A vitória do Trump, apenas confirma a crise do modelo de democracia ocidental, já visível há uns 30 anos.
À medida que os Estados nacionais terceirizaram seu poder, para o mercado e, principalmente, para o setor financeiro, ao longo das últimas cinco décadas, os governantes eleitos perderam, cada vez mais, as condições de atender as demandas da população.
A adesão ao neoliberalismo, com a redução das funções dos governos e a desregulamentação dos mercados, tornou os Estados simples administradores do varejo do dia a dia, retirando deles a capacidade de planejar, e de induzir o desenvolvimento, com políticas estruturantes.
A decepção das sociedades ocidentais com a democracia, se transformou em descrença nos partidos e nos políticos, abrindo espaço para o aparecimento de salvadores da pátria, populistas de direita, que se apresentam como sendo contra o “sistema”, ou seja, contra “tudo que está aí”.
A escolha, por parte do candidato populista, de um ou mais inimigos internos e/ou externos, seja o comunismo internacional, seja a China ou sejam os imigrantes serve para os eleitores identificarem, ainda que erroneamente, a causa de seus males.
A vitória de Trump que não é, em sua essência, diferente da do Milei, do Oban, do Bolsonaro, do Erdogan e tantos outros – mostra que a democracia tem que ser repensada, se quisermos que sobreviva.
O neoliberalismo não é a única explicação para o fortalecimento da direita liberal e da extrema direita, ainda que seu papel, em demonizar o Estado e, em financeirizar a economia, tenha sido fundamental. O nascimento, ou renascimento, das igrejas evangélicas pregando que o paraíso pode ser aqui, e agora, bastando as pessoas se esforçarem suficientemente, além de, naturalmente, cada um pagar seu dízimo, ajudou muito o credo do mainstream econômico.
Este casamento de interesses fortaleceu o individualismo e a meritocracia, inerentes à doutrina neoliberal, transformando o empreendedorismo na porta de acesso ao paraíso terreno.
Neste cenário o Estado é visto, por esta parcela da população, como uma superestrutura arcaica, que atrapalha e tolhe a liberdade de empreender, além de ser ineficiente e intrinsecamente corrupto.
Isto explica em boa parte o sucesso de pessoas que se apresentam como outsiders e contra o sistema, embora façam parte dele.
Se a esquerda quiser retomar seu protagonismo, terá que se reinventar – apresentar novas soluções para os novos problemas!
Enquanto isso, os Estados Unidos irão perceber, em breve, que a tentativa de segurar o desenvolvimento da China, via bloqueios comerciais e tecnológicos não vai funcionar. A questão é: os EUA irão assistir passivamente a perda da liderança econômica e tecnológica ou irão usar a “superioridade militar”(?) que ainda (?) têm ou pensam (?) que têm?