e ultradireita brasileira – e parece representar um tipo de fanatismo religioso medieval.
Na concepção desse pessoal, os “propagadores do comunismo e do multiculturalismo (que eles associam ao denominado marxismo cultural), são os responsáveis pela desconstrução da família tradicional e dos valores que eles dizem ser cristãos:
- Representados no discurso do politicamente correto;
E em suas derivações – no identitarismo político (ver também aqui).
Esses propagadores, foram por eles personificados, nos acadêmicos – por isso o ataque que fazem às universidades e a educação como um todo:
- E, também, nos militantes de esquerda – por isso a demonização e a instigação ao ódio contra estes;
- E nos jornalistas – haja vista o ataque que fazem à imprensa.
Portanto, alimentada e alimentando uma falsa luta contra a imaginária ameaça comunista, sob forte doutrinação estadunidense e cooptação cultural daquele país:
- As nossas FFAA, foram formando um errôneo consenso em torno daquilo que consideram como “a grande ameaça” ao país;
- A ideologia do multiculturalismo, os socialistas e comunistas – e os partidos de esquerda.
Dessa forma, trazendo consigo representantes da sociedade civil e demais instituições nacionais, aliaram-se aos nossos algozes (ver aqui, aqui e aqui):
- Em nada se importando com a destruição da Soberania Nacional;
- O desmonte e entrega da nossa indústria e de nossas riquezas – principalmente nosso petróleo, nossas terras e empresas de engenharia e tecnologia;
- E a aniquilação dos direitos trabalhistas e sociais, duramente conquistados pelo nosso povo.
Para esses “ideólogos” da direita e ultradireita nacional, o recente projeto de bem-estar social, parcialmente implementado com a ascensão do PT ao poder, mas, principalmente a herança Varguista:
- Representa, nas suas deformadas mentes, uma forma de sociedade socialista;
- E os movimentos de defesa dos direitos humanos, são ameaças revolucionárias que precisam e precisam ser combatidas.
E, exatamente nesse sentido, enfatizando polêmicas estabelecidas em torno de questões identitárias, embutiram uma pregação, de forma descontextualizada, sobre a ideia de meritocracia, simplesmente para promover uma espécie de culto ao individualismo (ver aqui):
- Induzindo as pessoas a pensarem que o que define o posicionamento político de direita e de esquerda são essas pautas;
- E não o projeto econômico desenvolvimentista, a soberania nacional, a defesa dos direitos sociais e dos trabalhadores – e a fundamental importância da intervenção do Estado para que isso seja concretizado.
O colonialismo cultural ao qual estão submetidos é tanto, que eles se sentem orgulhosos do que estão fazendo: defendendo um projeto de sociedade diametralmente contrário à honra da Pátria – e a sua integridade e de suas instituições.
Sem qualquer empatia com o povo e nenhum sentimento de pertencimento à Nação:
- A identidade e a nacionalidade do país, para essas pessoas, é pautada pela hipocrisia;
- Estabelecida, em nome de valores relacionados a uma caricaturada tradição familiar e religiosa, um falso e seletivo combate à corrupção e o medo de uma ameaça comunista (da mesma maneira que fizeram em 1964);
- E o conceito de nacionalismo que apregoam, está relacionado apenas a questões de comportamento, nada referindo-se a aspectos relativos a soberania e ao desenvolvimento independente do Brasil, e, menos ainda, à valorização, preservação e ampliação dos direitos e qualidade de vida do nosso Povo.
Todo esse processo abriu as portas para a ascensão, “por vias democráticas”, dos chamados “candidatos antissistema”, que são estrategicamente preparados para defender os interesses daqueles os quais representam, o imperialismo ( ver também aqui):
- Cujas agendas e propostas fundamentam-se na proteção dos privilégios de uma minoria, rica, contra os direitos da maioria, pobre;
- Uma adaptação do ideário da extrema direita dos EUA, ao modo tupiniquim, que pariu no (e a partir do) ambiente militar brasileiro, um projeto de nação ultradireitista, rapidamente apoiado por empresários (chinfrins) ávidos por destruir os direitos trabalhistas e pautar uma agenda de saques e destruição do Brasil, em conjunto com outros setores de nossa elite antinacionalista e entreguista (ver aqui, aqui e aqui).
Enfim, em busca da garantia de seus interesses econômicos e a implementação de sua agenda imperialista, os EUA conduziram a formação, no movimento da direita e ultradireita brasileiras, de um pensamento anti-Estado e pseudo nacionalista:
- Aliando-se o que existe de pior em termos de lideranças pseudo religiosas (mercadores da fé), empresariado golpista, que só quer explorar e expropriar os trabalhadores, e o pseudo empresariado que optou especular no capital financeiro, em vez de investir no capital produtivo e na geração de emprego;
- Apropriando-se dos símbolos e valores nacionais, para manipular a opinião pública e “convencer” as pessoas da (falsa) ideia de que são os bastiões da moralidade, da ordem e dos bons costumes (ver aqui) – Autoproclamados defensores da moralidade, que, descaradamente, oferecem o sacrifício do nosso Povo e o acesso privilegiado aos recursos e bens financeiros, públicos e naturais do Brasil, em prol de lucros e privilégios pessoais.
Como já disse o poeta: a burguesia fede, a burguesia (só) quer ficar rica. Enquanto houver burguesia, não vai haver poesia – seja no mundo ou no Brasil!